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Tragédia no
Vôo 402

Caixa-preta revela momentos de horror


Polícia suspeita de falha mecânica. Investigação da Aeronáutica pode estar pronta em 60 dias

Brasil Online 2/11/96 18h11
De São Paulo

A caixa-preta com as conversas da cabine do vôo 402 da TAM indica que os momentos anteriores ao desastre foram de horror. Mostram o desespero do piloto ao saber que ia morrer. 'Os sons estavam com muitos ruídos, mas nós, que somos pilotos, conseguimos compreender algumas coisas que o comandante do vôo falou. É uma coisa horrível, pois ele sabe que vai morrer e não quer morrer', disse o tenente-coronel Flávio Lucio Sganzerla, do 4º Comando Aérea Regional. Ele não revelou o teor das frases.

O F-100 da TAM que caiu na quinta passada em cima de casas no Jabaquara (zona sul de São Paulo), matando 102 pessoas, possuía duas caixas-pretas. Elas, as turbinas e os flaps (parte das asas) são as partes mais importantes da aeronave para determinar a causa da queda.

A caixa com os diálogos entres os tripulantes foi aberta na noite de sexta-feira, mas as gravações estavam quase inaudíveis. Luiz Eduardo Falco, 36, vice-presidente da TAM, que também ouviu a gravação, afirma que José Antônio Moreno 'foi um grande comandante até o chão'.

Na noite de sexta-feira, o programa Globo Repórter, da Rede Globo, divulgou parte do conteúdo da caixa-preta, com a gravação dos últimos contatos da tripulação com a torre. Segundo o programa, o piloto José Antônio Moreno avisou à torre que o avião estava em pane e disse: "Vou retornar". Segundos depois, o piloto avisou: "Estou livrando a escola".

Investigações

A caixa-preta com as conversas da cabine é uma espécie de gravador cuja fita roda sem fim. Ela grava sempre os últimos 30 minutos de diálogos na cabine. Essa caixa-preta e uma outra, a Fly Data Record, que grava 76 informações técnicas do vôo, foram enviadas aos Estados Unidos, onde serão examinadas pelo National Transportation Saved Board, órgão que cuida da segurança de todos os meios de transporte nos Estados Unidos. A decodificação das duas caixas deve estar pronta até terça-feira.

A comissão da Aeronáutica que investiga o acidente praticamente descarta a possibilidade de uma falha provocada por aparelho celular. 'Esse acidente não foi parte eletrônica, foi de motor', disse Sganzerla. Os dados técnicos recolhidos das caixas-pretas serão colocados em um simulador de vôo que vai repetir as condições do vôo 402 para verificar se com aqueles indicadores (velocidade, potência, altitude, inclinação) provocaria a queda.

A suposta falha mecânica que causou a tragédia no vôo 402 da TAM vai virar objeto de estudo de todos os pilotos de Fokker-100 dentro de três meses. A informação é do comandante da TAM Mário Roberto Gnecco, 39, piloto comercial com 17 mil horas de vôo. Dentro de três meses, afirmou, a FAB (Força Aérea Brasileira) deverá emitir um vasto relatório/auditoria sobre as causas do acidente no vôo 402.

Inquérito policial

O delegado Romeu Tuma Júnior, responsável pelo inquérito que apura o acidente, disse nesta sexta-feira (1) que as investigações da polícia paulista estão concentradas na hipótese de que o Fokker 100 da TAM caiu por causa de uma falha mecânica.

A concha de uma das turbinas - que funciona como freio aerodinâmico na hora da aterrisagem - teria sido acionada indevidamente e provocado um processo de reversão num dos motores, forçando um movimento oposto à força que a aeronave necessitaria para ganhar altura na hora da decolagem. "Confirmando a causa vamos ver por que ela aconteceu", afirmou o delegado.

O presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Luiz Fernando Collares, afirmou nesta sexta que o piloto do Fokker 100 da TAM não teria condições de equilibrar o avião e voltar à pista, se tiver havido problema com a concha da turbina direita. "A baixa altura, um imprevisto como esse é fatal", disse Collares, que é comandante de MD-11 da Varig, mas já voou em equipamentos semelhantes ao que caiu depois de decolar de Congonhas.

Tuma Júnior acha que a probabilidade do acidente ter sido provocado por um atentado ou sabotagem é muito remota. Mas, embora insista que nenhuma hipótese será descartada, diz que a polícia vai ouvir mecânicos e técnicos da TAM para saber como funcionava o sistema de manutenção da aeronave.

A polícia terá 30 dias para concluir o inquérito, que serão acompanhadas por dois promotores designados nesta sexta-feira pelo procurador de Justiça, Luiz Antônio Marrey.

As investigações sobre a causa do acidente poderão ser concluídas antes do prazo de três meses previsto pelo Ministério da Aeronáutica. Integrantes do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) acreditam que em 60 dias os peritos da Aeronáutica em São Paulo já terão encerrado suas investigações.

Polícia localiza
dono da cocaína

A polícia informou que o dono dos quatro quilos de cocaína encontrados junto às ferragens do avião da TAM era o ex-oficial de justiça Mauro Rodrigues Mattos, de 36 anos, que já havia cumprido pena na Casa de Detenção em São Paulo por tráfico de drogas e morava em Mirassol D‘Oeste, próximo a Cuiabá, no Mato Grosso - uma das rotas cobertas pela TAM. Tuma disse que Mattos era vigiado por policiais paulistas. Mattos embarcou no Aeroporto de Cuiabá, em Várzea Grande.

A identificação
das vítimas

O Instituto Médico Legal de São Paulo divulgou na tarde deste sábado mais uma lista com cinco nomes de vítimas do acidente com o Fokker 100 da TAM que foram identificadas pelos parentes, elevando para 68 - de um total de 102 - o número de corpos reconhecidos. A TAM está providenciando o traslado dos corpos e das famílias para o local do enterro.

O legista Daniel Romero Muñoz esclareceu que os peritos encerraram o processo de identificação por métodos mais fáceis e que a partir de agora será feita uma verdadeira garimpagem.

Os familiares que ainda transitam pelo local tiveram de preencher fichas com detalhes sobre as características físicas para tentar auxiliar a equipe de peritos a tentar a identificação. Muitos familiares tiveram de recorrer a fichas médicas e rebuscar chapas de raio x para ajudar no confronto de dados junto aos corpos.

Pelo menos 40 vítimas que ficaram carbonizadas com as explosões são consideradas de difícil identificação. Apesar das dificuldades no trabalho de identificação dos cadáveres, o médico-legista Daniel Romero Muñoz acha que até domingo vai ser possível concluir todo o trabalho, mesmo que para isso tenha de recorrer ao exame de DNA, o código particular de cada ser humano. Para se precaver, os peritos retiraram gotas de sangue de todos os corpos, mas a identificação poderá ser feita também através de códigos genéticos existentes no cabelo das vítimas.

Do total de 102 corpos que deram entrada no IML, na quinta-feira, 70 foram liberados para sepultamento. Até as 19h, os legistas deverão divulgar mais uma lista. No entanto, o trabalho de reconhecimento das trinta e duas vítimas restantes só deverá ser encerrado no domingo.

Indenizações
às vítimas

A TAM afirmou nesta sexta-feira que vai indenizar todas as vítimas que estavam a bordo do Fokker 100 sem que seja necessário qualquer iniciativa legal por parte das famílias. As demais vítimas, que foram mortas fora do avião, deverão entrar em contato com a TAM para que o caso seja encaminhado à Unibanco Seguros. A empresa está disposta a fazer acordo com as pessoas que foram prejudicadas e não estavam na aeronave.

Casas são
liberadas

Mapa Até o fim da tarde deste sábado, o Corpo de Bombeiros de São Paulo deve concluir a remoção dos escombros da tragédia com o avião da TAM, na Rua Luiz Orsini de Castro, no bairro de Jabaquara. O capitão-bombeiro Carlos Nóia, que comanda a operação, considera remota a possibilidade de se encontrar outros corpos entre os escombros.

Neste sábado, muitos moradores que perderam suas casas voltaram ao local do acidente tentando recuperar alguns bens materiais que não foram destruídos.

Com informações de Agência Folha e AJB


Informações na Internet

  • TAM - Site oficial da empresa