Descrição de chapéu Primeira vez

Papai Noel aparece na Folha pela 1ª vez cinco anos após campanha da Coca-Cola

Em 1931, Brasil passava por industrialização e urbanização, e o bom velhinho virou personagem das cidades

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São Paulo

Foi um ano difícil para os brasileiros, com pandemia, mortes, distância de familiares, desemprego, redução salarial. Nem as festas de Natal e Ano Novo poderão servir de escape, já que há um novo avanço de casos e mortes pelo coronavírus, e especialistas recomendam que não ocorram reuniões com diferentes núcleos familiares.

Para tentar descontrair um pouco neste momento natalino, a seção Primeira Vez foi atrás da estreia de Papai Noel nas páginas da Folha. Mas antes de mostrar essa aparição, é preciso um pouco de contexto para entender a origem do bom velhinho.

No século 4, um bispo católico da cidade turca de Mira viveu cercado de lendas. Nicolau teria operado milagres como a ressurreição de crianças e alimentado a população faminta com a multiplicação de cereais.

São Nicolau, como ficou conhecido, ainda aproveitava, segundo as crenças, seu aniversário para distribuir presentes para o público infantil, colocando sacos com moedas de ouro na chaminé das casas.

Daí sua popularidade em toda a Europa como protetor dos marinheiros e comerciantes, santo casamenteiro e, principalmente, amigo das crianças.

Na Alemanha, Nicolau virou símbolo natalino. A fama chegou até a cidade portuária de Amsterdã, na Holanda, onde São Nicolau (ou Saint Nicholas) era Sinterklass na língua local.

Esses holandeses levariam no século 17 o nome e a tradição para outro continente, em Nova Amsterdã, capital da colônia da Nova Holanda, estabelecida na região do vale do rio Hudson, nos Estados Unidos. Quando o local vira Nova York, surge o nome mais conhecido, Santa Claus.

No século 19, aparece o primeiro esboço da versão atual do Papai Noel. A origem está no poema “A Visit from St. Nicholas” (“Antes da véspera de Natal”), escrito pelo professor de teologia americano Clement Clark Moore para os filhos em 1822. Ele o descreve como “um senhor feliz, vestido em roupas de pele e trazendo um saco cheio de brinquedos”.

A imagem que se tem hoje do Papai Noel começa a ganhar forma mais de 50 anos depois, em 1876, a partir da descrição de Moore. Foi obra do cartunista americano Thomas Nast, que retratou São Nicolau na capa da revista Harper's Weekly.

A versão atual só se popularizaria a partir de 1931 quando o publicitário Haddon Sundblom criou uma campanha para a Coca-Cola inspirada em Nast e Moore.

Ali o velhinho aparecia como nos desenhos de Nast, só que com a roupa vermelha --a empresa diz que a cor já era usada antes, mas dificilmente ganharia a força que tem hoje sem o marketing.

A intenção era apresentar um Papai Noel saudável, que fosse ao mesmo tempo realista e simbólico. Ou seja, o próprio Noel, e não um homem fantasiado.

O Papai Noel então “viralizou” e nunca mais saiu do imaginário da sociedade. Em 25 de dezembro de 1936, ele apareceu na Folha pela primeira vez –apenas no 15º ano do jornal, mas só cinco anos depois da campanha publicitária do refrigerante.

A estreia foi em uma nota com o título “FESTAS DO NATAL” (veja abaixo). “A tradicional data da Christandade será condignamente commemorada em S. Paulo, onde várias festividades estão anunciadas”, dizia o texto.

Reprodução da Folha de 25 de dezembro de 1936
Reprodução da Folha de 25 de dezembro de 1936 - Reprodução

Depois de falar sobre a importância da data para os cristãos e de como a “physionomia da cidade é de jubilo e enthusiasmo”, o texto introduz o personagem.

“E Papai Noel, o bom velhinho amigo das crianças, com o seu bojudo fardo de brinquedos e mimos preciosos, apparece em toda parte, como a expressão maxima da bondade, semeando alegrias, distribuindo deliciosas surprezas no vasto mundo infantil”. A descrição até lembra a de Nicolau original.

Em meados dos anos 1930, o Brasil de Getúlio Vargas se industrializava e se urbanizava em ritmo crescente. A cidade de São Paulo representava esse momento como nenhuma outra e deixava de ser um território provinciano para virar uma metrópole vibrante.

Já um produto comercial, o Papai Noel calhou de ser um personagem da capital paulista sempre aos finais de ano. Menos em 2020, quando até os bons velhinhos estão em home office por causa da pandemia de coronavírus.

Que em 2021 possamos ouvir nas ruas os “ho, ho, ho, Feliz Natal!” novamente.

Atenção: esta seção leva em conta a primeira vez que a palavra é identificada pelo sistema de buscas do acervo digital da Folha.

Este texto faz parte da série Primeira Vez, que mostra quando temas e personagens estrearam nas páginas do jornal.

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