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'Não podemos tolerar meninas trans de 14 anos se prostituindo', diz Erika Hilton

Vereadora de São Paulo adere ao movimento #AgoraVcSabe em defesa de jovens trans e travestis que são duplamente vítimas de exploração sexual no país

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Ivy Farias
São Paulo

Erika Hilton tinha 14 anos quando foi expulsa de casa e viu-se obrigada a se prostituir. "A sociedade não pode achar isso natural", diz a vereadora (PSOL-SP).

Hoje com 29 anos, pedagoga e ativista, ela diz que o abuso e a exploração sexual contra crianças e adolescentes tem difícil resolução pela ausência de dados. Isso seria um entrave para a criação de políticas de proteção para transexuais e travestis, inclusive crianças e adolescentes.

Erika Hilton é a primeira vereadora trans eleita em São Paulo; ela diz que falta de dados dificultam políticas públicas - Alexandre Meneghini/Reuters

"O que sei é da minha própria experiência e de grupos confiáveis, mas não oficiais. Temos um verdadeiro apagão de dados que não nos permitem ter real dimensão do que precisa ser feito", afirma.

Na última semana, uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os primeiros dados sobre orientação sexual da população brasileira. Ela indica que 95% da população se declara heterossexual, 1,13% homossexual e 0,69% bissexual.

Segundo especialistas, o dado é frágil porque ignora a sexualidade de pessoas transgênero, que podem se declarar heterossexuais ou homossexuais, entre outros.

Ela concedeu entrevista à Folha ao aderir ao levante virtual #AgoraVcSabe, criado pelo Instituto Liberta, que rompe o silêncio de vítimas de violência sexual.

Qual o papel do poder público no atendimento e na proteção de crianças e adolescentes trans e travestis?
Crianças e adolescentes trans e travestis estão mais expostas a este tipo de violência e de exploração sexual. Fui expulsa de casa muito nova, aos 14 anos. Na rua, quanto mais nova, mais atraente você é para o mercado sexual. Existe uma desumanização do corpo, uma hiperssexualização.

Há uma leitura equivocada da sociedade de que se a criança não se identifica com seu corpo, ela é sexualizada. Não é: ela é só uma criança.

Se na infância e na adolescência as violências e abusos sexuais contra nós são justificáveis pela nossa identidade de gênero, conseguimos encontrar a raiz do problema do Brasil ser campeão de assassinatos de pessoas trans. O poder público deveria ser o primeiro a nos acolher.

A gente percebe que crianças e adolescentes trans e travestis são expulsas de casa por volta de 12, 13 anos, que é quando os conflitos de gênero começam a aparecer. Elas vão para a rua e são acolhidas pela prostituição

Erika Hilton

vereadora de São Paulo

A senhora fala da sua própria experiência de ter sido expulsa de casa e vivido na pele.
A gente percebe que crianças e adolescentes trans e travestis são expulsas de casa por volta de 12, 13 anos, que é quando os conflitos de gênero começam a aparecer.

Elas vão para a rua e são acolhidas pela prostituição. Aqui é preciso lembrar que mais de 90% das pessoas trans e travestis vivem da prostituição no Brasil.

E quando falo de pedofilia é porque o perfil é de homens mais velhos, pais de família, que buscam estas adolescentes nas ruas. Eu já encontrei meninas com menos de 13 anos na prostituição e que são o ápice deste mercado.

A senhora traz dados como o da ONG Transgender Europe, que mostra que o Brasil mata mais trans no mundo há 12 anos, e o da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), que aponta que, em 2021, 140 pessoas trans foram assassinadas.
São dados que refletem a realidade, mas não são oficiais. São confiáveis, mas não oficiais. Com isso, não temos amparo estatístico para formular políticas públicas.

E a produção de dados é fundamental para termos um diagnóstico fidedigno e abrangente. Com este apagão de informações conseguiríamos entender outros cenários que existem. O das crianças e dos adolescentes seriam um.

Qual sua perspectiva sobre a sociedade civil organizada em levantes como o #AgoraVcSabe?
A sociedade tem um papel imprescindível no enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes. Não podemos seguir tapando os olhos e a sociedade tem que se indignar ao ver uma menina de 14 anos se prostituindo na esquina.

Sempre digo que roubam nossa dignidade e nossa infância. Esta campanha é importante porque traz para a sociedade o dever de cobrar o poder público e a obrigação de não tolerarmos este tipo de violência.

O problema do abuso, da violência e da exploração sexual é de todos nós. Acima de tudo, é fundamental termos informação e a campanha #AgoraVcSabe nos informa. E informação é poder.

COMO GRAVAR SEU VÍDEO PARA O LEVANTE VIRTUAL

  • Acesse agoravocesabe.com.br pelo celular ou desktop

  • Clique em ‘Já fui vítima’ para conhecer tipos de violências

  • Clique em ‘Gravar’, declare ser maior de 18 anos e aceite o termo de uso de imagem

  • Posicione seu rosto no círculo e leia o texto que aparece na tela

  • Refaça o vídeo se desejar Clique em ‘Enviar’

  • Deixe seu e-mail se quiser receber uma notificação sobre quando seu rosto irá aparecer na passeata virtual

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