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Casal faz da pandemia motor para alavancar plataforma de doação

Murilo Farah e Tatiana Leite, fundadores da Benfeitoria, foram um dos finalistas do Prêmio Empreendedor Social 2022 na categoria Destaques na Pandemia

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Tatiana Leite Murilo Farah, fundadores da Benfeitoria, plataforma que desenvolveu 7.000 projetos na pandemia

Tatiana Leite Murilo Farah, fundadores da Benfeitoria, plataforma que desenvolveu 7.000 projetos de impacto social na pandemia Renato Stockler/Folhapress

Florianópolis

Episódios de violência cada vez mais próximos no Rio de Janeiro levaram Tatiana Leite, 40, e Murilo Farah, 42, a fazer uma microrrevolução pessoal. O casal de administradores se mudou com os dois filhos pequenos para Florianópolis em 2019.

E foi do Sul que durante a pandemia eles promoveram também, agora como indutores, microrrevoluções Brasil afora, como fundadores da Benfeitoria, um negócio social que trabalha com financiamento coletivo para projetos sociais de impacto desde 2011.

"Vivemos um tsunami na pandemia. Primeiro, o mar encolheu, e os projetos na nossa plataforma pararam de captar recursos. Zero", diz Murilo. Até ali eram 400 projetos. E tanta apreensão, na sequência, deu lugar a uma enxurrada.

Tatiana Leite e Murilo Farah, cofundadores da Benfeitoria, ajudaram a alavancar projetos durante a pandemia - Renato Stockler/Folhapress

Com a onda de solidariedade no auge da crise sanitária, social e econômica da Covid, de repente, a Benfeitoria abraçou 7.000 projetos, um crescimento de 1.650%. "Era o país todo pedindo ajuda para tudo quanto é causa, emergência e ação. A gente se reinventou para dar conta de tudo", diz Tati.

O resultado da avalanche de campanhas de crowdfunding e vaquinhas virtuais para todo tipo de socorro emergencial foi a captação de R$ 205 milhões.

Assim o casal de administradores ajudou a levar 20 usinas de oxigênio e 81 milhões de EPIs a mais de 1.790 hospitais, apoiou 430 projetos sociais nas periferias e encampou diferentes ações culturais, como a que promoveu o restauro da Escadaria Selarón, no Rio de Janeiro, e a do Teatro Oficina, em São Paulo. Graças ao engajamento de 500 mil doadores pela plataforma online.

Nesse turbilhão, que envolveu mudar tudo no trabalho, o casal de benfeitores viu a rotina virar de pernas para o ar. "A gente trabalhava até 14 horas por dia, dormia 4 horas, e ficava o resto para cuidar de casa e crianças", diz Tati.

Ela e Murilo sofreram, inclusive, um burnout, assim como os aparelhos de limpeza. "Quebrei três Mops fazendo faxina. Eu cronometrava: 14 minutos para limpar o chão, 12 para comer, 8 para dar conta da louça. Foi uma loucura", relata ele.

Isso porque, além do home office, ainda tinham Téo, 8, e Lui, 5, classificados pelos pais como "ciclones de bolso", "pintando paredes e quebrando tudo na casa", ao mesmo tempo em que milhares de projetos e grupos do WhatsApp clamavam pelos empreendedores.

Foi a primeira vez, desde que viraram seus próprios patrões, que a dupla não pôde fazer o "balé dos gansos". "A gente fala assim porque os gansos se revezam na condução do grupo. Voam em V e, quando o que está na frente cansa, outro assume seu lugar", diz ela.

Eles adotaram a tática desde o marketing da Coca-Cola, onde se conheceram e atuaram por oito anos. Foi lá que Tati, após se graduar no Ibmec, e Murilo, na UFRJ, aprenderam a montar campanhas e a comunicar melhor. Mas sentiram que viviam numa bolha.

E a ficha caiu numa manhã de sábado, numa roda, em imersão na Gaia Education, que os conectou com lembranças da infância, quando Tati montava na rua em Humaitá, onde morava no Rio, o bazar Goonie, em que vendia roupas e acessórios de bonecas para arrecadar dinheiro. Enquanto Murilo mobilizava a galera na Gávea para montar um bandeirão na Copa de 1994.

A maior parte dos crowdfundings é de pequenos projetos. Tanto aqui quanto lá fora, é de pequenas iniciativas, microrrevoluções que fazem a diferença na vida das pessoas

Tatiana Leite

sobre a experiência com financiamentos coletivos

Estavam ali as chaves da Benfeitoria, o arrecadar fundos, doações, e o unir pessoas e apoiadores em projetos.

Assim, o primeiro movimento do balé dos gansos ocorreu para criar a Benfeitoria, quando Tati, que sonhava em ser presidente da Coca-Cola, deixou a empresa para elaborar o negócio. "Combinamos de eu sair primeiro. Fizemos lista com 50 possíveis negócios. Tinha até funerária e crematório Alegria. E outra coisa que batizamos de Miraboratório", diz.

Como o nome sugere, era um laboratório de ideias mirabolantes. De uma dessas elucubrações, surgiu a Benfeitoria, para trabalhar com crowdfunding, conceito pouco falado na época, mas que Tati tinha lido na revista Wired que era a "nova revolução industrial".

A plataforma de financiamento coletivo, diferenciada por ser gratuita, foi aberta então com cinco projetos. Só que, tanto quanto fomentar a cultura de doação e unir pessoas para gerar transformação, a Benfeitoria encanta.

ESCOLHA DO LEITOR

Um exemplo é o da cerveja Doméstica, da primeira leva de projetos. Um dos responsáveis por ela foi João Bustamante, que, dois anos depois, foi trabalhar na Benfeitoria.

Outro é a fotógrafa Michele Moraes, que até mudou sua forma de doar. "Eu trabalhei lá. É mais que uma plataforma. Na minha casa hoje todo mundo é doador de projeto social."

Ampliar a cultura de doação, aliás, é necessário, pois o Brasil é só o 54º entre 119 países na lista mundial da solidariedade. Para isso, o casal tenta tornar o apoio a projetos algo sexy. "O financiamento é só coadjuvante", diz Murilo.

À frente da Benfeitoria, ele e Tati descobriram até nova religião, ligada à Nossa Senhora do Fluxo, porque "tinha mês que a gente não sabia como fecharia as contas e de última hora aparecia algo para salvar o caixa". Até o modelo ganhar escala, o sustento veio de projetos autorais do casal, como Rio+ (evento colaborativo de prototipação urbana) e Reboot (novas economias).

Eles ainda promoveram o segundo e o terceiro atos do balé dos gansos quando Tati, aspirante de vegana que ama McDonald’s e TEDs Talks, e Murilo, apaixonado por sushi e filmes de ação, viraram pais. "Ao ter o Lui, fiquei meses fora", diz ela. Quando voltou, ele foi respirar longe da Benfeitoria.

Dessa oxigenação veio a ideia dos matchfundings, o primeiro com a Natura, em 2015. Esse modelo pautou projetos com o BNDES, como o Salvando Vidas, que destinou R$ 140,7 milhões em apoio a Santas Casas e ao SUS, e com a Fundação Tide Setubal, com o Enfrente, que destinou R$ 11 milhões para ações para projetos sociais nas periferias no auge da crise sanitária e econômica. Nessas campanhas, a cada R$ 1 doado, o parceiro dava mais R$ 1, R$ 2.

Isso fez com que a Benfeitoria chegasse a 33 milhões de pessoas do jeito que gosta, com ações compartilhadas.

"Nascemos para fomentar uma cultura mais humana e empreendedora, pois a maior parte dos crowdfundings é de pequenas iniciativas, microrrevoluções que fazem a diferença na vida das pessoas." Assim como a Benfeitoria faz.

Projeto em números

- R$ 205 milhões em recursos mobilizados
- 33 milhões de pessoas impactadas
- 7.000 projetos financiados na pandemia
- 500 mil doadores já participaram das campanhas da Benfeitoria desde 2011
- 430 projetos de periferias apoiados na pandemia
- RS 5 foi a menor comissão de um projeto paga à Benfeitoria

Conheça os demais finalistas e vencedores do Prêmio Empreendedor Social 2022 na plataforma Social+.

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