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28/03/2006 - 09h00

Lula exige manutenção da ortodoxia

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KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo, em Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu ontem o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, e escolheu o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega, para substituí-lo.

Sondado na semana passada pelo presidente, que pediu segredo, Mantega recebeu determinação de Lula para manter o rigor fiscal e monetário do antecessor e afastar eventuais temores do mercado financeiro de alterações desse rumo. Na prática, Lula virará o fiador direto da política econômica, papel desempenhado por Palocci desde a campanha de 2002.

O ministro caiu porque tentou, até anteontem, quando se reuniu com Lula, sustentar perante o presidente que não tinha tido nenhuma participação no episódio. Admitiu apenas que um assessor do ministério pudesse ter vazado o sigilo para a imprensa. O nome dele, como a Folha revelou na semana passada, é Marcelo Netto.

O presidente, porém, já tinha a informação de que o ministro recebera do então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, os dados sigilosos. Disse, então, que não era mais possível que continuasse e acertou a saída para o dia seguinte.

Lula se disse contrariado com Palocci, segundo relato de auxiliares que estiveram com ele ontem à tarde. De tarde, Mattoso confirmou à PF que entregara os dados em mãos a Palocci.

Na manhã de ontem, em reunião no Planalto enquanto Lula estava em Curitiba, Palocci ainda fez uma última pressão sobre o presidente da Caixa. Queria que Mattoso o isentasse do crime, mas ele se recusou. Disse que contaria a verdade em depoimento à PF.

Palocci, então, enviou carta a Lula pedindo afastamento do cargo. O presidente, informado do que dissera Mattoso na PF, disse que a solução seria a demissão. A carta de afastamento foi divulgada após o fechamento do mercado financeiro. Uma nova carta, na qual o ministro explicaria as razões para ter enviado a primeira, ainda não havia chegado ao gabinete de Lula até as 19h de ontem. O presidente, então, pediu que o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), anunciasse a saída do ministro.

Lula pediu a Mantega que fosse do Rio a Brasília. Chegou a dizer que deveria ser mandado um avião do governo caso Mantega tivesse dificuldade.
Antigo assessor de Lula, Mantega foi escolhido pela intimidade com o presidente. Mercadante tinha preferência de parte da cúpula do governo e do PT, mas Lula avaliou que enfrenta guerra pesada no Senado (CPI dos Bingos) e que seria conveniente a permanência do líder do governo na Casa. O presidente também achou que Mercadante foi ansioso demais ao declarar que se considerava "pronto" para assumir.

Segundo expressão ouvida pela Folha no Planalto, "Lula será o ministro da Fazenda" a partir de agora. Ou seja, auxiliar antigo e que respeita muito o presidente, Mantega seguirá a determinação para manter a política econômica.

Pesou contra Mercadante a avaliação de que o PT terá complicações para lançar a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy ao governo paulista. Ela indicou Mattoso e Ricardo Schumman, assessor especial do presidente da Caixa, para os cargos. Os dois foram os responsáveis pela violação.

O caseiro disse que Palocci freqüentou casa alugada em Brasília por ex-auxiliares para fazer lobby e dar festas com garotas de programa. Palocci disse à CPI dos Bingos que nunca foi à casa.

Na opinião de Lula e de seus principais auxiliares, ele estaria sendo visto como um presidente que protege um ministro contra um cidadão de origem humilde à custa de abusos das instituições do Estado. Essa imagem foi considerada mortal do ponto de vista eleitoral por auxiliares de Lula.

"Estado de direito"

Falando ontem em nome do Planalto, Mercadante disse que tanto Mattoso quanto Palocci não respeitaram o "Estado de Direito" no caso da violação. Segundo o senador, ambos reconheceram a "gravidade do erro" ao pedirem demissão de seus cargos.

"O Estado de Direito e os direitos da cidadania estão acima da circunstâncias e dos indivíduos. E na medida que o Estado de Direito não foi respeitado nesse episódio do sigilo bancário, o presidente imediatamente muda a sua equipe, com o afastamento do presidente da Caixa Econômica Federal e do ministro da Fazenda e com a nomeação do novo ministro da Fazenda Guido Mantega", declarou.

A seguir, Mercadante disse que Palocci e Mattoso tiveram a "grandeza" de pedir demissão. "Os que estavam envolvidos nesse episódio tiveram a grandeza também de reconhecer a gravidade do erro e pedir o afastamento."

O senador, em entrevista no Planalto, comentou a situação de Palocci. "O ministro, ao encaminhar o seu pedido de demissão, demonstra espírito público e reconhecimento pelo erro que foi cometido. [...] O afastamento dos responsáveis é o reconhecimento do erro", afirmou.

Mercadante disse que Lula saberá atravessar as dificuldades. "O presidente é um homem muito vivido, experimentado e sabe atravessar as dificuldades."

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