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06/04/2007
-
09h43
da Folha Online
Uma conferência internacional de aquecimento global aprovou nesta sexta-feira uma relatório que alerta contra ameaças diretas ao planeta Terra e à sobrevivência da humanidade a não ser que o mundo se adapte às mudanças climáticas e aja para interrompê-las. As ameaças vão do aumento vertiginoso da fome no mundo à extinção de até 30% das espécies do planeta.
De acordo com relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC, na siga em inglês --considerado a maior liderança mundial em mudança climática), até 30% das espécies do planeta enfrentam um risco crescente de desaparecerem se a temperatura global aumentar 2ºC acima da média dos anos 1980 e 1990.
Para este século, a previsão do relatório é que as temperaturas aumentarão entre 1,8ºC e 4ºC.
Áreas que atualmente sofrem com a falta de chuvas se tornarão ainda mais secas, aumentando o risco de fome e doenças no mundo, diz o relatório. O mundo enfrentará também ameaças crescentes de enchentes, tempestades e erosão.
"É uma pequena visão de um futuro apocalíptico", afirmou o grupo ambientalista Greenpeace sobre o relatório final.
O relatório afirma que a África será o continente mais atingido pela mudança climática. Até 2020, prevê o texto, até 250 milhões de pessoas poderão ser expostas à falta de água. Em alguns países, a produção alimentícia cairá pela metade.
A América do Norte deverá experienciar tempestades mais severas, com perdas humanas e econômicas, ondas de calor e incêndios selvagens.
Partes da Ásia estão sob ameaça de grandes enchentes e avalanches devido ao derretimento das geleiras do Himalaia. A Europa também verá o desaparecimento das geleiras dos Alpes, diz o texto.
A Grande Barreira de Corais da Austrália perderá muitos de seus corais mesmo em aumentos moderados da temperatura do mar.
A série de relatórios do IPCC de 2007 é a primeira em seis anos do corpo de 2.500 cientistas formado em 1988. A conscientização do público sobre mudanças climáticas deu ao IPCC importância vital e alimentou a intensidade das negociações --a portas fechadas-- durante a conferência de cinco dias desse ano.
Acordo
Um acordo sobre o relatório final foi alcançado após uma sessão que durou toda a noite de quinta para sexta-feira, na qual capítulos-chave foram simplesmente eliminadas do texto enquanto cientistas confrontaram negociadores de diversos governos que tentavam diluir as ameaças contidas nos dados oficiais.
"Foi um exercício complexo", admitiu Rajendra Pachauri, líder do IPCC, ao falar sobre o acordo. Vários cientistas apresentaram suas objeções contra a edição final do relatório, mas no final tiveram de concordar com as concessões.
O clímax dos cinco dias de negociações foi alcançado quando delegados removeram partes de um capítulo que destacava os efeitos devastadores das mudanças climáticas, que acontecem a cada aumento de 1º C na temperatura do planeta, além de uma discussão sobre o nível de confiabilidade científica de algumas afirmações.
Objeções
Apesar das dificuldades na redação do relatório, as dúvidas sobre as descobertas científicas foram poucas. "Pela primeira vez, não estamos falando com base em modelos científicos", disse Martin Perry, que conduziu algumas das negociações. As informações foram obtidas com base em 29 mil grupos de dados coletados nos últimos cinco anos.
Os Estados Unidos, a China e a Arábia Saudita foram responsáveis pela maioria das objeções ao texto, muitas vezes buscando minimizar a certeza de algumas das previsões mais catastróficas.
O relatório final do IPCC é a mais clara e abrangente afirmação científica até o momento sobre os efeitos do aquecimento global, causado principalmente pela poluição de dióxido de carbono provocada pela ação do homem.
Políticas governamentais
Negociadores se debruçaram sobre um rascunho de 21 páginas destinado a ser um guia de políticas ambientais para governos. O relatório apresenta brevemente o texto completo, de 1.500 páginas, sobre as provas científicas de mudanças climáticas que já aconteceram e sobre o impacto que elas terão nas pessoas e ecossistemas mais vulneráveis da Terra.
Mais de 120 países compareceram à conferência. Cada palavra foi aprovada por consenso, e todas as mudanças tiveram de ser aprovadas pelos cientistas que redigiram esta parte do relatório.
Apesar de enfraquecido pela retirada de alguns elementos, o relatório final "envia um sinal muito, muito claro para os governos", disse Yvo de Boer, principal oficial que lida com o clima na ONU (Organização das Nações Unidas).
O resumo será apresentado na cúpula do G8 (grupo dos países mais ricos do mundo) em junho, quando espera-se que a União Européia renove seus apelos ao presidente dos EUA, George W. Bush, para que ele se una aos esforços internacionais para controlar as emissões de combustíveis fósseis.
Durante a sessão final, a conferência enfrentou discussões sobre uma frase que dizia que o impacto das mudanças climáticas já está sendo sentido em todos os continentes e em muitos oceanos.
"Há uma confiança muito alta de que muitos sistemas naturais estão sendo afetados por mudanças climáticas regionais, particularmente a elevação das temperaturas", afirma a primeira página do relatório.
A China insistiu em retirar a palavra "muito" da frase, de modo a introduzir alguma dúvida sobre o que os cientistas afirmam que são observações inquestionáveis. Os autores do relatório se recusaram a concordar com a mudança, e o resultado foi horas de impasse e uma concessão final dos EUA de retirar as referências sobre o nível de confiança dos dados.
Com Associated Press
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Uma conferência internacional de aquecimento global aprovou nesta sexta-feira uma relatório que alerta contra ameaças diretas ao planeta Terra e à sobrevivência da humanidade a não ser que o mundo se adapte às mudanças climáticas e aja para interrompê-las. As ameaças vão do aumento vertiginoso da fome no mundo à extinção de até 30% das espécies do planeta.
De acordo com relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC, na siga em inglês --considerado a maior liderança mundial em mudança climática), até 30% das espécies do planeta enfrentam um risco crescente de desaparecerem se a temperatura global aumentar 2ºC acima da média dos anos 1980 e 1990.
22.mar.2007/AP |
Hindu bebe água poluída do rio Ganges em Allahabad, Índia; IPCC aponta risco de seca |
Áreas que atualmente sofrem com a falta de chuvas se tornarão ainda mais secas, aumentando o risco de fome e doenças no mundo, diz o relatório. O mundo enfrentará também ameaças crescentes de enchentes, tempestades e erosão.
"É uma pequena visão de um futuro apocalíptico", afirmou o grupo ambientalista Greenpeace sobre o relatório final.
O relatório afirma que a África será o continente mais atingido pela mudança climática. Até 2020, prevê o texto, até 250 milhões de pessoas poderão ser expostas à falta de água. Em alguns países, a produção alimentícia cairá pela metade.
A América do Norte deverá experienciar tempestades mais severas, com perdas humanas e econômicas, ondas de calor e incêndios selvagens.
Partes da Ásia estão sob ameaça de grandes enchentes e avalanches devido ao derretimento das geleiras do Himalaia. A Europa também verá o desaparecimento das geleiras dos Alpes, diz o texto.
A Grande Barreira de Corais da Austrália perderá muitos de seus corais mesmo em aumentos moderados da temperatura do mar.
A série de relatórios do IPCC de 2007 é a primeira em seis anos do corpo de 2.500 cientistas formado em 1988. A conscientização do público sobre mudanças climáticas deu ao IPCC importância vital e alimentou a intensidade das negociações --a portas fechadas-- durante a conferência de cinco dias desse ano.
Acordo
Um acordo sobre o relatório final foi alcançado após uma sessão que durou toda a noite de quinta para sexta-feira, na qual capítulos-chave foram simplesmente eliminadas do texto enquanto cientistas confrontaram negociadores de diversos governos que tentavam diluir as ameaças contidas nos dados oficiais.
2.abr.2007/Reuters |
Rajendra Pachauri, chefe do IPCC, discursa em abertura da conferência em Bruxelas |
O clímax dos cinco dias de negociações foi alcançado quando delegados removeram partes de um capítulo que destacava os efeitos devastadores das mudanças climáticas, que acontecem a cada aumento de 1º C na temperatura do planeta, além de uma discussão sobre o nível de confiabilidade científica de algumas afirmações.
Objeções
Apesar das dificuldades na redação do relatório, as dúvidas sobre as descobertas científicas foram poucas. "Pela primeira vez, não estamos falando com base em modelos científicos", disse Martin Perry, que conduziu algumas das negociações. As informações foram obtidas com base em 29 mil grupos de dados coletados nos últimos cinco anos.
Os Estados Unidos, a China e a Arábia Saudita foram responsáveis pela maioria das objeções ao texto, muitas vezes buscando minimizar a certeza de algumas das previsões mais catastróficas.
O relatório final do IPCC é a mais clara e abrangente afirmação científica até o momento sobre os efeitos do aquecimento global, causado principalmente pela poluição de dióxido de carbono provocada pela ação do homem.
Políticas governamentais
Negociadores se debruçaram sobre um rascunho de 21 páginas destinado a ser um guia de políticas ambientais para governos. O relatório apresenta brevemente o texto completo, de 1.500 páginas, sobre as provas científicas de mudanças climáticas que já aconteceram e sobre o impacto que elas terão nas pessoas e ecossistemas mais vulneráveis da Terra.
27.mar.2007/Reuters |
IPCC alerta para risco de derretimento de geleiras; na foto, geleira Upsala, na Argentina |
Apesar de enfraquecido pela retirada de alguns elementos, o relatório final "envia um sinal muito, muito claro para os governos", disse Yvo de Boer, principal oficial que lida com o clima na ONU (Organização das Nações Unidas).
O resumo será apresentado na cúpula do G8 (grupo dos países mais ricos do mundo) em junho, quando espera-se que a União Européia renove seus apelos ao presidente dos EUA, George W. Bush, para que ele se una aos esforços internacionais para controlar as emissões de combustíveis fósseis.
Durante a sessão final, a conferência enfrentou discussões sobre uma frase que dizia que o impacto das mudanças climáticas já está sendo sentido em todos os continentes e em muitos oceanos.
"Há uma confiança muito alta de que muitos sistemas naturais estão sendo afetados por mudanças climáticas regionais, particularmente a elevação das temperaturas", afirma a primeira página do relatório.
A China insistiu em retirar a palavra "muito" da frase, de modo a introduzir alguma dúvida sobre o que os cientistas afirmam que são observações inquestionáveis. Os autores do relatório se recusaram a concordar com a mudança, e o resultado foi horas de impasse e uma concessão final dos EUA de retirar as referências sobre o nível de confiança dos dados.
Com Associated Press
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