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REFLEXÃO


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urbanidade
02/03/2005
Escritora de rua

Para resistir aos olhares suplicantes das crianças de rua e não dar uma esmola, a escritora Patrícia Secco transformou-se em uma biblioteca ambulante. Estende a mão e, no lugar de dinheiro, entrega um livro infantil. "Eu fico com a consciência tranqüila e as crianças sentem-se satisfeitas."

Patrícia é daquele tipo de pessoa que não gosta de dar esmola para crianças. "Elas acabam viciadas em ser pedintes. Além disso, muitas delas são exploradas por adultos", afirma. Mas a escritora não consegue dizer não. "Eu fico me sentindo culpada." Ela encontrou na literatura a solução para o dilema de dar ou não dar esmola.

Formada em administração, Patrícia passou 11 anos trabalhando no mercado financeiro. "Eu estava ganhando dinheiro, mas o meu prazer não estava naqueles relatórios repletos de números", diz. Encontrou prazer como escritora de livros infanto-juvenis. Aprendeu, no entanto, a tirar proveito de sua vivência empresarial.
Patrícia -que possuía contato com empresas e tinha estudado planejamento tributário- queria escrever suas histórias e distribuí-las gratuitamente. Ela levava um projeto de livro para diretores de empresas e ensinava como abater os custos de sua produção dos impostos. Escolhia então as escolas e as entidades sociais para receberem as doações desses livros.

Daí que não ela não enfrentou dificuldades para manter a biblioteca ambulante dentro do carro. "No começo, dava o livro somente por um impulso. Depois, fui percebendo que as crianças se encantavam com o inesperado presente. Deixavam o que estavam fazendo e ficavam sentadas no chão fascinadas com as figuras."
O que era uma prática coletiva está se tornando um hábito de um grupo de amigos de Patrícia, a quem ela passou a entregar cotas de seus livros a cada mês -e assim vai surgindo na cidade de São Paulo uma série de minibibliotecas ambulantes. "É uma delícia ver o prazer de quem dá e de quem recebe os livros." Ela passou a ter cada vez mais pedidos porque os amigos estão convencendo outros amigos e entrar em essa corrente literária.

Esse jeito de substituir a esmola está começando a se tornar um livro também: agora inspirando uma nova história a ser publicada. "Só fico imaginando a reação das crianças de rua ao lerem sobre crianças que lêem livros na rua."

Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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