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REFLEXÃO


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urbanidade
23/06/2004
Paixão em três rodas

Na manhã fria e ensolarada de domingo passado, trafegava pelas ruas vazias, em direção à avenida Paulista, para uma exposição de carros antigos, a única Romi-Isetta que ainda conduz passageiros regularmente, nos dias de semana, pela cidade de São Paulo. A sobrevivência desse estranho automóvel ovalado, de três rodas, cuja direção está presa à porta e em que cabem apenas duas pessoas, tem mais uma peculiaridade a se destacar na frota de 5,6 milhões de veículos da cidade: ali entra apenas uma mulher. É um duplo caso de amor.

Antônio Carlos Migotto atribui a conquista da mulher amada -Silmara- em parte aos encantos da Romi-Isetta, cuja fabricação se encerrou no início da década de 60. Durante muito tempo, ele tentava chamar a atenção de Silmara, caixa do banco do qual era cliente. Nada funcionava. Até que ela viu o simpático automóvel com jeito de brinquedo de criança. "Convidei-a a ir até Santos", lembra-se Antônio Carlos. Prometeu não se separar nunca de Silmara. Nem da Romi-Isetta.

Desde então, decidiu que não daria carona a mais nenhuma mulher. "Estou cumprindo minha palavra. Não quero despertar ciúmes." Na sua obsessão de colecionador, ele comprou mais 12 exemplares, que guarda em casa, mas não funcionam: usou as peças para manter viva a Romi-Isetta oficial. "As crianças pensam que é brinquedo e os mais velhos sentem saudades."

Antônio Carlos, entretanto, não se sente ligado ao passado -pelo contrário, sente-se em sintonia com o futuro. "Sinceramente, acho mesmo que estou no veículo do futuro." Gasta pouco combustível (cerca de 25 quilômetros rodados por litro) e ocupa metade do espaço de um carro comum. "Com ele, é mais fácil encontrar vaga para estacionar e driblar o congestionamento."

A desvantagem seria, em tese, a potência do motor, que consegue atingir uma velocidade de 60 km por hora. Esse caso de amor, porém, teve um final feliz até mesmo nesse quesito tecnológico. De acordo com estatísticas oficiais, a velocidade média da cidade, no mês de abril, foi de 23 km por hora durante a tarde. Na avenida Brigadeiro Faria Lima, por exemplo, a média é de 18 km por hora nesse período -coisas da modernidade que fazem da Romi-Isetta, por incrível que pareça, um veículo possante.


Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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