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Para
sindicatos, produtividade permite redução de jornada
Os ganhos de
produtividade obtidos nos últimos oito anos pela indústria brasileira
são o mais novo argumento das centrais sindicais na campanha pela
redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas.
Pesquisa divulgada nesta quinta-feira pelo Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostra que
a produtividade na indústria aumentou 95% de 1992 a abril deste
ano.
Em contrapartida, o volume de salários subiu apenas 35%. A diferença
seria indício de que há margem para a redução da jornada sem corte
de salários. O objetivo é a abertura de 1,5 milhão de vagas.
Para o economista José Pastore, da Universidade de São Paulo, é
preciso levar em conta que parte dos ganhos de produtividade da
indústria foram repassados aos consumidores e que as empresas podem
não conseguir absorver os custos de novas contratações.
(Folha de S.Paulo)
Leia
mais:
- Contrato temporário vira fracasso (Folha de
S.Paulo)
- Empresários descartam redução (Folha de S.Paulo)
- Redução da jornada
de trabalho divide opiniões
- Volkswagen se adianta e já diminui
a jornada
- Fiesp aceita negociar redução da jornada
de trabalho
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Produtividade
é arma para cortar jornada
A indústria
brasileira obteve bons índices de produtividade nos últimos oito
anos e pode abrir mão de parte desse ganho. É com esse argumento
que as centrais sindicais brasileiras tentarão convencer os empresários
a abrir negociações para reduzir a jornada de trabalho de 44 para
40 horas.
O Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos)
divulgou ontem pesquisa sobre a produtividade na indústria. Segundo
o estudo, que foi realizado pela subseção do órgão em São Bernardo
do Campo, de 1992 a abril deste ano, os ganhos de produtividade
na indústria foram da ordem de 95%.
Isso significa que um trabalhador da indústria brasileira produz
hoje, em uma hora, quase o dobro do que produzia há oito anos no
mesmo período de tempo.
Os salários não acompanharam o aumento de produtividade. O volume
de salários pago pelo indústria subiu 35%.
"Existe uma diferença de 45%. Há margem para a redução da jornada
de trabalho", afirma Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC.
Os sindicalistas estimam que a redução da jornada de trabalho de
44 horas para 40 horas semanais possa criar 1,5 milhão de novos
empregos no Brasil. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) tem
a proposta de, em uma segunda etapa, fazer nova redução para 36
horas semanais.
A CUT paralisou três fábricas ontem pela manhã em Diadema para pressionar
as empresas a iniciar negociações. A paralisação durou cerca de
duas horas e reuniu 500 trabalhadores. "Apenas com a pressão os
empresários irão negociar", disse Marinho.
A Força Sindical paralisa hoje, em São Paulo, cerca de 70 fábricas
localizadas nas imediações da av. do Estado, na região próxima ao
centro de São Paulo.
Como nas paralisações de ontem em Diadema, em São Paulo as fábricas
devem permanecer paradas por cerca de duas horas.
Segundo Eleno Bezerra, secretário-geral da Força Sindical, a manifestação
de hoje deve reunir 10 mil trabalhadores.
A Força Sindical e a CUT pretendem aumentar ainda mais a mobilização.
"As paralisações devem se espalhar por todo o país", disse Marinho.
Bezerra classificou a posição do governo brasileiro, de defesa de
35 horas, de demagógica. "O presidente Fernando Henrique deveria
dar incentivos às empresas para isso, como na França."
FHC defendeu, no início de junho, a redução para 35 horas, mas ressaltou
que a discussão sobre o assunto deveria ser feita entre os trabalhadores
e os empresários.
O presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), recebeu,
esta semana, representantes da CUT justamente para ouvir as reivindicações
dos trabalhadores.
Temer afirmou aos sindicalistas que, assim que acabar o recesso
parlamentar -o Congresso voltará a ter sessões em 1º de agosto-,
será constituída uma comissão especial para analisar as propostas
de redução da jornada.
Para o economista José Pastore, da Universidade de São Paulo, as
propostas para redução de jornada em todo o país devem ser analisadas
com cautela.
"É verdade que houve ganhos de produtividade em muitos setores.
Mas é também verdade que alguns deles repassaram esses ganhos aos
consumidores e não suportariam custos extras com a redução de jornada",
explica.
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Contrato
temporário vira fracasso
A mobilização
dos trabalhadores pela redução da jornada de trabalho, a fim de
aumentar o nível de emprego, ocorre dois anos depois de o governo
ter criado o contrato de trabalho por tempo determinado com o mesmo
objetivo. Foi um tremendo fracasso.
Dados do próprio Ministério da Trabalho indicam que, entre agosto
de 1998 e março de 2000, a nova modalidade de emprego resultou em
apenas 590 contratos, ou 17.205 vagas. Um número irrisório, abaixo
de 0,05% do universo de 36,7 milhões de trabalhadores que o IBGE
registrava dois anos atrás.
Isso apesar de o contrato prever vantagens fiscais às empresas,
como redução do valor do FGTS a ser depositado. A secretária-adjunta
de relações do trabalho do ministério, Maria Lúcia di Orio, admite
que a iniciativa do governo foi malsucedida e que as empresas preferiram
adotar o banco de horas, em que a jornada diminui e aumenta conforme
a demanda de produção.
A vantagem do banco de horas para as empresas é que com ele não
precisam contratar trabalhadores. Mantêm apenas o mesmo quadro de
pessoal.
Conforme o ministério, 1.107 contratos dessa modalidade foram adotados
até março deste ano, abrangendo um universo de 256.863 empregados.
"O banco de horas visa manter o número de trabalhadores, enquanto
o contrato por tempo determinado quer aumentar", lembra Maria Lúcia.
Ou seja, as empresas preferiram aumentar as jornadas de trabalho
de seu pessoal a fazer novas contratações.
Segundo Maria Lúcia, o baixo desempenho do contrato por tempo determinado
se deve também "à incompreensão dos setores envolvidos na negociação".
Já o presidente do sindicato dos metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho,
avalia que a medida foi apenas um golpe de mídia do governo, a fim
de mostrar que trabalhava para o aumento do emprego.
Para o secretário-geral do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo,
Eleno Bezerra, o contrato por tempo determinado serviu basicamente
para as empresas baixarem os salários dos empregados, demitindo
aqueles com registro normal na carteira.
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Empresários
descartam redução
Empresários
de grandes conglomerados econômicos não se mostram nem um pouco
disponíveis a diminuir a jornada de trabalho de seus empregados,
conforme a Folha apurou. A principal justificativa é que a redução
de 44 horas para 40 horas aumentaria os custos das companhias diante
de sua produção -o que poderia até dar um novo fôlego à inflação.
"A inflação tem sido controlada pelos preços das indústrias, que
não têm sofrido grandes reajustes. Se aumentarem os custos de produção,
eles terão de ser repassados de alguma maneira", alega o presidente
do conselho da Sadia, Luiz Fernando Furlan.
O industrial critica ainda a defesa que o presidente Fernando Henrique
Cardoso fez da adoção das 35 horas no início de junho. "Quem defendeu
essa redução precisa tirar da cartola uma fórmula que evite a alta
de preços."
Para o presidente do conselho do grupo Itaúsa, Olavo Setúbal, nem
o trunfo da criação de 1,15 milhão de empregos nos últimos três
anos na França, onde houve redução da jornada para 35 horas por
meio de incentivos fiscais, vale de exemplo. "Essa história não
está bem contada. A maioria dos países europeus registrou aumento
de emprego nesse período."
Segundo o empresário, o Brasil precisa, no momento, dar prioridade
ao aumento de produtividade e usar ao máximo os investimentos que
consegue atrair. "O importante é garantir o crescimento da economia."
A iniciativa das centrais sindicais também é criticada pelo presidente
do conselho da Brasmotor, Hugo Miguel Etchenique. "Nesse momento,
a idéia é tremendamente negativa. O que precisamos é garantir a
competitividade dos produtos brasileiros."
O industrial alega que os países asiáticos conseguiram ganhar mercado
com seus produtos justamente por adotarem jornadas mais longas,
de até 48 horas.
Já o vice-presidente do conselho do grupo Votorantim, Antônio Ermírio
de Moraes, admite que a redução da jornada pode ser adotada pelas
empresas, desde que se leve em conta as características de cada
uma para negociação caso a caso. "É uma questão de negociar."
(Marcelo Billi e László Varga - Folha de S.Paulo)
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