Redução
da jornada de trabalho divide opiniões
Na última semana,
a redução da jornada de trabalho voltou a ser tema de debate.
Em sua visita à França, o presidente Fernando Henrique Cardoso prometeu
"estudar" o exemplo francês, de incentivos fiscais às empresas que
reduzem sua jornada. Entretanto, para ele, o governo
deve intervir cada vez menos na questão.
Os sindicatos defendem a redução da carga horária
como sua principal bandeira, diferentemente dos empresários,
que encaram a questão como aumento de gastos. Segundo alguns especialistas,
se malfeita, a redução da carga horária pode não surtir efeito algum.
Governo
não quer se intrometer na jornada
O governo federal
deseja intervir cada vez menos na questão trabalhista. O próprio
presidente Fernando Henrique Cardoso, ao levantar a questão da redução
da jornada, ressaltou que o assunto deveria ser discutido entre
os empresários e seus funcionários.
A Constituição atual permite a livre negociação da jornada de trabalho,
impondo somente o limite máximo semanal (44 horas).
"Em alguns casos, a redução da carga horária pode implicar aumento
de empregos. Em outros, pode implicar aumento da informalidade.
Por isso, ela deve ser decorrente de negociação e não de legislação",
disse o Ministério do Trabalho em nota oficial divulgada segunda-feira.
A reforma trabalhista, apresentada pelo ministro Francisco Dornelles
em 1999 e ainda em discussão, propõe a retirada de regras trabalhistas
da Constituição. A alteração deixaria em aberto a definição da jornada
de trabalho, a participação obrigatória dos sindicatos nas negociações
coletivas de trabalho e a remuneração de horas extras.
Sindicalistas
defendem jornada menor
A redução da
jornada de trabalho é a principal bandeira do sindicalismo brasileiro
na atualidade. Desde o 1.º de Maio, as centrais sindicais vêm realizando
manifestações por uma carga máxima de 40 horas semanais.
Cálculos do Dieese apontam que a redução poderia criar cerca de
1,7 milhão de empregos em todo o país.
O presidente da Federação Estadual do Metalúrgicos, Paulo Sérgio
Ribeiro Alves, argumenta que as empresas não sairão perdendo porque
terão aumento na sua produtividade. Ele avalia, contudo, que o governo
precisa abrir mão de encargos tributários para estimular a contratação.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) realiza um ato pela redução
da jornada diante do prédio da Fiesp (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo) nesta quarta-feira. O protesto tem início às
7h e deve se prolongar por 36 horas.
Para
empresários, medida só traria problemas
Horácio Lafer
Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo), acredita que as prioridades do Governo e das empresas
deveriam ser outras: "Essa discussão neste momento é, no mínimo,
inoportuna. A indústria tem pelo menos dez coisas mais importantes
para discutir, como uma nova política industrial."
Para Piva, as declarações de FHC têm "um bom apelo junto às centrais
sindicais, mas seu efeito para reduzir o desemprego é mínimo". Se
a redução ocorresse, o empresário acredita que a opção da maioria
das empresas seria pela ampliação das horas extras e não por contratações.
"O mais razoável é avançar primeiro na discussão da desoneração
da produção por meio de instrumentos clássicos, como mudanças na
legislação trabalhista", defendeu.
Mudar as regras trabalhistas e reforma da Previdência também foi
a exigência de Alencar Burti, presidente da Associação Comercial
e Industrial de São Paulo. "Do contrário, o custo dos produtos teria
aumentos significativos e alguém teria de pagar essa conta", disse.
Caso contrário, para Burti, as empresas ampliariam o número de trabalhadores
informais já que "contratar é mais caro e mais problemático".
Já o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos
(Abrinq), Synésio da Costa, vê uma saída: "Aceitamos a redução da
jornada desde que haja uma compensação equivalente no custo de produção.
E reduzir a jornada sem reduzir o salário pode ser um tiro no pé
da indústria", afirmou.
"Malfeita,
redução de jornada gera desemprego", afirmam especialistas
A redução da
jornada de trabalho pode gerar mais desemprego ou não provocar alteração
alguma, analisam especialistas.
Márcio Pochmann, professor de economia da Unicamp, avalia que a
redução da jornada pode ter um impacto negativo se acompanhada de
uma redução de salários. O menor poder de compra dos trabalhadores
causaria retração no mercado e as indústrias passariam a produzir
menos.
Contudo, Pochmann acredita que os ganhos de produtividade da economia
brasileira nos últimos anos são suficientes para permitir a redução
da jornada com manutenção do salário.
Lutar pelo fim da "cultura" da hora extra é outro aspecto fundamental
na opinião do professor. "A jornada de trabalho é mal distribuída
no Brasil", diz.
De acordo com o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio, a redução
da carga de trabalho semanal de 48 para 44 horas na Constituição
de 1988 não alterou a probabilidade de um trabalhador perder o emprego.
Camargo concluirá nas próximas semanas um estudo que avalia o risco
de desemprego para os trabalhadores antes e depois da mudança na
lei.
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