Eleitor ainda troca
voto por favor
Apesar da modernização
e da urbanização do país, práticas arcaicas
de aliciamento do voto ainda marcam as eleições deste
ano, o que revela um estigma recorrente na história republicana.
Em diferentes estados, casos de abuso do poder econômico e
de cooptação de eleitores por meio de prestação
de favores surgem nas salas dos tribunais eleitorais.
Em Alagoas, um coordenador local da
campanha do presidenciável Ciro Gomes enviou ambulâncias
e cestas básicas às áreas pobres do interior.
No Piauí, um carro-pipa com propaganda política foi
flagrado distribuindo água em um município que vive
situação de emergência por causa da seca.
Já em Roraima, o Conselho de
Odontologia investiga a atuação de falsos dentistas
que teriam sido contratados por candidatos para trocar seus serviços
por votos e que acabaram comprometendo a saúde dos eleitores.
Leia mais:
- Urna eletrônica, voto de cural
Leia também:
- Coordenador de Ciro dá ambulância e
cesta
- Doutor falso arruma votos e dor de dente
- Carro-pipa leva água e anúncio de candidato
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Urna
eletrônica, voto de cural
Apesar da modernização
e da urbanização do país, práticas clientelistas
e arcaicas de aliciamento do voto ainda marcam as eleições
deste ano, o que revela um estigma recorrente na história
republicana.
Em diferentes Estados, casos de abuso
do poder econômico e de cooptação de eleitores
por meio de prestação de favores surgem nas salas
dos tribunais eleitorais.
A Folha traz hoje três exemplos que parecem saídos
do livro "Coronelismo, enxada e voto", de Victor Nunes
Leal, obra clássica publicada em 1949.
Em Alagoas, um coordenador local da
campanha do presidenciável Ciro Gomes enviou ambulâncias
e cestas básicas a áreas pobres do interior.
No Piauí, um carro-pipa com
propaganda política foi flagrado distribuindo água
em um município que vive situação de emergência
por causa da seca.
Já em Roraima o Conselho de
Odontologia investiga a atuação de falsos dentistas
que teriam sido contratados por candidatos para trocar seus serviços
por votos e que acabaram comprometendo a saúde dos eleitores.
Em 1949, Nunes Leal escreveu que não
apontaria soluções para o problema do coronelismo.
"Outros, mais capacitados, que empreendam a tarefa de indicar
o remédio", avisou à época.
(Folha de S. Paulo)
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Coordenador
de Ciro dá ambulância e cesta
Em Alagoas, Antônio Albuquerque,
um dos coordenadores da campanha de Ciro Gomes (PPS) no Estado,
distribuiu ambulâncias a prefeituras do agreste e do sertão,
com pedidos de apoio eleitoral, e também enviou cestas básicas
a áreas pobres do interior.
Albuquerque, do PTB, presidente da
Assembléia Legislativa alagoana, pintou seu nome nas ambulâncias
que foram entregues a prefeituras de aliados políticos, todos
engajados na campanha do ex-presidente Fernando Collor ao governo
do Estado.
Segundo ele, os veículos foram adquiridos com recursos próprios.
O valor das doações, realizadas em fevereiro, seria
de cerca de R$ 200 mil, quase a soma do salário líquido
que um deputado alagoano recebe em todo o seu mandato (cerca de
R$ 250 mil).
As solenidades de entrega ocorreram
em um domingo e foram registradas em texto na página do deputado
na internet (www.antonioalbuquerque.com.br).
O material, depois, foi tirado do site.
Pelo relato, Albuquerque disse que,
"enquanto tiver mandato", reuniria esforços "para
atender às necessidades do povo sofrido de Alagoas".
O texto afirma que o deputado agradeceu "a participação
expressiva, nas suas eleições, da população
de cada município visitado" e "pediu a todos que,
mais uma vez, o ajudem a ser reconduzido à Casa Legislativa".
Segundo procuradores eleitorais e advogados
ouvidos pela Agência Folha, o ato caracteriza abuso de poder
econômico e é suficiente para que o Ministério
Público inicie investigação. Outra atitude
com características semelhantes foi a doação,
em março, de 5.000 cestas básicas à população
carente do interior alagoano.
"Cinco mil cestas básicas,
ou seja, um número considerável, bem como a doação
de dez ambulâncias que vão circular durante a campanha
com o nome do candidato configuram abuso do poder econômico
dentro do chamado macroprocesso eleitoral [o ano das eleições]
e às vésperas da campanha em si. Isso tem reflexo
na campanha", afirma Deslomar Mendonça Júnior,
advogado do Movimento Nacional de Combate à Corrupção
Eleitoral.
A Agência Folha tentou, ao longo de duas semanas, ouvir o
deputado sobre o caso. O teor da reportagem foi repassado ao chefe
de gabinete de Albuquerque, Nailton Felizardo, que ficou de informar
o assunto ao deputado e ligar dando a resposta.
Como não fez contato, a Agência Folha procurou Felizardo
mais três vezes. Em todas, o assessor informava que o deputado
responderia às questões posteriormente, o que não
aconteceu.
(Folha de S. Paulo)
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Doutor
falso arruma votos e dor de dente
A eleição levou a Boa
Vista (RR) denúncias de que proliferam serviços clandestinos
que trocam tratamento dentário por voto.
O Conselho Regional de Odontologia
do Estado pretende levar a questão para a Justiça
Eleitoral. O órgão já recebeu dez reclamações
de procedimentos odontológicos que ocasionaram sérios
danos à saúde bucal dos "eleitores-pacientes"
e de lugares onde ocorreriam os "tratamentos".
O CRO acredita que os "falsos
dentistas" sejam pessoas que já trabalharam em consultórios
odontológicos como auxiliares e que agora, em época
de eleição, se acham capacitadas para fazer procedimentos
dentários em troca de dinheiro dos candidatos.
"As pessoas estão denunciando
infeções, fraturas no maxilar e hemorragias. Típicos
casos de trabalho feito por pessoas não-habilitadas",
afirmou o presidente do conselho, Namis Levino.
Os nomes dos candidatos que podem estar
por trás dos "consultórios clandestinos"
não são revelados pelo conselho, que deverá
levar o caso ao TRE de Roraima.
Anteontem, uma blitz apreendeu material acondicionado de forma irregular
em um lugar que estava servindo de consultório odontológico.
No local, segundo o CRO, funciona também um comitê
eleitoral.
(Folha de S. Paulo)
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Carro-pipa
leva água e anúncio de candidato
Um carro-pipa com a propaganda de um
candidato a deputado do PFL e também com o nome do governador
Hugo Napoleão (PFL) foi flagrado pela oposição
em uma das regiões mais atingidas pela seca no Piauí.
O veículo trazia o nome do deputado
estadual Homero Castelo Branco (PFL), que tem base eleitoral na
região, e foi fotografado em Belém do Piauí
-município de 2.500 habitantes do sertão que está
em situação de emergência por causa da seca.
De acordo com o prefeito Antônio
Gomes de Souza (PTB), o caminhão é do vice-prefeito,
Ademar Aloísio de Carvalho (PFL), que teria colocado a propaganda
"por livre e espontânea vontade".
"Por mais que seja um erro involuntário,
é um ato de humanidade. O Wellington Dias deveria mandar
um carro-pipa para cá, e não ficar perseguindo e fotografando
as pessoas que estão ajudando", disse o prefeito, em
relação ao candidato do PT ao governo -a equipe de
Dias foi responsável pelo flagrante.
Segundo ele, o caminhão oferece
água a todos que precisam. Quem pode paga de R$ 10 a R$ 15
para ajudar no combustível. Procurados pela Agência
Folha, Carvalho não quis falar sobre o assunto, e Castelo
Branco não respondeu aos recados.
(Folha de S. Paulo)
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