Home
 Tempo Real
 Coluna GD
 Só Nosso
 Asneiras e Equívocos 
 Imprescindível
 Urbanidade
 Palavr@ do Leitor
 Aprendiz
 
 Quem Somos
 Expediente


Semana de 29.07.02 a 02.08.02

 

Novo eleitor é pobre e possui modestíssima escolaridade

O extrato mais numeroso dos eleitores, que responde por 80% dos votantes, é composto de brasileiros que se situam entre a classe média baixa e os pobres. Juntos, eles somam 93 milhões de pessoas, um contingente maior que a maioria das democracias do mundo. Na prática, são esses 93 milhões de eleitores de modestas posses, educação e horizontes que decidirão quem ocupará o Palácio do Planalto até 2006.

Esses eleitores compõem um conjunto heterogêneo, mas exibem características comuns. Eles têm renda mensal entre 200 e 1 mil reais. Pouquíssimos pagam imposto de renda, metade nunca lê jornais nem revistas e quase todos têm a televisão como principal, se não única, fonte de informação. Some-se a isso que a maioria é jovem (52% têm entre 16 e 35 anos) e do sexo feminino (51%).

O novo perfil do eleitorado parece não ter sido absorvido pelos políticos. As migrações internas, associadas ao intenso processo de urbanização do país, tornaram menos nítido esse tipo de divisão geográfica. Em seu lugar, surgiu outro cenário mais relevante e ainda não captado pela antena dos marqueteiros: a divisão entre o Brasil das metrópoles e o Brasil das cidades pequenas. Existem 35 milhões de eleitores pobres na periferia das grandes cidades, mais do que há em todo o interior da região Nordeste - mas ninguém apresenta propostas específicas para esse contingente, que, embora desorganizado, é uma potência numérica em termos de quantidade de votos

Leia mais:
- Retrato do eleitor

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Retrato do eleitor

Dos primórdios de nossa história eleitoral até os dias atuais, o eleitorado brasileiro passou por mudanças profundas. Durante cinqüenta anos, entre 1880 e 1930, a massa de eleitores correspondeu a apenas 6% da população do país. Hoje, com mais de 115 milhões de pessoas aptas ao voto, o eleitorado equivale a 70% da população. É um crescimento monumental, que jamais foi acompanhado de uma radiografia nítida dos votantes. Na semana passada, VEJA concluiu uma pesquisa que consumiu cinco semanas de trabalho e cruzou sete fontes de dados estatísticos, sociais, econômicos, comportamentais e de opinião - e, com isso, chegou-se a um retrato exclusivo sobre quem é o eleitor brasileiro, o que faz e o que pensa. O trabalho permite descobrir quem, afinal, vai decidir a eleição presidencial de outubro próximo. O extrato mais numeroso, que responde por 80% dos votantes, é composto de brasileiros que se situam entre a classe média baixa e os pobres. Juntos, eles somam 93 milhões de pessoas, um contingente maior que a maioria das democracias do mundo. Na prática, são esses 93 milhões de eleitores de posses, educação e horizontes modestos que decidirão quem ocupará o Palácio do Planalto até 2006.

Esses eleitores compõem um conjunto heterogêneo, mas exibem características comuns. Eles têm renda mensal entre 200 e 1 000 reais. Pouquíssimos pagam imposto de renda, metade nunca lê jornais nem revistas e quase todos têm a televisão como principal, se não única, fonte de informação. "Eles é que decidem a eleição. Os outros grupos sociais são praticamente coadjuvantes", afirma o cientista político Jairo Nicolau, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), autor de um estudo detalhado sobre a história do voto no Brasil. Além dessas características, é relevante observar que, neste momento, uma parcela expressiva desse eleitorado decisivo diz que não está satisfeita com a vida que leva - uma sugestão de que esses insatisfeitos tenderão a dar preferência a candidatos que proponham mudanças. Até agora, Luís Inácio Lula da Silva, do PT, é o concorrente mais bem cotado nesse eleitorado. O petista lidera em todas as faixas, com preferência de 32% dos eleitores da classe média baixa, 36% dos emergentes e 37% dos pobres. Há um dado, porém, que não permite projeções certeiras: entre esses 93 milhões de eleitores, 77 milhões já têm candidato, mas a metade deles não está segura da opção e admite mudar de idéia até o dia da eleição.

Em mais um sinal das marcadas diferenças internas da sociedade brasileira, o outro contingente de eleitores é sensivelmente distinto. Compondo as classes alta e média, são 23 milhões de votantes, que respondem por 20% do eleitorado do país. Entre eles, 7 milhões pagam imposto de renda, pelo menos 15 milhões lêem jornais e revistas habitualmente e 3 milhões fizeram ou estão fazendo um curso superior, ou seja, 13% - detalhe que marca uma diferença fundamental com os eleitores do extrato mais baixo. Entre a massa de 93 milhões de eleitores mais humildes, outros 3 milhões estão ou estiveram numa faculdade, apenas 3%. O contingente de contribuintes também faz uma diferença sensível. Entre o núcleo mais numeroso do eleitorado, quase ninguém paga imposto de renda. Entre os eleitores das classes mais abastadas, esse número é expressivo - e isso, naturalmente, provoca uma postura diversa diante do governo e, sobretudo, define um nível distinto de cobrança sobre o destino do dinheiro que, saindo do bolso privado do cidadão, vira público ao entrar no Erário. O que chama a atenção no eleitorado mais abastado é o solene desprezo devotado ao candidato Anthony Garotinho. Só 2% dizem votar no ex-governador do Rio.

É natural que num país com uma paisagem social tão desigual como o Brasil, e com um eleitorado tão vasto, as diferenças fossem acentuadas. Na Europa e nos Estados Unidos, donos de um eleitorado mais homogêneo, calcula-se que 90% dos votantes pagam imposto de renda - um porcentual infinitamente superior ao brasileiro, onde apenas 6% do eleitorado é contribuinte direto. Esse quadro, por si só, define uma moldura muito diferente a respeito da postura de cada faixa no que toca ao destino que é dado ao dinheiro arrecadado por meio de impostos. Há outras diferenças abissais. Entre os eleitores mais afluentes praticamente não existe analfabetismo, e, no contingente economicamente mais desfavorecido, a taxa de analfabetismo supera os 10%. Os mais pobres, para citar outra diferença importante, colhem suas informações principalmente na televisão, que tem sido cada vez mais fonte de entretenimento que propriamente fonte de informação. Mais: entre os eleitores da chamada "classe A", 75% se dizem satisfeitos com a vida que levam. Já entre os eleitores pobres, 36% dizem o contrário, que estão insatisfeitos.

Apesar das diferenças marcadas, na classe A e entre os pobres, os dois pólos mais distantes da massa de eleitores, Lula aparece como o candidato preferido em ambos os segmentos. Tanto num como noutro, observa-se, também, uma forte inclinação a votar no candidato que venha a ser indicado por Fernando Henrique Cardoso, num sinal de que a popularidade do presidente, ou o nível de respeito que atingiu, não distingue classes. Essas, no entanto, são semelhanças superficiais, ou casuais. Até agora, Lula está na dianteira da preferência eleitoral de todas as classes, seguido, pela ordem, por Ciro Gomes e José Serra - sendo que sua maior fatia se concentra entre o eleitorado classificado como pobre. Se se confirmar a lógica de que a massa menos favorecida, do ponto de vista socioeconômico, é quem definirá a eleição, a situação está, neste momento, extremamente favorável a Lula e, em seguida, a Ciro Gomes. Nesse quadro, Serra tem chances limitadas.

O novo perfil do eleitorado parece não ter sido absorvido pelos políticos. A formação de chapas que contemplam o propalado "equilíbrio regional", com um candidato do Sudeste e outro do Nordeste, ainda é muito valorizada pelos partidos - mas a geografia humana do país mostra que se trata de uma preocupação desfocada, apenas um vício, talvez herdado do rodízio de paulistas e mineiros na República Velha, que atribuiu à política um valor regional que não faz mais sentido nos dias de hoje. As migrações internas, associadas ao intenso processo de urbanização do país, tornaram menos nítido esse tipo de divisão geográfica, e, em seu lugar, surgiu outro cenário mais relevante e ainda não captado pela antena dos marqueteiros: a divisão entre o Brasil das metrópoles e o Brasil das cidades pequenas. Existem 35 milhões de eleitores pobres na periferia das grandes cidades, mais do que há em todo o interior da Região Nordeste - mas ninguém apresenta propostas específicas para esse contingente, que, embora desorganizado, é uma potência numérica em termos de quantidade de votos

Além de diverso e desigual, o eleitorado brasileiro é notável pelo interesse que demonstra nas eleições. Nos dois últimos pleitos, cerca de oito em cada dez eleitores foram às urnas - uma taxa superior à média de outras democracias nas quais o voto, como no Brasil, também é obrigatório. Existe outro dado relevante. Desde o restabelecimento da democracia, em 1985, o país realizou dez eleições e um plebiscito nacional. Isso significa que quase 70% dos eleitores que votarão em outubro próximo já votaram mais de três vezes para presidente da República. "O eleitor não é mais um neófito", diz o professor Jairo Nicolau, do Iuperj. Ou seja: o eleitorado brasileiro é interessado e está deixando cada vez mais de ser amador. Está aprendendo a votar a cada eleição que passa. Parece que conhece mais os políticos do que é conhecido por eles.

(Veja)

 
 
                                                Subir    
   Semana de 22.07.02 a 26.07.02
  Produtos controlados pelo governo fazem disparar inflação
   
   Semana de 15.07.02 a 21.07.02
  Candidatos não têm políticas de apoio à pesquisa tecnológica
   
   Semana de 08.07.02 a 14.07.02
  Na economia, brasileiro torce por milagre
   
   Semana de 01.07.02 a 07.07.02
  Turbulência externa freia crescimento brasileiro
   
   Semana de 24.06.02 a 30.06.02
  Taxa de juros sufoca classe média e retrai crescimento econômico