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educação
05/08/2005
Violência cai 40% com a abertura das escolas nos fins de semana

A partir de uma iniciativa aparentemente simples -- a abertura das escolas nos finais de semana – é possível constatar os bons resultados da difusão concreta da cultura de paz e combate às desigualdades. No ambiente escolar, os jovens – especificamente em situação de vulnerabilidade social – têm menos chances de se expor à violência e mais oportunidades de acesso à educação, à cultura e ao lazer. Os números comprovam essa premissa: depois do programa Escola da Família, a queda nas ocorrências contra a pessoa e o patrimônio alcançou 39,5% em comparação ao ano anterior. Destacam-se aí indicadores que apontam redução de 46,5% nas agressões físicas, de 57% nos homicídios e acima de 81% no porte de drogas. O mesmo acontece nas vizinhanças das escolas, com redução de 36% nos índices gerais de violência.

Uma pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos de Violência da Universidade de São Paulo em 2002 apontava que quanto menor a oferta de cultura, lazer e esporte, mais altas eram as taxas de homicídio. Além disso, os dados indicavam que os pólos com esses serviços estavam concentrados nas regiões periféricas das grandes cidades. A proximidade entre os locais de lazer e as residências ampliaria o acesso da comunidade a esses serviços, reduzindo os índices de violência.

A abertura das escolas estaduais nos finais de semana não só alterou essa realidade violenta, como melhorou o rendimento dos alunos, aumentando a cumplicidade e a confiança entre os membros da comunidade.

Os números das pesquisas mensais realizadas pela Secretaria de Estado da Educação confirmam a redução sistemática das ocorrências desde a implantação do Escola da Família, em agosto de 2003. A comparação entre os dados de setembro de 2002 a março de 2003, antes da implantação do programa, com os respectivos meses de 2004 e 2005 aponta redução expressiva em todos os índices.

Os dados revelam também a preocupação e o cuidado da comunidade com a escola. As depredações cairam em 34,6% e as pichações 35,3% e invasões 37,2%. Nas ocorrências contra pessoa, a redução é ainda mais significativa: os homicídios caíram 57,1%, os furtos em 45,5%, o porte ilegal de arma, 38,1%, as agressões físicas, 46,5%, e o porte de drogas, 81,3%.

Além dos muros
Um levantamento complementar mostra que o envolvimento da comunidade vizinha à escola foi decisivo para a queda da violência em cada região. Uma análise comparativa entre o período de setembro de 2002 a fevereiro de 2003 com setembro de 2004 a fevereiro de 2005, indica redução de 36% nas ocorrências policiais globais registradas nas imediações da escola. As ocorrências contra a pessoa, incluindo agressões físicas e homicídios, caíram pela metade.

Os resultados do Escola da Família também se refletem na queda nos índices de violência dos municípios. Na Capital, por exemplo, estatísticas da Fundação Seade confirmam essa tendência: a cidade de São Paulo registrou diminuição de 35,25% no número absoluto de homicídios, na comparação entre os anos de 2000 e 2004.

Dia a dia cada vez melhor
Os relatos de quem vive esta nova realidade nas escolas ultrapassam a frieza dos números. Eles mostram de forma efetiva não só redução na violência, mas a mudança no relacionamento entre professores e alunos e na relação da escola com a comunidade.

Há dois anos, a Escola Estadual Dr. Genésio de Almeida Moura, na zona Norte da capital paulista, era alvo de depredações, pichações e furtos. Vidros quebrados, paredes escondidas pela tinta da barbárie. “Não conseguíamos nos aproximar dos jovens que causavam inúmeros problemas, inclusive o de uso de drogas”, lembra José Carlos Nery Santos, assistente técnico pedagógico. “A partir do momento em que abrimos a escola nos fins de semana, a comunidade e os alunos se conscientizaram que o espaço era deles e para eles”, avalia o educador, animado com a redução nos índices de violência depois da implantação do programa.

Nery, coordenador de área do Escola da Família, destaca também o grau de freqüência nos fins de semana. “Registramos uma média de 500 participantes nas atividades da escola, com pessoas de todas as idades”, conta. Além de atividades esportivas, a escola oferece oficinas de padaria artesanal e aulas alfabetização para os pais.

Os bons resultados obtidos com a implantação do programa na escola Genésio de Almeida Moura também são testemunhados pela comunidade. “Antigamente nossos filhos ficavam na rua jogando bola. E a rua sempre é perigosa. Agora, com a abertura das escolas, essas crianças têm um espaço seguro”, diz Rogério Aparecido da Silva, vizinho e pai de aluno da escola.

Kátia Aparecida Bertolotti, ex-aluna, ex-professora e atual diretora da escola Ovídio Pires de Campos, em Santo André, também conta as dificuldades que enfrentava antes do Escola da Família. A quadra de esportes era constantemente invadida nos fins de semana e a escola tinha problemas de depredações e furtos. “O programa oferece à comunidade, carente de opções de lazer, um espaço para a amizade”, analisa a diretora. “E aqui nós conseguimos zerar os índices de depredação e furto”, comemora. Afinal, hoje a quadra está aberta. Não é necessário invadi-la.

Um outro aspecto destacado pela diretora é a melhoria no desempenho escolar. Segundo Kátia, o programa possibilitou uma aproximação da escola com os alunos e com a comunidade, gerando confiança entre todos. “Confiança e cumplicidade são dois fatores essências para o diálogo, o que melhora a disciplina dos alunos e, conseqüentemente, seu rendimento escolar”, ensina.

ANA VENERANDO
EGLE CISTERNA

   
 
 
 
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