HOME | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 
governo
21/10/2003
Unificação esvazia o ministério de Benedita

A criação da Secretaria Executiva do Bolsa-Família e o lançamento oficial da unificação dos programas de transferência de renda esvaziaram o Ministério da Assistência e Promoção Social, cuja titular é Benedita da Silva.

As principais funções da pasta - a articulação e a integração dos programas- migraram para a nova secretaria, coordenada pela cientista política Ana Fonseca.

A pasta de Benedita ficou com as mesmas funções que tinha no governo passado, quando era apenas uma secretaria ligada ao Ministério da Previdência Social.

A partir de agora, vai cuidar da Loas - que paga um salário mínimo a pessoas pobres acima de 67 anos e a deficientes físicos- e dos dois programas, que não foram incluídos no Bolsa-Família.

Em janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto dando uma série de poderes à pasta da Assistência Social. Sob o comando de Benedita, o ministério passaria a articular e a coordenar todas as ações relacionadas ao combate à pobreza.

Benedita e sua equipe também ficaram responsáveis pela revisão do Cadastro Único, uma lista com informações socioeconômicas dos pobres do país. As informações do cadastro feito na época de Fernando Henrique Cardoso foram consideradas imprecisas e incompletas pelo novo governo. A base de dados não permitia o cruzamento das informações, dificultando seu uso como ferramenta de planejamento.

Após a primeira reunião do Comitê de Políticas Sociais, Benedita foi escolhida pela Presidência para ser a porta-voz da reunião para a imprensa. Saiu da sala dizendo que coordenaria o setor. Os colegas não gostaram. Foi o início da disputa de poder na área social.

Ministros em choque
Nestes nove meses, a unificação dos programas foi sinônimo de um trabalho técnico complexo - que envolveu uma base de dados com 7 milhões de famílias cadastradas e uma nova forma de operá-la. Também foi sinônimo de negociações políticas delicadas, que envolveram uma disputa de poder acirrada entre os ministros da área social.

Cristovam Buarque (Educação) lutou para manter a marca do Bolsa-Escola, que até agora era o maior programa social do governo, com 5,7 milhões de famílias cadastradas. Chegou a dizer que o programa era o "Fome Zero já".

Incentivado por sua equipe técnica, o ministro Humberto Costa (Saúde) brigou para levar o processamento das famílias beneficiadas para seu ministério por meio do DataSus, o sistema de informações do seu ministério.

Já o ministro José Graziano (Segurança Alimentar) queria que o Fome Zero, principal marca social do governo, também virasse símbolo da unificação.

O desgaste de Benedita no governo aumentou ainda mais com sua viagem à Argentina, no final de setembro, para um encontro evangélico, custeado com recursos públicos. A ministra também alega que teve compromissos oficiais. Mas o desgaste estava feito.

Agora, para muitos, é dado como certo que o ministério, na reforma ministerial que Lula pretende fazer, volte a funcionar como uma secretaria. E sem Benedita no comando.

Ontem, no lançamento da unificação, Ana Fonseca, coordenadora do Bolsa-Família, disse em seu discurso que "não haverá mais competição entre os órgãos do governo". Estava se referindo justamente ao gerenciamento da área social do governo.

 

GABRIELA ATHIAS
Da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília

   
 
 
 

NOTÍCIAS ANTERIORES
20/10/2003 Corrupção no governo custa mais de R$ 5 bi para o país
20/10/2003 Referendo sobre venda de armas divide deputados
20/10/2003 Lula lança Bolsa Família e enfatiza responsabilidade dos beneficiários
20/10/2003 Planalto quer verba do Bird para programas sociais
20/10/2003 Governo registra pela primeira vez queda no consumo
20/10/2003 Governo banca ONGs, mas não fiscaliza os seus gastos
20/10/2003 Brasileiro pode pagar mais imposto em 2004
20/10/2003 Rodízio de água começa quarta-feira na Grande São Paulo
20/10/2003 Brasil é o país que mais elimina empregos na indústria, diz pesquisa
20/10/2003 Brasil ainda é incapaz de evitar sumiço de seu patrimônio histórico e cultural
17/10/2003 Desempregados com 3º grau aumentam 120