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16/02/2004
2.800 dizem "sim" no ginásio do Ibirapuera

De branco, de azul e, em alguns casos, até de preto. De vestido, véu e grinalda -como manda o figurino- ou apenas de calça jeans e camiseta. Alegres, nervosos ou ansiosos, cerca de 1.400 casais disseram "sim" ontem durante o maior casamento comunitário já realizado no país, com direito a bem-casados, bolo, presentes e até viagens de lua-de-mel.

O recorde anterior era de cerimônia realizada em 2003, que reuniu 820 casais em Ribeirão Preto (SP).

A cerimônia de legalização da união civil dessas centenas de noivos aconteceu ontem pela manhã, no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, e reuniu, segundo a Polícia Militar, cerca de 8.000 pessoas.

Organizado pela Secretaria da Justiça e da Defesa do Estado de São Paulo, o casamento foi destinado à população de baixa renda, que não pode pagar a salgada taxa de R$ 222 cobrada para o registro civil de casamento em cartório.

"Agora ninguém pode usar a desculpa de que não dá para casar porque não pode pagar o registro. A lei [o novo Código Civil] garante a gratuidade da união civil para as pessoas que não podem pagar por ele", brincou o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que, ao lado da mulher, Lú Alckmin, foi o padrinho oficial da cerimônia.

Inversões
O tradicional atraso da noiva para a cerimônia não aconteceu: os casais, que vieram de todas as regiões da capital, chegaram cedo.

Antes do início oficial da cerimônia, às 10h, a noiva Maria José Basílio da Silva, 35, grávida de nove meses, começou a sentir contrações e entrou em trabalho de parto. Ela e o então noivo, Sérgio Ferreira, 41, tiveram de passar na frente dos demais casais e correr para o hospital -já com a certidão em mãos.

Depois de discursos e agradecimentos a empresas e associações que financiaram o evento, Napoleão José do Nascimento, 68, e Irani Rosa Brito Ramos, 65, foram os primeiros a caminhar até o altar para abrir oficialmente a cerimônia. Sob uma chuva de bexigas e muitos aplausos, Nascimento, que vive com sua companheira há 35 anos, disse "sim".

Operação casamento
Foi esse o começo de uma grande operação em que os casais eram chamados para uma das 43 mesas cartoriais distribuídas pelo ginásio, nas quais ocorria a troca de alianças e a assinatura das certidões. Diante de cada mesa cartorial formaram-se filas de noivos. "Casei por causa do bebê, mas estou louca para ir embora. Casar com essa barriga cansa demais", reclamava Viviane Macedo, 23.

Liziane Garcia, 24, grávida de nove meses, casou ontem e vai hoje à maternidade realizar seu primeiro parto. "Eu sonhava em casar primeiro e em só depois ter um filho. Mas, como fui apressadinha, tive de casar depois da barriga mesmo", contou.

Me dê motivos
Ela estava ansiosa, com um vestido de mangas bufantes e saia volumosa. Ele, incomodado com o nó da gravata, admitia estar com medo. "Ele está me enrolando há dois anos. Quando minha mãe soube do casamento de graça, foi ela mesma quem nos inscreveu", contou Ana Paula Araújo, 18, que mora com Everson Araújo, 21, desde os 13 anos de idade. "Enrolei o quanto pude, mas, com esse casamento comunitário, não teve jeito de escapar", brincou ele.

Josefa da Silva, 62, e Jair Teixeira, 68, casaram-se ontem depois de 24 anos. Quando se conheceram, Josefa era solteira, mas já tinha três filhos. "Estou orgulhosa. Fui muito discriminada por ter filhos sem um casamento."

Lua-de-mel
Durante a cerimônia, foram sorteados cinco pacotes de viagens de lua-de-mel para Porto Seguro (BA). Mas os planos de grande parte dos recém-casados não eram tão românticos.

Eduardo Garcia teve que trabalhar depois da cerimônia. Eliseu Gomes, 22, operador de máquinas, também disse que passaria a lua-de-mel na labuta.

Gilberto Alves dos Santos, 46, já dormia no ombro da companheira, Lenice, quando foi chamado para pegar a fila da mesa. "Acordei às 4h. O cansaço é grande, e vai comprometer a lua-de-mel, mas a gente dá um jeito."

Silvestre Pereira, 29, e Priscila da Paixão, 25, foram um dos casais ganhadores da viagem. "Vamos trocar o prêmio pelo valor correspondente em dinheiro", disse ela.


FERNANDA MENA
da Folha de S. Paulo

 
 
 

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