Ambiente
hostil causa problemas psicológicos em professores
Raquel Souza
(Especial para o GD)
Doenças
como depressão e estresse são cada vez mais comuns
entre os docentes brasileiros. Convivendo em ambientes de forte
tensão, esses profissionais fazem parte de um grupo de risco
em que problemas psicológicos podem levar até ao suicídio.
O alerta é da professora Hilda Alevato, da Faculdade de Psicologia
da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Segundo a professora,
a sensação de desânimo e a aparente desmotivação
de alguns docentes têm relação com o que ela
denomina de Síndrome Loco-Neurótica. "Não
se trata de uma doença, mas de uma série de fatores
de risco que deixam os sujeitos vulneráveis a problemas como
o estresse e neuroses", explica.
Em pouco mais
de três meses, o profissional começa a manifestar alterações
no sono, gripes constantes e perda do apetite - apenas alguns indicativos
de que a saúde emocional não vai bem. Outros distúrbios
como impotência sexual, gastrite, úlcera e fadiga crônica
também podem se manifestar.
No trabalho,
o professor que padece dessa síndrome vive sonhando com o
dia da aposentadoria, é apático, não se envolve
com as atividades da escola, reclama de todos os alunos e é
pessimista diante de qualquer nova experiência.
Além
do ambiente hostil ao qual está exposto, somam-se perdas
salariais constantes, desvalorização social da profissão
e fortes cobranças, o que coloca o professor numa espécie
de grupo de risco.
"A Síndrome
Loco-Neurótica não é um problema exclusivo
dessa profissão, mas no caso dos docentes há grandes
complicações como podemos observar. Diante de tanta
dificuldade, o professor passa a se sentir impotente", relata
a professora da UFF.
Ainda não
há dados estatísticos sobre a Síndrome Loco-Neurótica,
mas de acordo com a CNTE (Confederação Nacional dos
Trabalhadores da Educação), 48% dos docentes sofrem
com a síndrome do "burnout" - exaustão profissional
depressiva que leva sua vítima a ter distúrbios psicológicos
e comportamentais.
Ao contrário
do que se possa imaginar, não se trata de um problema presente
apenas nas escolas públicas. A síndrome é bastante
comum nas instituições que possuem precárias
instalações, falhas no processo administrativo, forte
pressão das autoridades e dificuldades nas relações
interpessoais.
Para o diretor
do Sinpro (Sindicato dos Professores Particulares), José
Faro, a mercantilização do ensino e o acirramento
da disputa entre as escolas da rede particular de ensino estão
complicando a vida dos docentes que trabalham no setor privado.
"Nos últimos
trinta anos, as escolas privadas cresceram em ritmo acelerado. Agora,
para conquistar alunos e não sair no prejuízo, elas
apostam em inovações curriculares constantes, exigindo
cada vez mais dos docentes", acusa Faro. No cotidiano das escolas,
os professores convivem com a idéia de que seu aluno é
um cliente, e que, portanto, deve ter seus desejos realizados.
Além
disso, as freqüentes avaliações criam um clima
de disputa entre um professor e outro. "A instabilidade acaba
criando um clima de concorrência e o professor passa a visualizar
em seu colega de trabalho um possível concorrente".
Segundo o diretor,
a falta de estabilidade no trabalho, aliada à ausência
de um plano de carreira (a maioria dos professores da rede privada
ganham por aula) cria uma situação propícia
para que os professores sofram alterações psicológicas.
O Sinpro não possui um levantamento sobre o assunto, mas
os médicos do ambulatório do sindicato lidam cada
vez mais com problemas como o estresse e a fadiga.
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