Previdência
comemora diminuição no déficit, mas ainda não sabe incluir trabalhadores
informais
Natasha Madov
Especial para o GD
Festa no Ministério
da Previdência: a arrecadação de junho bateu
um recorde, chegando a mais de cinco bilhões de reais. Com
isso, o déficit orçamentário da Previdência
Social diminuiu de R$ 879,6 milhões, em maio, para R$ 793,3
milhões, em junho. Mas, especialistas avisam, o atual modelo
de Previdência ainda não consegue incluir o mercado
de trabalho informal.
As razões
para o aumento seriam o aumento do trabalho em carteira assinada,
combate efetivo à sonegação e campanhas de
sensibilização para que trabalhadores autônomos
e informais contribuam com o INSS. Só no primeiro semestre,
800 mil pessoas teriam se inscrito espontaneamente na Previdência.
José
Cecchin, secretário-executivo do Ministério, aposta
que a tendência do chamado "rombo da Previdência"
seja pelo menos se manter estável. Para isso ele espera que
o número de trabalhadores com carteira assinada mantenha
o crescimento e se ancora nas esperanças de um crescimento
econômico significativo.
Dificuldade
em contribuir
No entanto, a tendência do aumento do trabalho informal, ou
seja, sem carteira assinada, torna irreal esta expectativa. Essa
é a opinião do economista Guilherme Delgado, pesquisador
do Instituto de Economia Aplicada (Ipea). "Há uma pequena
recuperação, mas não é um processo que
afete a Previdência estruturalmente."
Para Delgado,
a arrecadação recorde veio da maior rigidez na cobrança
dos devedores da Previdência e na diminuição
de benefícios concedidos, após a emenda constitucional
que instituiu o fator previdenciário, que diminui o valor
das aposentadorias precoces. "Isso fez com que muita gente
deixasse para se aposentar mais tarde, quando chegasse à
idade regulamentar."
O economista
também reserva críticas à chamada "inclusão"
de trabalhadores informais no sistema previdenciário. Ele
considera o período mínimo de contribuição
(35 anos ininterruptos) e a contribuição de 20% em
cima dos rendimentos do trabalhador características que afastam
a grande massa de informais do INSS. "800 mil não são
nada, perto dos 40 milhões de trabalhadores sem carteira
assinada no Brasil", disse, se referindo aos números
divulgados pelo ministério.
O problema poderia
se resolver, segundo Delgado, se o governo começasse a pensar
seriamente em um programa alternativo de previdência para
os trabalhadores informais, da mesma maneira que existe uma previdência
específica para trabalhadores rurais. "Temos que tratar
desiguais desigualmente," acredita.
(Colaborou Raquel
Souza)
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