Prefeitura
entra na moda
Encomendado
pelo conde Matarazzo, o prédio em que será instalada
a sede da prefeitura, no viaduto do Chá, foi projetado
por Marcelo Piacentini, arquiteto favorito do ditador italiano
Benito Mussolini. A imponência da obra refletia o apreço
pela estética fascista, a prosperidade industrial paulistana
e a riqueza dos Matarazzo - nunca uma mesma construção,
no Brasil, exigiu tanta importação de mármore.
Entre
a ascensão de Marta e o declínio dos Matarazzo,
o fascismo foi derrotado, a prosperidade industrial acabou
e o centro da cidade se degradou. Mas sobrou, intacto, o prédio,
agora um desafio para Isay Wienfeld, um dos mais aplaudidos
arquitetos brasileiros.
Isay foi
convidado a adaptar o prédio, sede do Banespa, para
receber a prefeitura. "O desafio é mesclar com
aquele ambiente imperial uma estética democrática."
A idéia é usar os grandes salões de entrada
quase como extensão da calçada, transmitindo
a sensação de proximidade entre o poder e a
população.
Se aquele
prédio era um dos símbolos da riqueza industrial,
o que se busca agora é exibi-lo como ícone arquitetônico
da revitalização do centro - para transformá-lo
em moda - e, mais, nos sonhos de Marta, como marca de uma
São Paulo fashion. "A riqueza de São Paulo
é sua diversidade - é nisso que está
nossa energia e nossa criatividade. E nenhum lugar reúne
tantas tribos diferentes como o centro", afirma Isay.
Para ele,
o trabalho é um desafio especial por ser sua primeira
obra pública. Desenhou boates, bares, bancos, hotéis,
casas; projetou as duas últimas edições
da São Paulo Fashion Week. A coleção
de prêmios fez com que ganhasse, neste ano, perfil do
"New York Times", no qual foi apresentado como alguém
que, a exemplo de Oscar Niemeyer, consegue dar estética
brasileira à arquitetura contemporânea.
Se a primeira
experiência pública de Isay vai ser bem-sucedida
ainda não se sabe. Mas já está servindo
para uma coisa ao menos. Ele voltou a frequentar o centro,
onde, na adolescência, se lambuzava nos sanduíches
de linguiça do Saladas (hoje, sintomaticamente, substituído
por um McDonald's). Longe do refinamento dos Jardins, onde
erigiu a maioria dos projetos, redescobriu o prazer do sanduíche
de pernil do Estadão, no viaduto Nove de Julho, ou
do pastel de bacalhau do Mercado Municipal. Afinal, a melhor
arquitetura paulistana ainda é a culinária.
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