Home
 Tempo Real
 Coluna GD
 Só Nosso
 Asneiras e Equívocos 
 Imprescindível
 Urbanidade 
 Palavr@ do Leitor
 Aprendiz
 
 Quem Somos
 Expediente
  

Dia 13.08.03

A galinha, o veado e o futuro

O estudante universitário Manuel Bonduki conseguiu, nesta semana, o direito de ser lembrado daqui a cem anos, mais precisamente em 11 de agosto de 2103.
Animados por goles de cerveja em um bar da Vila Madalena, integrantes do Centro Acadêmico XI de Agosto, entre os quais Manuel, discutiam idéias para as comemorações do centenário do grêmio, iniciadas na segunda-feira passada.

Queriam algo que fosse além dos discursos solenes.

Manuel propôs, então, um projeto que durasse um século. Uma pretensão que inicialmente foi entendida pela pequena platéia como uma daquelas obras de inspiração etílica tão comuns em mesas de bar. Sugeriu que enterrassem no largo São Francisco, onde está a Faculdade de Direito, uma urna para ser aberta quando o XI de Agosto comemorasse seu bicentenário. "Virou uma brincadeira coletiva", diz Manuel.

A urna atiçou a imaginação criadora não só dos alunos mas dos moradores e das pessoas que trabalham no centro, especialmente dos advogados. Velhinhas deixaram cartas para serem abertas por seus familiares; garçons enviaram os cardápios de seus restaurantes. Irônicos, alunos depositaram monografias escritas por professores da faculdade e exigidas por eles próprios como leitura obrigatória nas provas, para saber se resistirão ao tempo.

Manuel preferiu tirar fotos dos contrastes sociais do centro para serem avaliadas na posteridade. "Será que daqui a cem anos, quando abrirem as urnas e virem as fotos, vão sentir pena da gente?", especula Manuel.

Se a primeira turma de estudantes do XI de Agosto tivesse depositado em uma urna as fotos da época para serem vistas agora, o cenário seria mais elegante, dificilmente se registrariam imagens de meninos de rua, de camelôs e de pedintes. Sonhando em ser uma metrópole de estilo europeu, São Paulo tinha, na época, 240 mil habitantes, e bondes eram puxados por burros pelo viaduto do Chá, onde era cobrado pedágio. Provavelmente, nenhum estudante se imaginaria jogando uma galinha numa mulher, muito menos numa prefeita - e ninguém acreditaria se alguém contasse ter ouvido um ministro da Justiça, numa solenidade, usar a palavra "veado" para qualificar uma ofensa.

 

 
                                                Subir    
   ANTERIORES
c 
 

A invenção da Hip Hopera

 

Mulher ensina homem a pilotar

 

Esquina da saudade

 

Menino do rio

 

Prefeitura entra na moda

 

O padre que acorda com o sabiá

 

Bar das lésbicas entra na história

 

Árvore da vida

 

Prêmio Minhocão

 

Rua de livros

 

O espírito do lugar

 

O arquiteto da "cracolândia"

 

O professor no paraíso

 

Um grafiteiro suspenso no ar

 

O agricultor da cidade

 

Direito à paisagem

 

As olimpíadas do arquiteto

 

Modelo de beleza

 

O médico-jardineiro anônimo

 

Guerra contra o aeroporto