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19/09/2002
-
11h29
da Folha de S.Paulo
"Não, não se trata de defender mais intervenção do Estado na economia ou que o Estado volte a produzir aço..." O trecho, recentemente publicado na Folha, fere o princípio do paralelismo sintático, segundo o qual quaisquer elementos da frase coordenados entre si devem apresentar estrutura gramatical similar.
Para que a frase tivesse simetria, os núcleos do objeto direto do verbo "defender" teriam de ser de mesma natureza (ambos verbos ou ambos substantivos). Assim: "... não se trata de defender mais intervenção do Estado na economia ou a volta da produção estatal de aço...". Ou: "...não se trata de defender que o Estado intervenha mais na economia ou que volte a produzir aço...".
O princípio do paralelismo facilita a leitura do enunciado e proporciona clareza à expressão. Na maioria das vezes, é intuído pelo próprio falante. Há certas expressões -por exemplo, os pares correlativos "não só... mas também", "tanto... como", "seja... seja", "quer... quer", "antes... que"- que criam no leitor a expectativa de uma construção simétrica ou paralela. Assim, dizemos: "Ele não só trabalha mas também estuda". Mas possivelmente não diríamos: "Ele não só trabalha mas também é estudante".
Um período como: "Trata-se de um argumento forte e que pode encerrar o debate..." rigorosamente fere o princípio do paralelismo sintático, pois o substantivo "argumento" é modificado pelo adjetivo "forte" e pela oração subordinada adjetiva "que pode encerrar o debate...". E a conjunção "e" deveria coordenar elementos de valor sintático idêntico (ou dois adjetivos, ou duas orações subordinadas adjetivas).
Eliminando-se a coordenação, o enunciado flui sem exigir a simetria. Assim: "Trata-se de um argumento forte, que pode encerrar o debate...".
Também seria possível empregar dois adjetivos: "Trata-se de um argumento forte, capaz de encerrar o debate...". Ou mesmo duas orações adjetivas: "Trata-se de um argumento que é forte e que pode encerrar o debate...".
É comum que a ausência de simetria ocorra na colocação da partícula negativa. No seguinte trecho: "Tal método não ocupa a tela de modo escancarado, mas por meio do acúmulo de imagens", extraído de questão da Fuvest, o paralelismo estaria garantido caso o advérbio "não" fosse colocado antes da expressão "de modo escancarado", pois o método ocupa a tela não de um jeito, mas de outro. Não é a ação de ocupar que deve ser negada.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
Leia mais:
História: A formação da classe operária na Europa
Atualidades: O poder dos EUA e o antiamericanismo
Física: A propagação do calor e o efeito estufa
Geografia: Os significados das siglas e o exame vestibular
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Português: Paralelismo sintático torna texto mais preciso
THAÍS NICOLETI DE CAMARGOda Folha de S.Paulo
"Não, não se trata de defender mais intervenção do Estado na economia ou que o Estado volte a produzir aço..." O trecho, recentemente publicado na Folha, fere o princípio do paralelismo sintático, segundo o qual quaisquer elementos da frase coordenados entre si devem apresentar estrutura gramatical similar.
Para que a frase tivesse simetria, os núcleos do objeto direto do verbo "defender" teriam de ser de mesma natureza (ambos verbos ou ambos substantivos). Assim: "... não se trata de defender mais intervenção do Estado na economia ou a volta da produção estatal de aço...". Ou: "...não se trata de defender que o Estado intervenha mais na economia ou que volte a produzir aço...".
O princípio do paralelismo facilita a leitura do enunciado e proporciona clareza à expressão. Na maioria das vezes, é intuído pelo próprio falante. Há certas expressões -por exemplo, os pares correlativos "não só... mas também", "tanto... como", "seja... seja", "quer... quer", "antes... que"- que criam no leitor a expectativa de uma construção simétrica ou paralela. Assim, dizemos: "Ele não só trabalha mas também estuda". Mas possivelmente não diríamos: "Ele não só trabalha mas também é estudante".
Um período como: "Trata-se de um argumento forte e que pode encerrar o debate..." rigorosamente fere o princípio do paralelismo sintático, pois o substantivo "argumento" é modificado pelo adjetivo "forte" e pela oração subordinada adjetiva "que pode encerrar o debate...". E a conjunção "e" deveria coordenar elementos de valor sintático idêntico (ou dois adjetivos, ou duas orações subordinadas adjetivas).
Eliminando-se a coordenação, o enunciado flui sem exigir a simetria. Assim: "Trata-se de um argumento forte, que pode encerrar o debate...".
Também seria possível empregar dois adjetivos: "Trata-se de um argumento forte, capaz de encerrar o debate...". Ou mesmo duas orações adjetivas: "Trata-se de um argumento que é forte e que pode encerrar o debate...".
É comum que a ausência de simetria ocorra na colocação da partícula negativa. No seguinte trecho: "Tal método não ocupa a tela de modo escancarado, mas por meio do acúmulo de imagens", extraído de questão da Fuvest, o paralelismo estaria garantido caso o advérbio "não" fosse colocado antes da expressão "de modo escancarado", pois o método ocupa a tela não de um jeito, mas de outro. Não é a ação de ocupar que deve ser negada.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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