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22/04/2007 - 15h50

Donos congelam sêmen de pets para ter os filhotes

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ISABELA MENA
da Revista da Folha

Ter um animal de estimação é ter a certeza da perda. Há quem os evite para não sofrer com a separação, há quem, diante da morte do seu, jure jamais se apegar a outro. E há aqueles que, justamente por causa disso, congelam o sêmen do bicho querido para que o próximo saia do mesmo jeitinho.

Bastante comum entre criadores, o congelamento de sêmen serve para perpetuar e aperfeiçoar raças e tem alto valor comercial em muitos países, incluindo o Brasil. Entre proprietários particulares a prática tem cunho emocional e, pouco conhecida, encontra como barreira o custo. Mas há quem pague para ver.

Folha Imagem
Mário Rubens Assunção com Lissi, que receberá sêmen congelado
Mário Rubens Assunção com Lissi, que receberá sêmen congelado
É o caso do promotor de justiça aposentado Mário Rubens Assunção, 66, dono de Thor, pastor alemão capa preta morto em 2004, aos 11 anos, vítima de câncer nos ossos.

Diante da iminência da perda, Mário se lembrou de ter lido sobre o assunto e decidiu congelar o sêmen de Thor.

"Foi o melhor cachorro que tive, tanto em temperamento como de beleza. Ele era perfeito, achei que valia a pena", diz. Desde então o sêmen de Thor está à espera do segundo cio de Lissi, pastora alemã de dois anos e meio que Mário cria em casa, juntamente com outros cinco cachorros.

De acordo com a veterinária Camila Infantosi Vannucchi, professora doutora em reprodução animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP e responsável pela coleta de Thor, a procura pelo procedimento por particulares ainda é bastante pequena. "Donos de animais de companhia ainda não conhecem essa possibilidade", diz. "Normalmente quem procura é porque o cão está idoso ou teve diagnosticada alguma doença com prognóstico muito ruim, que deu ao animal pouco tempo de vida."

Nem a idade avançada nem a doença de Thor impossibilitaram a realização do procedimento, já que a qualidade do sêmen do pastor foi comprovada pela avaliação prévia exigida na prática do congelamento, que inclui dois exames de sangue e um de DNA, para evitar que o material seja um veículo de transmissão de doenças e tenha sua procedência assegurada.

Massagem peniana

Tanto para a realização do DNA como para o congelamento em si, é necessário colher o sêmen do bichinho.

Alguns animais não precisam de muito estímulo, outros precisam de uma cadela no cio para a coleta do material. Nesse caso, assim que monta na fêmea e começa os movimentos de cópula, o cão tem seu pênis desviado e a técnica de massagem peniana entra em ação: devidamente envolta em uma luva de látex, é uma mão humana que coleta o sêmen do bicho. Coberto por uma pele, o pênis é estimulado até inchar. A pele é então retirada e o material colocado por um funil em um recipiente chamado tubo de centrífuga. O procedimento é indolor.

Levar ou não uma "acompanhante" para a coleta fica a critério do dono, mas a veterinária Sandra Satzinger, mestre em reprodução animal, acredita que o sêmen do cão estimulado pelo feromônio da cadela tem mais qualidade. "O volume, a concentração e a motilidade são maiores", diz.

Coleta feita, o material é acondicionado em botijão de nitrogênio e armazenado em um banco de sêmen. Pode ser guardado infinitamente sem perder a qualidade, mas há necessidade do pagamento de uma taxa anual para a manutenção.

A fase seguinte --seja lá quanto tempo depois-- é a inseminação artificial, que tem várias técnicas. A mais comum e que apresenta melhores resultados é a intra-uterina pelo método cirúrgico, semelhante a uma operação de esterilização. "É segura, os riscos são os inerentes a uma cirurgia normal", diz a veterinária Sandra.

Ela conta que nos países europeus essa técnica é considerada antiética e, por isso, proibida. "Eles acreditam que a inseminação não justifica uma cirurgia e utilizam apenas a transcervical, feita com a introdução de um cateter na vagina, que acessa o útero. É preciso muita delicadeza e técnica porque não é um procedimento fácil."

Outra técnica bastante utilizada por aqui é a intra-vaginal, sem necessidade de cirurgia. "Introduz-se uma pipeta específica, própria para sêmen, na vagina da cadela", explica Camila.

Seja qual for o método escolhido, é importante que o proprietário esteja ciente de que o bichinho que morreu não volta mais, tampouco a cria gerada de seu sêmen será um clone, idêntico ao falecido. É, na verdade, um filhote, com 50%, no máximo, de chance de ser semelhante ao pai porque a carga genética da mãe garante os outros 50.

"Ser parecido é muito relativo, a fêmea pode ter uma genética mais forte", lembra Sandra. "Temos sempre que trazer os proprietários para a realidade, não há como prever o que vai acontecer."

Para quem tem isso claro, é reconfortante saber que é possível congelar o sêmen de um bichinho querido. Hoje com sete anos, o basset hound Lotho, da veterinária Mayra Elena Assumpção, 37, teve seu sêmen congelado em 2005 por acaso. "Fiz a coleta sem imaginar que poderia precisar um dia", diz Mayra. Há um ano, o cãozinho teve uma degeneração testicular severa e não tem mais espermatozóide. Mas pode tranqüilamente procriar, caso seja o desejo da dona.

Numa fria

Não é nada barato congelar o sêmen dos animais. Dos exames à manutenção, o procedimento indolor no cachorro, dói no bolso do dono*.

R$ 50 Sorologia para brucelose (doença que causa aborto, infertilidade e pode não ter sinais)

R$ 70 Leptospirose

R$ 300 DNA (para identificação do sêmen)

R$ 300 Congelamento de sêmen

R$ 200 Manutenção anual em botijão de nitrogênio

* Preço médio

Esta reportagem foi publicada pela Revista da Folha em 15/04/2007

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