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18/04/2003
-
02h55
da Folha de S.Paulo
"American Life" é mais um golpe feroz de Madonna. Aos 44 anos, ela faz um CD todo vazado por referências sobre sua própria decadência -antes que a decadência aconteça de fato.
Madonna parece estar fascinada e assustada com essa idéia. Sua audácia em assumi-lo talvez se deva aos exemplos de filme de terror de Michael Jackson.
Começa criticando o hoje fragilizado "american way of life", na faixa-título, e segue tripudiando dele em "Hollywood". Está casada com um londrino; confere poderes extraordinários ao ascendente Mirwais, talentosíssimo produtor sintonizado com a cena francesa de Air, Daft Punk e similares.
"Acho que fiz tudo errado", "tentei ficar no topo", "foda-se", vai declarando em "American Life", que também critica (num rap!) a obsessão pelo corpo. Ali e em "Hollywood", parece estar rebatendo os excessos arrivistas da jovem musa electro Miss Kittin. Mas Madonna sabe bem que era igualzinha a Kittin quando moça.
Mirwais esnoba o electro, mas em parte é papo furado. Ele é a face mais sofisticada desse espírito, e por isso injeta em Madonna silicone fofo de eletrônica retrô. "Love Profusion", por exemplo, caberia num disco de tecnopop de 1981 de Rita Lee. "Mother & Father", o instante sensacional do CD, é cheio de efeitos que são, sim, do retrô-futurismo do electro (e Madonna ainda cita Freud!)
E segue, espanando fantasmas. Na robocop "I'm So Stupid", sobram agulhadas a Michael Jackson: "Sou estúpida/ porque vivo numa bolha minúscula", "era tudo ganância". No gospel tipo "Like a Prayer" (89), "Nothing Fails", revela: "Não tenho mais medo de cair". Na romântica "Intervention" diz que "era hora de acordar desse sonho" -quer nos convencer que está se despedindo?
Seja o que for, vai conquistando altivez, num CD que soa novo sem carregar nada realmente novo. E termina com outra balada chatinha, "Easy Ride", em que diz que deseja uma boa vida, mas não na mamata -quer batalhar, merecê-la, como sempre fez.
De volta ao começo, essa é a mesma personagem da faixa-título, que tenta soar européia demais, criticar a América demais, mas soa tão... norte-americana. Temendo a decadência e enfrentando-a feito tigresa, eis Madonna em "American Life": o retrato do que quer criticar, a América acuada, mas um tanto mais transparente.
Avaliação:
American Life
Artista: Madonna
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 25, em média
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Crítica: "American Life" é mais um golpe feroz de Madonna
PEDRO ALEXANDRE SANCHESda Folha de S.Paulo
"American Life" é mais um golpe feroz de Madonna. Aos 44 anos, ela faz um CD todo vazado por referências sobre sua própria decadência -antes que a decadência aconteça de fato.
Madonna parece estar fascinada e assustada com essa idéia. Sua audácia em assumi-lo talvez se deva aos exemplos de filme de terror de Michael Jackson.
Começa criticando o hoje fragilizado "american way of life", na faixa-título, e segue tripudiando dele em "Hollywood". Está casada com um londrino; confere poderes extraordinários ao ascendente Mirwais, talentosíssimo produtor sintonizado com a cena francesa de Air, Daft Punk e similares.
"Acho que fiz tudo errado", "tentei ficar no topo", "foda-se", vai declarando em "American Life", que também critica (num rap!) a obsessão pelo corpo. Ali e em "Hollywood", parece estar rebatendo os excessos arrivistas da jovem musa electro Miss Kittin. Mas Madonna sabe bem que era igualzinha a Kittin quando moça.
Mirwais esnoba o electro, mas em parte é papo furado. Ele é a face mais sofisticada desse espírito, e por isso injeta em Madonna silicone fofo de eletrônica retrô. "Love Profusion", por exemplo, caberia num disco de tecnopop de 1981 de Rita Lee. "Mother & Father", o instante sensacional do CD, é cheio de efeitos que são, sim, do retrô-futurismo do electro (e Madonna ainda cita Freud!)
E segue, espanando fantasmas. Na robocop "I'm So Stupid", sobram agulhadas a Michael Jackson: "Sou estúpida/ porque vivo numa bolha minúscula", "era tudo ganância". No gospel tipo "Like a Prayer" (89), "Nothing Fails", revela: "Não tenho mais medo de cair". Na romântica "Intervention" diz que "era hora de acordar desse sonho" -quer nos convencer que está se despedindo?
Seja o que for, vai conquistando altivez, num CD que soa novo sem carregar nada realmente novo. E termina com outra balada chatinha, "Easy Ride", em que diz que deseja uma boa vida, mas não na mamata -quer batalhar, merecê-la, como sempre fez.
De volta ao começo, essa é a mesma personagem da faixa-título, que tenta soar européia demais, criticar a América demais, mas soa tão... norte-americana. Temendo a decadência e enfrentando-a feito tigresa, eis Madonna em "American Life": o retrato do que quer criticar, a América acuada, mas um tanto mais transparente.
Avaliação:
American Life
Artista: Madonna
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 25, em média
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