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19/03/2004
-
03h07
PEDRO BUTCHER
Crítico da Folha de S.Paulo
Quando os primeiros rumores em torno de "A Paixão de Cristo" começaram a pipocar, em agosto de 2002, Mel Gibson já estava na Itália, terminando de escolher as locações do filme (na região de Basilicata, ao sul do país). Um mês depois, o projeto foi oficialmente anunciado em entrevista coletiva na sala Fellini da Cinecittà, o lendário estúdio romano onde ele filmou as cenas de interior.
Na entrevista, Gibson contou que "Paixão" era o projeto da sua vida. A idéia surgira dez anos antes, durante uma crise pessoal, e seu objetivo era ser o mais fiel possível ao relato bíblico das últimas horas da vida de Cristo. Por isso, o filme seria falado em latim e aramaico. "É claro que ninguém quer tocar em um filme falado em línguas mortas. Eles acham que estou louco", disse Gibson, referindo-se aos executivos dos grandes estúdios. Coube, então, à Icon Productions, que pertence ao ator, bancar sozinha os US$ 25 milhões da produção, pois nenhuma grande produtora queria se comprometer. Além disso, Gibson não queria nenhuma grande estrela no elenco.
A imprensa tampouco o levou a sério. Revistas especializadas apostavam em um fracasso, prevendo que o filme faria, no máximo, US$ 30 milhões em seus primeiros dias em exibição. Fez US$ 82 milhões, e no próximo fim de semana deverá ultrapassar US$ 300 milhões, sem contar rendas internacionais.
Todos quebraram a cara ao subestimar a capacidade de Gibson, que desde o início agiu como um profundo conhecedor das entranhas do jogo hollywoodiano. Cada passo parece ter sido meticulosamente calculado, da decisão por anunciar o projeto na Itália, a uma distância segura do frenesi de Los Angeles e a poucos quilômetros de distância do Vaticano, ao forte estímulo à polêmica, além de uma seletiva aparição em programas de televisão.
Absolutamente tudo foi motivo para polêmica. Até mesmo o título, que precisou ser trocado duas vezes por questões de direitos autorais, até chegar ao definitivo "The Passion of the Christ".
"A Paixão de Cristo" ocupou a mídia por quase um ano inteiro antes mesmo de estar pronto, por conta de rumores de se tratar de uma versão ultraviolenta e possivelmente anti-semita da morte de Cristo, estimulando a visão de que os judeus teriam sido responsáveis pela morte de Jesus.
Gibson usa sempre a mesma defesa: "O filme é apenas uma dramatização fiel do que a Bíblia diz". Apoiado na própria popularidade, o astro se fez arauto da verdadeira história da morte de Cristo.
Em 2003, a polêmica foi alimentada, com o roteiro do filme e cópias piratas surgindo misteriosamente nas mãos de grupos judaicos, que logo passaram a esbravejar contra o filme, ajudando o marketing espontâneo.
A polêmica aumentou com a estréia do filme (nos EUA, ela aconteceu no dia 25 de fevereiro, Quarta-Feira de Cinzas, em mais de 2.000 salas). Os cinemas encheram, não apenas graças à romaria cristã, mas também pelo público atraído pela propalada violência.
As grandes esperanças de Gibson, agora, são de que o filme seja absolvido das pré-acusações de anti-seimitismo e, uma vez avalizado pelo status de "blockbuster mundial", chegue intacto à corrida do Oscar 2005. Como "O Senhor dos Anéis", é um exemplo de triunfo pessoal. O que, no fim das contas, costuma suplantar qualquer polêmica. Verdadeira ou falsa.
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Crítico da Folha de S.Paulo
Quando os primeiros rumores em torno de "A Paixão de Cristo" começaram a pipocar, em agosto de 2002, Mel Gibson já estava na Itália, terminando de escolher as locações do filme (na região de Basilicata, ao sul do país). Um mês depois, o projeto foi oficialmente anunciado em entrevista coletiva na sala Fellini da Cinecittà, o lendário estúdio romano onde ele filmou as cenas de interior.
Na entrevista, Gibson contou que "Paixão" era o projeto da sua vida. A idéia surgira dez anos antes, durante uma crise pessoal, e seu objetivo era ser o mais fiel possível ao relato bíblico das últimas horas da vida de Cristo. Por isso, o filme seria falado em latim e aramaico. "É claro que ninguém quer tocar em um filme falado em línguas mortas. Eles acham que estou louco", disse Gibson, referindo-se aos executivos dos grandes estúdios. Coube, então, à Icon Productions, que pertence ao ator, bancar sozinha os US$ 25 milhões da produção, pois nenhuma grande produtora queria se comprometer. Além disso, Gibson não queria nenhuma grande estrela no elenco.
A imprensa tampouco o levou a sério. Revistas especializadas apostavam em um fracasso, prevendo que o filme faria, no máximo, US$ 30 milhões em seus primeiros dias em exibição. Fez US$ 82 milhões, e no próximo fim de semana deverá ultrapassar US$ 300 milhões, sem contar rendas internacionais.
Todos quebraram a cara ao subestimar a capacidade de Gibson, que desde o início agiu como um profundo conhecedor das entranhas do jogo hollywoodiano. Cada passo parece ter sido meticulosamente calculado, da decisão por anunciar o projeto na Itália, a uma distância segura do frenesi de Los Angeles e a poucos quilômetros de distância do Vaticano, ao forte estímulo à polêmica, além de uma seletiva aparição em programas de televisão.
Absolutamente tudo foi motivo para polêmica. Até mesmo o título, que precisou ser trocado duas vezes por questões de direitos autorais, até chegar ao definitivo "The Passion of the Christ".
"A Paixão de Cristo" ocupou a mídia por quase um ano inteiro antes mesmo de estar pronto, por conta de rumores de se tratar de uma versão ultraviolenta e possivelmente anti-semita da morte de Cristo, estimulando a visão de que os judeus teriam sido responsáveis pela morte de Jesus.
Gibson usa sempre a mesma defesa: "O filme é apenas uma dramatização fiel do que a Bíblia diz". Apoiado na própria popularidade, o astro se fez arauto da verdadeira história da morte de Cristo.
Em 2003, a polêmica foi alimentada, com o roteiro do filme e cópias piratas surgindo misteriosamente nas mãos de grupos judaicos, que logo passaram a esbravejar contra o filme, ajudando o marketing espontâneo.
A polêmica aumentou com a estréia do filme (nos EUA, ela aconteceu no dia 25 de fevereiro, Quarta-Feira de Cinzas, em mais de 2.000 salas). Os cinemas encheram, não apenas graças à romaria cristã, mas também pelo público atraído pela propalada violência.
As grandes esperanças de Gibson, agora, são de que o filme seja absolvido das pré-acusações de anti-seimitismo e, uma vez avalizado pelo status de "blockbuster mundial", chegue intacto à corrida do Oscar 2005. Como "O Senhor dos Anéis", é um exemplo de triunfo pessoal. O que, no fim das contas, costuma suplantar qualquer polêmica. Verdadeira ou falsa.
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