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06/02/2006
-
16h10
SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online
O sucesso comercial de "O Segredo de Brokeback Mountain", filme estrangeiro mais visto no último final de semana e favorito para levar o Oscar, impulsiona a onda do "gay movie". De olho no tilintar da caixa registradora, o chamado "circuitão" tende a exibir mais produções com temática homossexual, antes restrita ao gueto, cineclubes e festivais, como o Mix Brasil.
Agora, ver beijos e histórias de amor entre pessoas do mesmo sexo virou a demanda do momento, que extrapola o "mundinho" dos descolados. Na platéia, todo tipo de perfil: dos namorados adolescentes (menina e menino) ao casal de aposentados. Abrir os ouvidos após uma sessão de "Brokeback" é uma oportunidade de capturar essa diversidade e levantar questionamentos: o filme influencia um enrustido a sair do armário? Os gays assumidos vão se expor mais em público? Haverá uma reação homofóbica e até violenta à tamanha auto-afirmação?
Vamos ao Espaço Unibanco Arteplex, no Shopping Frei Caneca, um dos "points" de intensa freqüência GLS --aquele shopping em que um beijo entre dois rapazes virou caso de polícia em 2003 e hoje é chamado de "Gay Caneca" por estar em uma região "arco-íris".
"Após esse filme, vou beijar mais meu namorado em público", diz um espectador de "Brokeback" no fim da sessão. Outro fala: "Adorei a roupa dos caubóis. Acho que vou comprar uma camisa jeans Lee e uma calça Levi's." Uma menina comenta com a amiga: "Já imaginou pegar seu namorado beijando outro homem. Viu a cara de mulher do caubói? Deu um dó." Outra: "Conheci um caubói gay no rodeio de Barretos". Alguém também fez comentário desagradável de ouvir: "E aquela cena do cuspe?!"
O curioso de ouvir essas reações é medir o grau de homofobia introjetada e dissimulada de cada um. Uma espectadora falou: "O caubói loiro não era gay. Ele não era como o outro que transava com qualquer um. Ele era apenas uma pessoa solitária que cedeu a um desejo."
Outra forma de tornar "Brokeback" mais aceitável socialmente é dizer que se trata apenas de uma "história de amor". O tom lírico realmente induz a perceber o filme dessa maneira --embora o lado trágico e hipócrita do conflito mostrado ainda permaneça presente na realidade.
Ou seja, a história dos caubóis é passado (anos 60 e 70), em um tempo onde gays transavam sem camisinha ou eram mortos com o pênis decepado ou os testículos esmagados pelos homofóbicos, mulheres fechavam os olhos para seus maridos "enrustidos", e garotos se sentiam "freaks" por se masturbarem pensando nos seus amiguinhos.
É difícil dizer o que será do mundo gay após "Brokeback", se "sair do armário" será uma atitude menos dolorosa e mais aceitável, se não haverá um "esquadrão da morte" para exterminar as chamadas "pintosas", como são tachados os mais efeminados ou aqueles que demonstram carinho por seus parceiros em público.
O certo é que a questão gay estará mais visível --imagina quando o filme chegar à TV aberta e atingir corações e mentes dos grotões--, mais filmes vão ganhar as salas de cinema abordando o mundo homossexual, desafiando o público a questionar seus preconceitos, sacudindo suas convicções. Essa é uma façanha e tanto para 134 minutos de imagens.
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Editor de Ilustrada da Folha Online
O sucesso comercial de "O Segredo de Brokeback Mountain", filme estrangeiro mais visto no último final de semana e favorito para levar o Oscar, impulsiona a onda do "gay movie". De olho no tilintar da caixa registradora, o chamado "circuitão" tende a exibir mais produções com temática homossexual, antes restrita ao gueto, cineclubes e festivais, como o Mix Brasil.
Agora, ver beijos e histórias de amor entre pessoas do mesmo sexo virou a demanda do momento, que extrapola o "mundinho" dos descolados. Na platéia, todo tipo de perfil: dos namorados adolescentes (menina e menino) ao casal de aposentados. Abrir os ouvidos após uma sessão de "Brokeback" é uma oportunidade de capturar essa diversidade e levantar questionamentos: o filme influencia um enrustido a sair do armário? Os gays assumidos vão se expor mais em público? Haverá uma reação homofóbica e até violenta à tamanha auto-afirmação?
Divulgação |
Única cena de nu frontal do filme: caubóis vão tomar banho |
"Após esse filme, vou beijar mais meu namorado em público", diz um espectador de "Brokeback" no fim da sessão. Outro fala: "Adorei a roupa dos caubóis. Acho que vou comprar uma camisa jeans Lee e uma calça Levi's." Uma menina comenta com a amiga: "Já imaginou pegar seu namorado beijando outro homem. Viu a cara de mulher do caubói? Deu um dó." Outra: "Conheci um caubói gay no rodeio de Barretos". Alguém também fez comentário desagradável de ouvir: "E aquela cena do cuspe?!"
O curioso de ouvir essas reações é medir o grau de homofobia introjetada e dissimulada de cada um. Uma espectadora falou: "O caubói loiro não era gay. Ele não era como o outro que transava com qualquer um. Ele era apenas uma pessoa solitária que cedeu a um desejo."
Outra forma de tornar "Brokeback" mais aceitável socialmente é dizer que se trata apenas de uma "história de amor". O tom lírico realmente induz a perceber o filme dessa maneira --embora o lado trágico e hipócrita do conflito mostrado ainda permaneça presente na realidade.
Ou seja, a história dos caubóis é passado (anos 60 e 70), em um tempo onde gays transavam sem camisinha ou eram mortos com o pênis decepado ou os testículos esmagados pelos homofóbicos, mulheres fechavam os olhos para seus maridos "enrustidos", e garotos se sentiam "freaks" por se masturbarem pensando nos seus amiguinhos.
É difícil dizer o que será do mundo gay após "Brokeback", se "sair do armário" será uma atitude menos dolorosa e mais aceitável, se não haverá um "esquadrão da morte" para exterminar as chamadas "pintosas", como são tachados os mais efeminados ou aqueles que demonstram carinho por seus parceiros em público.
O certo é que a questão gay estará mais visível --imagina quando o filme chegar à TV aberta e atingir corações e mentes dos grotões--, mais filmes vão ganhar as salas de cinema abordando o mundo homossexual, desafiando o público a questionar seus preconceitos, sacudindo suas convicções. Essa é uma façanha e tanto para 134 minutos de imagens.
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