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09/06/2006
-
10h15
DIÓGENES MUNIZ
da Folha Online
Em "Pergunte ao Pó", que estréia nesta sexta-feira (9), Arturo Bandini é um aspirante a escritor descendente de italianos. Bandini vive num hotel barato, comendo restos e tentando bolar uma boa história, daquelas que rendem fama imediata. Robert Towne, diretor do filme, já não precisa de uma história dessas --ele é o roteirista de "Chinatown"--, mas isso não o impediu de arriscar seu nome numa difícil adaptação do escritor americano John Fante (1909-1983).
O filme se passa na época da Grande Depressão, quando os páreas não possuem identidade, só rótulos: são mexicanos, italianos, filipinos, judeus. A câmera noir de "Pergunte ao Pó" acompanha o encontro do ítalo-americano Bandini (Colin Farrell) com a garçonete mexicana Camilla Lopez (Salma Hayek) em Los Angeles.
Estranhos no ninho californiano, os dois nutrem uma relação de conivência e agressões. Ao se aproximarem, enxergam o próprio deslocamento, sentindo vergonha por não serem tão americanos quanto gostariam.
Obra capital e semi-biográfica de John Fante, "Pergunte ao Pó" foi lançado em 1939. Beirando o experimentalismo, a narrativa de Fante é tarefa dura para roteiristas, embora ele mesmo tenha sido um deles. São tantos temas que cabem em sua prosa aparentemente simples que não surpreenderia se outro diretor, ao decidir refilmá-lo, fizesse algo sem interseções com este lançamento.
Quando o autor do livro morreu, diabético, cego e alcoólatra, sua obra ainda era obscura ao público dos EUA, mas Towne já havia discutido com ele uma possível transposição para a película. Rodar "Pergunte ao Pó" era, segundo o diretor, "uma obsessão pessoal".
Fante escreveu sobre a época em que viveu, assim como Towne filma sob o viés de seu tempo. Daí que a problemática do estrangeiro nos EUA, tão recorrente hoje, seja mais retratada no filme do que no próprio livro. Ficam de lado boa parte da megalomania, as divagações mentirosas e o mote considerado por muitos como o principal do livro: o fracasso.
O mergulho romântico do casal protagonista pode desagradar quem já leu a obra, mas não chega a ofuscar coadjuvantes memoráveis, como a flagelada Vera Rivkin (Idina Menzel) e o barman Sammy (Justin Kirk), em duas elogiadas atuações.
Prevendo que admiradores do escritor poderiam sair do cinema torcendo o nariz, Towne teceu sutis desculpas pelas mudanças mais bruscas na história. Durante a trama, o diretor não poupa tiradas dúbias sobre a impossibilidade de se atingir a essência do livro. "O que você imagina deve ser melhor do que a realidade", diz Camilla para Bandini, que se esquiva de carinhos por preferi-la na imaginação. Mais parece Towne se explicando junto aos leitores ferrenhos de "Pergunte ao Pó".
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"Pergunte ao Pó" dribla leitores e tenta agradar no cinema
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da Folha Online
Em "Pergunte ao Pó", que estréia nesta sexta-feira (9), Arturo Bandini é um aspirante a escritor descendente de italianos. Bandini vive num hotel barato, comendo restos e tentando bolar uma boa história, daquelas que rendem fama imediata. Robert Towne, diretor do filme, já não precisa de uma história dessas --ele é o roteirista de "Chinatown"--, mas isso não o impediu de arriscar seu nome numa difícil adaptação do escritor americano John Fante (1909-1983).
O filme se passa na época da Grande Depressão, quando os páreas não possuem identidade, só rótulos: são mexicanos, italianos, filipinos, judeus. A câmera noir de "Pergunte ao Pó" acompanha o encontro do ítalo-americano Bandini (Colin Farrell) com a garçonete mexicana Camilla Lopez (Salma Hayek) em Los Angeles.
Estranhos no ninho californiano, os dois nutrem uma relação de conivência e agressões. Ao se aproximarem, enxergam o próprio deslocamento, sentindo vergonha por não serem tão americanos quanto gostariam.
Divulgação |
Salma Hayek e Colin Farrell encarnam casal deslocado em "Pergunte ao Pó" |
Quando o autor do livro morreu, diabético, cego e alcoólatra, sua obra ainda era obscura ao público dos EUA, mas Towne já havia discutido com ele uma possível transposição para a película. Rodar "Pergunte ao Pó" era, segundo o diretor, "uma obsessão pessoal".
Fante escreveu sobre a época em que viveu, assim como Towne filma sob o viés de seu tempo. Daí que a problemática do estrangeiro nos EUA, tão recorrente hoje, seja mais retratada no filme do que no próprio livro. Ficam de lado boa parte da megalomania, as divagações mentirosas e o mote considerado por muitos como o principal do livro: o fracasso.
O mergulho romântico do casal protagonista pode desagradar quem já leu a obra, mas não chega a ofuscar coadjuvantes memoráveis, como a flagelada Vera Rivkin (Idina Menzel) e o barman Sammy (Justin Kirk), em duas elogiadas atuações.
Prevendo que admiradores do escritor poderiam sair do cinema torcendo o nariz, Towne teceu sutis desculpas pelas mudanças mais bruscas na história. Durante a trama, o diretor não poupa tiradas dúbias sobre a impossibilidade de se atingir a essência do livro. "O que você imagina deve ser melhor do que a realidade", diz Camilla para Bandini, que se esquiva de carinhos por preferi-la na imaginação. Mais parece Towne se explicando junto aos leitores ferrenhos de "Pergunte ao Pó".
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