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08/10/2006 - 12h02

Jornalista russa assassinada investigava tortura na Tchetchênia

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da Efe, em Moscou

A jornalista russa Anna Politkovskaya, assassinada neste sábado no elevador do prédio onde morava, em Moscou, preparava uma matéria sobre as torturas sistemáticas na Tchetchênia, informou hoje a jornal "Novaya Gazeta", onde trabalhava desde 1999.

"Por enquanto, ainda não temos as notas em nossas mãos, mas sabemos que há testemunhos e fotografias", disse Vitali Yaroshevski, redator-chefe do 'Novaya Gazeta'", citado pela agência RIA Novosti.

O "Novaya Gazeta" informou que fará uma investigação independente sobre o assassinato da jornalista, considerada uma das mais críticas à política do Kremlin na Tchetchênia.

"A experiência de outras investigações confirma que nós podemos conseguir mais informação que os órgãos de segurança. Simplesmente porque eles não têm as fontes com as quais nós contamos", diz a direção do jornal.

Segundo a União de Jornalistas da Rússia, desde que o presidente russo, Vladimir Putin, chegou ao poder, no início de 2000, 12 casos de assassinatos de jornalistas não foram esclarecidos. Politkovskaya, que recebeu um tiro no peito e outro na cabeça, é mais uma na lista dos mais de 300 jornalistas mortos ou desaparecidos na Rússia desde 1991.

Homenagem

O "Novaya Gazeta" publicará na segunda-feira um número especial com seis páginas dedicadas exclusivamente a Politkovskaya, autora de matérias sobre os horrores da vida na Tchetchênia e no Cáucaso.

Em seu site, o jornal informa neste domingo que o assassinato "foi a vingança ou de Ramzan Kadyrov (primeiro-ministro tchetcheno), sobre quem Politkovskaya escrevia freqüentemente, ou dos que querem que as suspeitas caiam sobre ele".

O assassinato de Politkovskaya coincidiu com o 54º aniversário do presidente russo.

A jornalista criticou com freqüência Kadyrov e sua guarda pessoal, integrada por muitos ex-guerrilheiros, por atuar com total impunidade contra a população civil.

"A Tchetchênia é o reino da barbárie. Um a cada dois mortos é um civil abatido de maneira sumária", diz Politkovskaya em um de seus livros.

Kadyrov, filho do presidente tchetcheno assassinado pela guerrilha em maio de 2004, completou 30 anos nesta sexta-feira e, por isso, já pode assumir a Presidência da república russa do norte do Cáucaso.

Críticas a Putin

Politkovskaya também criticava a dura política de Putin na Tchetchênia e a participação diária dos soldados russos no seqüestro e no estupro de tchetchenos com o consentimento de seus superiores.

"Anna nunca teve nada a ver nem com as intrigas políticas nem com interesses financeiros. Era impossível aplacar sua voz ou suborná-la. Considerava seu dever buscar a justiça e, nisso, foi indestrutível", diz o site do "Novaya Gazeta".

O presidente da Tchetchênia, Alu Alkhanov, disse estar "comovido" com a morte de Politkovskaya, que passava vários meses ao ano na Tchetchênia e em outras repúblicas, como o Daguestão e a Inguchétia.

Alkhanov, no poder desde meados de 2004, disse que "Politkovskaya tinha sua visão própria sobre como a operação antiterrorista tinha de ser feita na Tchetchênia, mas essa era sua opinião pessoal, à qual tem direito toda pessoa em uma sociedade livre".

"No final das contas, tudo que ela havia escrito falava da intranqüilidade do destino do país, dos direitos dos cidadãos, de cada indivíduo", disse.

O Kremlin, consciente da reação internacional ao assassinato, encarregou o procurador-geral, Yuri Chaika, a assumir pessoalmente a investigação.

A Procuradoria recolheu, até agora, várias versões, todas vinculadas com o desempenho de seu trabalho. Uma delas está relacionada com o fato de os artigos da jornalista terem levado às investigações judiciais contra militares russos devido a abusos cometidos na tchetchênia.

Ameaças

Politkovskaya, que nasceu em Nova York em 1958, disse em várias ocasiões que havia recebido ameaças de morte por parte do serviço secreto russo, do Exército e de outras agências de segurança do Estado.

O assassinato foi condenado por todas as forças políticas russas e por organizações internacionais como os Repórteres sem Fronteiras e a Federação Internacional das Ligas dos Direitos Humanos.

O secretário-geral do Conselho da Europa, Terry Davis, exigiu neste domingo uma investigação urgente da morte da jornalista, exigência esta seguida pelo Departamento de Estado americano.

O porta-voz do Departamento de Estado americano disse esperar que este caso não fique sem ser resolvido, como aconteceu com o do jornalista americano Paul Klebnikov, diretor da edição russa da revista "Forbes", assassinado em junho de 2004.

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