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12/12/2006 - 14h23

Para filha de Pinochet, ditador defendeu liberdade no Chile

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da Folha Online

No funeral do ditador Augusto Pinochet, realizado nesta terça-feira em Santiago, sua filha mais velha, Lucía Pinochet Hiriart, defendeu o golpe de Estado encabeçado por seu pai em 11 de setembro de 1973 e criticou a imprensa internacional por mostrar uma imagem "errônea" do militar.

Lucía afirmou que Pinochet "acendeu a chama da liberdade" no Chile quando liderou o golpe militar que destituiu o presidente socialista Salvador Allende.

Efe
O ex-ditador chileno Augusto Pinochet, morto no Chile aos 91 após sofrer um ataque cardíaco
Ela criticou também a imprensa, que, segundo ela, divulga uma imagem equivocada do general.

"A mídia internacional não compreende como centenas de milhares de compatriotas são capazes de expressar seu agradecimento e afeto por quem é qualificado na imprensa com os piores termos possíveis para referir-se a um ser humano", disse.

Após o discurso, Lucía recebeu os aplausos dos cerca de 3.000 presentes. Um neto do ditador, que como seu pai e seu avô, se chama Augusto Pinochet, também fez um discurso político na cerimônia. Ele afirmou que seu avô deixou para os chilenos um país "estável e próspero", e encerrou a fala com o slogan "Viva Chile" --o mesmo usado pelo general quando falava em público.

Cerimônia

As cerimônias do funeral do ditador chileno começaram por volta das 11h em Santiago (12h do horário de Brasília) sem a presença de nenhuma representação oficial estrangeira, segundo a agência de notícias Ansa. O local do funeral é a Escola Militar do Libertador Bernardo O'Higgins.

A embaixada do Canadá informou à Ansa que "foi feita uma pequena pesquisa com determinadas embaixadas para saber se alguém compareceria no funeral, mas não obtiveram resposta positiva em nenhuma das embaixada consultadas".

A embaixada da Colômbia apontou que "não é um funeral de Estado e, enquanto não existir reconhecimento da parte do Estado chileno quanto ao funeral, é impossível comparecer às cerimônias fúnebres" de Pinochet.

Na embaixada da China, a resposta foi que "não foi enviado nenhum convite para comparecer ao funeral, o que os impossibilitou de estar presente".

Na embaixada do Reino Unido, a resposta foi categórica: "não compareceremos ao funeral". A sede diplomática do Brasil disse que, "oficialmente, ninguém irá ao funeral".

Honras militares

Pinochet recebeu todas as honras militares, mas seu funeral não teve caráter de Estado nem foi decretado luto nacional, segundo decidiu a presidente do Chile, Michelle Bachelet. O governo confirmou um dispositivo de segurança para a cerimônia militar.

A figura de Pinochet ainda divide os chilenos, 33 anos após o violento golpe de Estado que liderou, dando início a uma ditadura (1973-1990) durante a qual mais de 3.000 pessoas foram vítimas de violações dos direitos humanos, entre elas 1.200 desaparecidos.

O destino dos restos do ditador chileno, que será cremado, continua sendo um mistério zelosamente guardado por sua família. A decisão atende à vontade expressa do ditador. Aparentemente, segundo a imprensa chilena, essa também é uma forma de a família evitar ter um túmulo eternamente vigiado.

Segundo informaram a Fundação Pinochet e o Exército, o ofício religioso foi presidido pelo capelão geral militar Juan Barros Madrid, realizado no Pátio Alcapatal da Escola Militar. O tenente-coronel Enrique Bödeckr, chefe da seção de comunicações internas do Exército, disse que cerca de 70 militares compareceram.

Durante a cerimônia religiosa, o caixão de Pinochet permaneceu coberto pela bandeira chilena, pelo seu uniforme de gala e suas condecorações, que depois foram entregues à viúva, Lucía Hiriart.

O corpo deverá ser levado ao pátio de honra da Escola Militar para receber as honras militares, que incluem três salvas sucessivas de fuzis ou canhões.

Oposição

O governo chileno montou um forte esquema de segurança para o funeral do ditador, para controlar as mobilizações e evitar que os simpatizantes e adversários do ditador se enfrentem. No último domingo (10), após o anúncio da morte de Pinochet, dezenas de policiais ficaram feridos e 99 manifestantes foram presos.

Ontem, manifestantes pró-Salvador Allende --o presidente derrubado pelo golpe de Pinochet em 1973-- continuaram a celebrar a morte do ditador.

Também nesta segunda-feira (11), milhares de partidários e alguns curiosos foram ver o corpo do ditador, após esperar várias horas em longas filas. Durante toda a noite, as portas da Escola Militar permaneceram abertas para permitir que os partidários de Pinochet se despedissem.

Passado criminoso

Pinochet, 91, morreu uma semana depois de ter sofrido um infarto do miocárdio, após o qual permaneceu internado no Hospital Militar de Santiago, no Chile.

Os tribunais de Justiça chilenos levavam adiante cerca de 300 acusações criminais contra Pinochet pelas mais de 3.000 vítimas --entre mortos e desaparecidos-- de sua ditadura.

O advogado chileno Hugo Gutierrez, defensor de causas relacionadas com violações dos direitos humanos, lamentou neste domingo que o ditador tenha morrido sem ter sido condenado pelos "atos horríveis" realizados durante seu governo.

O ex-ditador era investigado também por enriquecimento ilícito. Segundo a agência de notícias France Presse, mais de 100 contas bancárias secretas foram descobertas no Riggs Bank de Washington e outras instituições bancárias, que acumulavam mais de US$ 27 milhões.

Em dois processos --os casos "Caravana da Morte" e "Operação Cóndor"-- o ex-ditador alegou sofrer de leve demência, o que, ao lado de outros problemas de saúde, evitou que o julgamento seguisse propriamente.

Com agências internacionais

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