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23/04/2007 - 22h43

Sem comoção, Rússia enterra Boris Ieltsin na próxima quarta

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da Folha Online

O presidente russo Boris Ieltsin, 76, que liderou a Rússia de 1991 até o final de 1999, morreu nesta segunda-feira em Moscou sem causar comoção depois de ter marcado uma era ao se tornar o primeiro presidente da época pós-União Soviética. O Kremlin anunciou que Ieltsin será enterrado nesta quarta-feira (25) no notório cemitério Novodevichy, onde estão enterrados grandes nomes da ex-União Soviética, como Nikita Khrushchev e Anton Chekhov.

Miguel Villagran/Efe
Boris Ieltsin, que morreu hoje, foi o primeiro presidente russo da era pós-URSS
Boris Ieltsin, que morreu hoje, foi o primeiro presidente russo da era pós-URSS
No mesmo dia, o país fará luto em homenagem ao líder morto. Apesar de seu papel histórico, Ieltsin praticamente desapareceu da vida pública após se aposentar [ele renunciou à Presidência em 31 de dezembro de 1999, seis meses antes de encerrar seu mandato], quando disse que preferia ficar vendo shows de Celine Dion e George Michael em DVD a voltar a trabalhar como político.

"Quem se aposenta tem de fazer sua escolha: se manter na vida pública, viajar, dar palestras, continuar a trabalhar ou devotar seu tempo a quem gosta", afirmou em 2000 ao jornal russo "Komsomolskaya Pravda". "Eu escolhi a última opção, mais coerente com meu momento."

Em anos recentes, ele deu pouquíssimas entrevistas. Russos hoje aparentemente preferem recordar os anos de glória da era soviética aos anos de sofrimento durante sua dissolução. Os anúncios sobre a morte de Ieltsin na maioria dos canais de TV públicos e privados da Rússia foram substituídos rapidamente pela programação normal. Na rede NTV, foi apresentada uma cobertura contínua da morte do líder durante a noite, mas há poucos sinais de uma nação em luto.

A declaração do atual presidente, Vladimir Putin, sobre a morte de Ieltsin só veio cerca de quatro horas depois de seu anúncio. Ele elogiou o líder como um homem "graças a quem uma nova era começou". "A nova Rússia democrática nasceu, um Estado livre e aberto para o mundo, e onde o poder verdadeiramente pertence ao povo", completou.

Putin anunciou hoje uma jornada de luto nacional no país na próxima quarta-feira. O velório será realizado no mesmo dia na catedral de Cristo Salvador.

Reação mundial

Líderes mundiais lamentaram nesta segunda-feira a morte do presidente russo. Mikhail Gorbatchev, último presidente da União Soviética, expressou suas "profundas condolências" à família de Ieltsin e reconheceu que "sobre suas costas recaíram grandes méritos frente ao país, mas também graves erros".

Inga Kundzina/Efe
Ieltsin foi um presidente polêmico, que sofreu com críticas por consumo de álcool
Ieltsin foi um presidente polêmico, que sofreu com críticas por consumo de álcool
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse estar "profundamente entristecido" e afirmou que Ieltsin foi "uma figura histórica que serviu a seu país em um momento de grandes mudanças, desempenhou um papel-chave quando a União Soviética se dissolveu, ajudou a desenvolver a liberdade na Rússia e se converteu no primeiro líder eleito democraticamente na história deste país".

Bush lembrou os esforços do presidente russo para "criar uma sólida relação entre a Rússia e os Estados Unidos", no que foi acompanhado pelo secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates. Em visita a Moscou, Gates se referiu a Ieltsin como "uma figura memorável da história moderna", que "desempenhou um importante papel na transição da Rússia para a democracia".

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, falou sobre o papel de Ieltsin no fim da divisão da era da Guerra Fria, abrindo a Rússia para o resto da Europa. "Ieltsin será lembrado por sua participação crítica no avanço das reformas políticas e econômicas da Rússia, assim como por fomentar a reaproximação entre o Oriente e o Ocidente", disse Ban, citado por uma porta-voz.

Ieltsin

Ieltsin, que governou a Rússia entre 1991 e 1999, foi o primeiro presidente do período pós-comunismo. Sua ascensão ao poder marcou o fim da ex-União Soviética (URSS).

"Ele representa uma época do país", afirmou o embaixador russo para a Ucrânia, Viktor Chernomyrdin, que foi um primeiro-ministro durante o mandato de Ieltsin. Ele disse que conversou pela última vez com o líder russo em 9 de abril, quando Ieltsin telefonou para lhe desejar um feliz aniversário.

arquivo/AP
Boris Ieltsin (esquerda) sobiu em tanque para discursar contra golpe na Rússia
Boris Ieltsin (esquerda) sobiu em tanque para discursar contra golpe na Rússia
O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, também lamentou a morte do presidente russo, que considerou uma "referência-chave" no pós-comunismo. "Enquanto presidente, ele enfrentou enormes desafios e mandatos difíceis, mas conseguiu aproximar o Leste e o Ocidente e ajudou a substituir o confronto pela cooperação", disse Barroso.

"Ele podia ser mal-humorado e introspectivo, mas uma vez que era seu amigo, era amigo para sempre", declarou o ex-premiê britânico John Major à rede britânica de informação BBC.

"Boris Ieltsin foi uma grande personalidade da política russa e internacional, um corajoso defensor da democracia e da liberdade e um amigo verdadeiro da Alemanha. Sua contribuição para o desenvolvimento das relações entre os dois países não será esquecido", afirmou nesta segunda-feira a chanceler alemã, Angela Merkel.

O ministro sueco das Relações Exteriores, Carl Bildt, chamou Ieltsin de um dos "maiores homens de nossos tempos".

O ex-presidente da Ucrânia Leonid Kravchuk, que encontrou Ieltsin em janeiro durante um torneio de tênis, disse estar surpreso com a morte. "Ele parecia estar tão saudável", afirmou Kravchuk. "Sua morte foi um grande choque para mim".

Polêmico

Ieltsin sempre foi uma figura política polêmica. Em sua biografia, lançada em 2000, reconheceu que em alguns momentos de seu mandato agiu sob a influência do álcool e recordou uma situação constrangedora em Berlim, em 1994.

No livro, ele conta que durante uma cerimônia com o então chanceler (premiê) alemão, Helmut Kohl, diz que "baixou a guarda" e, depois de vários copos, sentiu que poderia fazer qualquer coisa, como reger a banda de música. À época, a cena transmitida por TV provocou risos no mundo inteiro.

Mandato

Antecessor do atual presidente russo, Vladimir Putin, a quem ele havia designado como herdeiro político, Ieltsin ganhou popularidade durante seus oito anos de governo devido às suas promessas de combate à corrupção, sem conseguir, no entanto, manter o controle de grande parte de empresas estatais que foram progressivamente privatizadas.

Primeiro líder russo eleito democraticamente, durante seu mandato, a Rússia sofreu com problemas como o desemprego e a inflação. Ieltsin também levou o país a um conflito contra rebeldes separatistas na Tchetchênia, que culminou a expulsão dos russos.

Ele sofria de problemas cardíacos e renunciou à Presidência em 1999, vários meses antes do fim oficial de seu mandato. Putin, que era seu primeiro-ministro, tornou-se presidente em exercício e foi eleito democraticamente para o cargo em 2000.

Crise

A morte de Ieltsin ocorre em um momento em que a Rússia passa por um período de crise.

AP
Ieltsin morreu em uma época de crise política para a Rússia
Ieltsin morreu em uma época de crise política para a Rússia
Na semana passada, centenas de manifestantes foram detidos em vários protestos em Moscou e São Petersburgo contra Putin, a quem a oposição acusa de "sufocar a democracia".

Os confrontos nas duas principais cidades russas podem ser o prenúncio de um longo período de tensão entre autoridades russas e a oposição, com a proximidade de eleições parlamentares e presidenciais.

Em um dos protestos, a polícia deteve o ex-campeão de xadrez Garry Kasparov, 44, que hoje é um dos líderes da coalizão Outra Rússia, uma das organizadoras dos protestos.

Sobre a ação violenta da polícia, que chocou os manifestantes, ele afirmou que o governo "mostrou que já não respeita a imprensa mundial, a opinião pública ou mesmo as leis russas". "Agora [a Rússia] é um país em algum lugar entre Belarus e o Zimbábue, duas ditaduras que acabaram com os movimentos de oposição", disse.

Com Associated Press, Efe e France Presse

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