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08/10/2002 - 09h44

Morte de Che Guevara completa 35 anos hoje

IANA COSSOY PARO
da Folha Online

No dia 8 de outubro de 1967, soldados do Exército boliviano capturaram Ernesto Che Guevara, um dos principais líderes da Revolução Cubana, numa escola de La Higuera (Bolívia). No dia seguinte, ele foi executado. Agora, 35 anos após sua morte, o médico, ministro, guerrilheiro e intelectual ainda é uma imagem (e, em certos casos, uma história) muito presente no mundo inteiro. Ele é a personagem latino-americana do século 20.

As celebrações pelos 30 anos da morte de Ernesto Che Guevara, em 1997, se concentram no local onde o guerrilheiro perdeu sua última batalha, a Bolívia. A maioria das homenagens foi feita em Vallegrande, a cidade de 5.000 habitantes onde Che foi capturado, em 8 de outubro de 1967, e morto em seguida.

A partir de hoje, importantes organizações latino-americanas farão homenagens ao Comandante Ernesto Che Guevara, a propósito dos 35 anos do aniversário de sua morte, segundo o "Granma" (jornal dos comunistas cubanos).

Os grupos que organizam o "Acampamento-Encontro Internacional por Justiça, Solidariedade e Liberdade", contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e os transgênicos, encontram-se reunidos desde o dia 5 em Vallegrande e em La Higuera. O encontro, que termina amanhã, visa analisar o pensamento de Che Guevara e as culturas andino-amazônicas e refletir sobre a soberania dos povos frente às empresas transnacionais.

Estão previstas ainda marchas, concentrações e apresentações artísticas.

Imagem
Muitos consideram Che um fanático que nunca pensou em alternativas à violência e ao radicalismo. Outros condenam seus meios, mas reconhecem seus ideais. Há também os que o vêem como herói.

Hoje em dia, porém, ele é mais uma imagem do que qualquer outra coisa. O que Che significa, 35 anos depois de sua morte, para pessoas de países da América Latina onde atuou?

Folha Arquivo
Imagem de Che Guevara (1928-1967) registrada pelo fotógrafo cubano Alberto Korda em 1960 e divulgada no mundo todo após a morte do líder revolucionário


Para Luis Bernardo Pericás, doutor em história e autor de "Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia" (editora Xamã), infelizmente a imagem de Che foi "completamente diluída do que ele pensava e fazia". Hoje em dia, Che é muito mais associado ao guerrilheiro rebelde contra o imperialismo do que ao intelectual e escritor, afirma Pericás.

Argentina
"O Che na Argentina não é um ícone, como é em Cuba, por exemplo. Apesar de sabermos que é argentino, e de o sentirmos como tal, não é obviamente um herói nacional", afirma Vanina Hoffman, 24, universitária argentina.

"Não se fala dele nas escolas, não faz parte do ensino médio. A maioria dos argentinos nem sequer sabe sua história completa, tenho certeza que qualquer cubano pode falar mil vezes mais sobre ele do que nós", acrescenta.

Ela diz que há obviamente grupos de esquerda que o conhecem "dos pés à cabeça", ou que ao menos o pintam em suas bandeiras, mas não mais do que isso. Para Hoffman, essa situação não mudou com a crise argentina atual. "Não se invoca a Che como exemplo de luta, nem de ideais, nem de nada."

"Che não é figura corrente na Argentina (...) não se fala dele na TV, não aparece na literatura, enfim, não existe."

Para Pericás, o ensino da história de Che Guevara é importante em Cuba para fortalecer a justificativa para a continuidade da Revolução -apesar de o modelo comunista adotado hoje por Cuba ser muito diferente do imaginado pelo próprio Che.

Na opinião de Matias Lancetti, que filmou em abril deste ano o documentário "19-20", sobre as manifestações contra a crise em Buenos Aires, o momento atual está relacionado a Che, mas não à sua imagem. Segundo Lancetti, ocorre hoje uma atuação política legítima na Argentina, mas os movimentos, por serem apartidários, não se vinculam a imagens nem da esquerda nem da direita.

Cuba
A imagem de Che Guevara está presente no mundo inteiro, mas em nenhum lugar ela persiste mais do que em Cuba. Ainda está nas camisetas, livros, calendários e postais vendidos aos turistas e aos próprios cubanos; em outdoors, estátuas, na Praça da Revolução de Havana.

A diretora de fotografia cubana Mailin Milanes conta que nas escolas de Cuba as crianças são chamadas de "pioneiros", e quando se cumprimentam, batem continência e dizem: "Pioneiros pelo comunismo, seremos como o Che".

Milanes diz que desde que começam a ler e a escrever as crianças aprendem a história de Che Guevara. Ela afirma também que as imagens de Che em geral são bem conhecidas em Cuba -além de sua famosa imagem reproduzida em camisetas, bandeiras e até em biquínis, fazem parte do cotidiano cubano aquelas em que está trabalhando no campo e na construção.

Na cidade de Santa Clara, a 300 km a leste de Havana (capital de Cuba), onde foram enterrados seus restos mortais, há um mausoléu com uma imensa estátua de bronze. Santa Clara foi escolhida para abrigar o mausoléu de Che por motivos históricos.

Em dezembro de 1958, a cidade foi tomada pelo guerrilheiro, em uma batalha considerada estratégica para a vitória contra a ditadura de Fulgencio Batista.

Nas tribunas abertas, comícios organizados pelo governo todos os sábados em diversos pontos do país, a frase "hasta la victoria, siempre" (até a vitória, sempre), escrita na carta de despedida de Che a Fidel , é proferida inúmeras vezes, como um grito de guerra.

O dia 8 de outubro é o "Dia do Guerrilheiro Heróico" na ilha, durante o qual são prestadas homenagens a Che Guevara.

Foto famosa
A imagem mais famosa de Che Guevara foi captada em 5 de março de 1960 pelo fotógrafo cubano Alberto Korda, que criou, por acaso, a imagem-símbolo da esquerda latino-americana.

Guevara assistia a uma manifestação em homenagem às vítimas do barco La Coubre, que na véspera tinha explodido na baía de Havana por causa de uma sabotagem, quando a foto foi feita. Korda deu uma cópia dessa foto para ao editor italiano Gian Giacomo Feltrinelli. Quando o guerrilheiro morreu (até então ninguém conhecia a imagem), Feltrinelli imprimiu milhões de cartazes que deram a volta ao mundo. Além da famosa foto, a imagem e a memória de Che foram registradas de diversas formas, em livros, diários, filmes.

Para o cineasta Sérgio Muniz, que dirigiu a Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de Los Baños, em Cuba, Che foi um homem que entregou sua vida da maneira mais sincera e valente possível.

Muniz diz que vê muitos jovens usando camisetas com a imagem de Che como se fosse uma peça de roupa "qualquer". "Não sei o que passa na cabeça deles. Muitas vezes a imagem é usada de forma indevida", diz.

Para o historiador Pericás, é contraditório um admirador de Che usar uma camiseta com a imagem do líder revolucionário, uma vez que ele próprio era avesso ao culto à personalidade -apesar de a utilização da imagem de Che em camisetas, por exemplo, incentivar um pouco o culto à personalidade de Fidel.


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