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08/10/2001 - 12h02

Para Infraero, segurança não se resume a máquina de raios X

FERNANDO PERRONE
especial para a Folha de S.Paulo

Os atentados de 11 de setembro abalaram a aviação comercial em todo o mundo. Jamais se imaginou que aviões de passageiros, partindo de aeroportos americanos, pudessem representar uma terrível ameaça para a segurança de instalações e pessoas no país mais bem policiado do planeta.

Os atentados trouxeram à discussão vários temas ligados à aviação de modo geral e aos aeroportos em particular. No caso da aviação, muitos anos depois da acomodação do sistema com métodos de segurança adotados na década de 70 -após um período de sequestros-, toda a infra-estrutura aeroportuária de apoio ao embarque de passageiros começa a ser questionada e revisada.

As companhias aéreas e os fabricantes de aviões também discutem o que fazer para melhorar a segurança a bordo, uma vez que a segurança do aeroporto mostrou não ser suficiente para garantir que um avião não seja vítima desse novo patamar de terrorismo. No Brasil, basta lembrar o episódio de sequestro do avião da Vasp, no ano passado, quando os ladrões estavam de posse de um revólver a bordo, partindo de um aeroporto com detector de metais e aparelhos de raios X.

Em função desses acontecimentos, o que vemos hoje no Brasil são fontes variadas ou "especialistas" abordando o tema segurança aeroportuária na mídia. Por ser o assunto do momento, nesse cenário, qualquer tese, por mais simplista ou desprovida de lógica que seja, acaba tendo espaço. Em alguns casos percebe-se coerência, principalmente quando se admite que não existe segurança absoluta em nenhum lugar do mundo. Se os sequestradores dos aviões americanos tivessem sido barrados com suas facas e estiletes, provavelmente teriam achado outro jeito de perpetrar o ataque, uma vez dispostos a isso.

Em outras intervenções, algumas pessoas falam do que não entendem, ou seja, olham a segurança a partir dos equipamentos de raios X que examinam as bagagens de mão. Esse é um equívoco, porque a segurança aeroportuária não está centralizada apenas nos aparelhos de raios X.

Eles são mais um elemento no complexo de segurança de um aeroporto. Julgar que esse equipamento resolveria todos os problemas de segurança dos aeroportos seria admitir que colocando raios X nas rodoviárias, na entrada dos shopping centers ou em outros centros de lazer do país seria resolvido o problema da segurança no Brasil. É um raciocínio muito elementar e que acaba não analisando o problema em toda a sua extensão.

Definitivamente, não existe necessidade de se colocar aparelhos de raios X em todos os aeroportos brasileiros. O exame rigoroso de bagagens de mão dos passageiros é exigência para vôos internacionais e é nesse contexto que a Infraero concentra sua atenção, porque, ao contrário do Brasil, como agora ficou evidenciado, são os Estados Unidos que estão sob ameaça de ataques terroristas e cada vez mais cuidadosos com a entrada de suspeitos e com sequestros. A não existência dos aparelhos de raios X não diminui o status do aeroporto.

Se por um lado nós não temos o grau de ameaça de outros países, já que aqui a ameaça é o roubo, por outro a crise na aviação mundial poderá trazer benefícios para o turismo interno e para o mercado doméstico de aviação.

O movimento de passageiros aéreos no Brasil cresce em média 8% ao ano, quase o dobro do índice mundial. Neste ano, de janeiro a agosto, o crescimento foi de 10,11%. Até setembro, mesmo com a redução dos vôos internacionais a partir do dia 11, projeções indicam um crescimento acumulado no ano de 9,79%, porque o número de passageiros domésticos tem crescido acima da média histórica. Se o índice de passageiros internacionais caiu 4,14% até setembro, o de vôos domésticos cresceu 12,52%.

De acordo com as estatísticas da Infraero, a partir do atentado contra os Estados Unidos, foram os vôos internacionais que mais tiveram retração. Antes da tragédia em Nova York, o movimento para o país era de aproximadamente 160 vôos semanais.

Mesmo com essa queda pontual em setembro, as projeções indicam que o mercado doméstico será beneficiado, principalmente pela transferência de passageiros e excursões destinados ao exterior e pela alta do dólar.

Num primeiro momento, o passageiro de avião pode ter sido influenciado pelas notícias negativas sobre a segurança do transporte aéreo. Isso ocorre sempre que há uma tragédia envolvendo aviões. A prática mostra que aos poucos a procura por viagens aéreas retoma sua demanda natural.

A Infraero, portanto, mantém suas projeções de crescimento e não irá alterar suas metas por causa do movimento de setembro.

A Infraero, que administra 65 aeroportos no país (97% do movimento de passageiros), está convencida de que o problema da aviação brasileira não está na segurança dos aeroportos. Existe até uma confusão entre segurança de vôo (espaço aéreo e operações no aeroporto) e segurança no terminal de passageiros, ou seja, acesso, credenciamento de passageiros e empregados, revista de bagagens etc.

Existem outros problemas mais graves que não estão sendo questionados no momento e que poderão afetar a aviação brasileira nos próximos anos. A segurança é importante, sim, mas não podemos transformar uma questão técnica da Infraero, Polícia Federal e demais órgãos do governo em pauta permanente da imprensa, sem fundamentos efetivos e realistas para sua discussão e compreensão.

Os aeroportos brasileiros são seguros para o nível de ameaça a que nós estamos sujeitos e estão aparelhados no mesmo nível de outros aeroportos internacionais. Não podemos, portanto, na falta de outras pautas mais importantes, aproveitar o vácuo e discutir segurança aeroportuária sem conhecimento de causa, como se fosse mais uma escalação da seleção brasileira.

Fernando Perrone é presidente da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária)
 

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