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Passeios de barco por rios amazônicos mostram o cotidiano ribeirinho
HELOISA LUPINACCI
Enviada especial da Folha de S.Paulo à Amazônia
Os passeios de barco pelos rios amazônicos permitem que o visitante testemunhe fragmentos da rotina na floresta e contemple a geografia regional.
Heloisa Lupinacci/Folha Imagem |
Rio Preto da Eva; na região, rios fazem as vezes das ruas |
A primeira constatação é a de que as voadeiras, nessa área, equivalem aos carros, e os rios, às ruas. A garagem das casas é o pequeno píer improvisado diante de seus terrenos. E o banho, no entardecer, é na água do rio, com direito a sabão.
Enquanto circulam pelos rios, todos se cumprimentam, quem está na margem dá tchau para quem vai de barco. Quem está a bordo saúda quem passa.
Os flutuantes, de onde partem os passeios, são como lojas de conveniência da floresta. Ali é vendido de tudo, de água mineral a fósforo, de chave de fenda a pó de café. Acompanhar o movimento dos moradores da região chegando com voadeiras vazias e saindo cheios de compras diz muito sobre a vida nessa região, em que, volta e meia, os botos vêm à tona causando comoção mesmo em quem está lá todos os dias.
À noite, um punhado de gente se reúne no flutuante para assistir ao "Jornal Nacional" e à novela das oito e colocar a conversa em dia. E, nos finais de semana, a partir da noite de sexta-feira, o brega, o arrocha e o forró --prepare-se para ouvir CDs inteiros da banda Calypso-- servem de trilha sonora para animados arrasta-pés que se estendem noite adentro.
Os arredores de um flutuante concentram outros serviços. No que foi visitado pela Folha, no rio Preto da Eva, além da vendinha havia posto de gasolina e um improvável consultório de dentista.
Nas casas às margens dos rios, os moradores plantam mandioca e frutas --como maracujá e caju. É comum que as casas ou as comunidades tenham fornos de farinha, onde preparam a farinha de mandioca e a tapioca, muito consumidas na região. A pesca também é parte do cotidiano.
A comunicação entre os moradores é feita por rádio. Uma central funciona como telefonista. A privacidade é pouca. Onde há um rádio ligado, ouvem-se as conversas entre os usuários do sistema.
A água
Na cheia, o rio enche de 7 cm a 10 cm por dia. Portanto, se estiver lá durante o período de chuvas, essa água toda vai cair sobre a sua cabeça.
A navegação pelo rio Amazonas é tranqüila e recheada de explicações sobre o percurso do rio, desde o Peru até sua foz, e sobre a composição da água.
Os rios de água branca, caso do Amazonas, têm aspecto barrento e são ricos em vida. Têm pH alto, ou seja, são alcalinos.
Neles, não é recomendado nadar, pela grande quantidade de cobras que circulam pelas águas. Os rios de água negra, como o rio Negro, têm, como o nome diz, água escura e ácida, menos vida e são, portanto, aqueles em que se pode nadar.
Um desses rios é o Urubu, onde os hotéis que ficam a leste de Manaus costumam fazer passeios e onde está sendo erguido o hotel-flutuante do Amazonat Jungle Lodge.
O passeio por esse rio tem uma vantagem sobre o passeio no Amazonas. As margens são mais acidentadas, há mais ilhas, mais coisas acontecem. Há casas de caboclos e aldeia de índios. Igapós e ilhas.
O mergulho no rio é recomendável. É curioso nadar na água escura e o fundo do rio é de areia, como na praia, o que dá alguma tranqüilidade.
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