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21/03/2005 - 10h28

Paris de outro ângulo

ALCINO LEITE NETO
da Folha de S.Paulo

Paris é o principal destino turístico da Europa: 25 milhões de pessoas visitaram, em 2004, a capital da França. É mais de dez vezes a população da cidade -2,1 milhões de habitantes- e mais que o dobro do número de gente que vive na Île de France (a grande Paris) -11,1 milhões.

Para dar conta desse mundaréu, a indústria do turismo parisiense emprega diretamente cerca de 139 mil pessoas. Só os hotéis (1.452, com 73.902 quartos) movimentaram E 3,27 bilhões (cerca de R$ 12 bilhões, valores atuais), em 2002.

A torre Eiffel é o principal ponto de atração da cidade. Em 2004, cerca de 6,23 milhões estiveram lá. É como se praticamente toda a população do Rio de Janeiro tivesse resolvido subir os 324 metros da torre. O museu do Louvre, com 6,20 milhões de ingressos, é a segunda atração mais visitada. Depois vem o Centro Georges Pompidou (Beaubourg), com 5,40 milhões.

Chega de números. Paris é um estrondoso sucesso entre os viajantes. Mesmo assim, o governo francês anda preocupadíssimo com o futuro turístico da capital. Por quê?

Ocorre que, nos últimos anos, Londres, Barcelona e Praga andam comendo fatias cada vez maiores do turismo europeu. E os jovens estão preferindo permanecer mais tempo em outras cidades do que na capital francesa.

Muita gente vai a Paris uma vez, visita todos os monumentos obrigatórios, mas depois, ao retornar à Europa, prefere outros destinos. "O que vou fazer em Paris depois que já vi a torre Eiffel, o Sena, o arco do Triunfo, o Louvre e as centenas de museus?", pergunta o turista jovem. As tardes de Barcelona parecem bem menos repetitivas, com as Ramblas animadíssimas e descontraídas. E as noites de Londres parecem incomparáveis com seus clubes fervidos.

Existe vida em Paris para além dos museus, dos monumentos históricos, dos desfiles de moda, dos cafés esnobes e dos restaurantes caros? Existem estabelecimentos em Paris que não encerram o almoço às 14h30 e o jantar às 23h30? Existem lojas onde os balconistas não fiquem nos olhando com cara de nojo? Existem bares que não expulsam os clientes às duas da manhã? Existem clubes para dançar que não cheiram à mofo e que tenham mais de

100 m2? Existem táxis para voltar para casa de madrugada?

Existe, existe tudo isso, menos os táxis, quase impossíveis de encontrar.

Mas vamos por partes. As estratégias turísticas oficiais para rejuvenescer Paris e a França só têm aumentado. Vários festivais de música pop, rock e eletrônica acontecem na capital e no interior, como o de Rennes, em dezembro.

A Paris Plage, "praia" artificial, com calçadão e areia, instalada à beira do rio Sena, é uma tentativa de dar um ar um pouco mais carioca e descontraído à cidade. Ela ocorre nos meses superturísticos de julho e agosto, quando os franceses estão bem irritados com o calor e uma boa parte das padarias, restaurantes e lojas trancam as suas portas (que reabrirão apenas em setembro).

Também para tornar Paris agitada e moderna, a prefeitura criou a "Nuit Blanche" (noite branca), na primeira semana de outubro. Uma noite quando vários monumentos e pontos turísticos ficam abertos até a alta madrugada, festas acontecem nas ruas, bares são convidados a não cerrar as portas.

Em 2001, um belo prédio da cidade, o Palais de Tokyo, foi transformado em espaço para a arte ultracontemporânea, de modo a tirar um pouco o bolor do roteiro artístico da cidade.

Rollers e bicicletistas têm incentivos da prefeitura para desfrutar da cidade. Nas praças, como a do Palais Royal, o espaço é autorizado para patinação. No inverno, uma grande pista de gelo costuma ser colocada em frente ao Hotel de Ville, a prefeitura de Paris. Às sextas-feiras, uma "véloparade", com milhares de bicicletas percorre à noite o centro. É uma das coisas mais gostosas de ver e de participar na cidade.

Até mesmo os roteiros gays começaram a ser incentivados, haja vista o quanto gastam os rapazes em suas andanças pelo mundo. A Gay Parade (em junho) deixou há muito de ser apenas um evento político: é parte do calendário turístico da prefeitura, aliás dirigida pelo assumido Bertrand Delanoë. O Marais continua o bairro da agitação, mas o roteiro GLS na cidade é tentacular.

Governo, prefeituras e agências não poupam esforços para acabar com a idéia de que Paris é "careta", apesar de linda. E entre os próprios parisienses há muita gente empenhada em deixar a vida cotidiana menos histórica e mais contemporânea, menos poeirenta e mais pop.

Paris foi uma das capitais das vanguardas do século 20. Tudo de bom e de novo acontecia primeiro lá: artes, literatura, filosofia, moda e comida. No início do século 21, já não ocupa este lugar proeminente. Nem mesmo quando se trata de gastronomia ela está hoje na vanguarda -a experimentação culinária se deslocou para a Espanha.

Uma característica, porém, a cidade preservou: seu cosmopolitismo, hoje transfigurado numa paixão multiculturalista que não se vê em outra parte. É lá que os melhores cineastas da Ásia serão reconhecidos, que os grandes escritores africanos serão aclamados, que os principais músicos latino-americanos serão consagrados.

Alguém está prestando atenção ao cinema da Tailândia? Os franceses estão. E tratarão de revelar ao mundo, por exemplo, o nome complicado de Apichatpong Weerasethakul (diretor de "Tropical Malady"). Não, não se assuste, um dia você vai saber escrever esse nome com todas as letras.

As lojas de discos, filmes e livros parisienses são o paraíso da cultura mundial. Mas o multiculturalismo na cidade já não é estritamente intelectual. A imigração africana, árabe e latino-americana está criando (ainda que a duras penas) uma Paris mais aberta, mais confusa, mais variada e mais popular.

Em regiões da cidade, como Bastille e Belleville, proliferam restaurantes, bares e clubes, cujo formato é jovem e informal.

Depois da invasão turística do Marais, muitos também optaram por passar suas tardes de sábado nos cafés menos pedantes das ruas Etienne Marcel e Montorgueil e de certas áreas menos turísticas em torno do Beaubourg (Centre Georges Pompidou).

Por trás da Paris turística, museológica, aristocrática, existe, sim, uma Paris que está se renovando e que não parou no tempo nem no estilo.

Para encontrá-la, basta deixar de lado a rotina dos guias turísticos e transformar a sua viagem numa descoberta.

Agradecimentos: Maison de la France (www.franceguide.com) e Escritório de Turismo de Paris (www.parisinfo.com).

Quem leva: Agaxtur Turismo, tel. 3067-0900. A partir de US$ 1.594. Inclui aéreo, traslados, sete noites em apto. duplo com café da manhã e seguro-viagem. Moinhotur, tel. 3816-1969. A partir de US$ 1.272. Inclui aéreo, traslados, quatro noites em apto. duplo com café da manhã e seguro-viagem. TAM Viagens, tel. 3068-7939. A partir de US$ 1.546. Inclui aéreo, traslados, seis noites em apto. duplo com café da manhã, um cruzeiro pelo rio Sena e um trecho aéreo gratuito para qualquer destino TAM na América do Sul

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