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Minha escola, Minha vida

Colégios desativados por falta de alunos no Rio Grande do Sul viram moradia para quem resiste ao êxodo rural

FELIPE BÄCHTOLD ENVIADO ESPECIAL AO INTERIOR DO RIO GRANDE DO SUL

Sem ter onde morar, a faxineira Zuleide Delabona, 47, e seus oito filhos montaram a casa da família em uma escola abandonada no interior do Rio Grande do Sul.

Antigas salas de aula viraram sala de estar, quartos e cozinha. A família instalou até uma antena parabólica.

A pintura da fachada, porém, ainda traz a inscrição: "Escola Estadual Marquês do Herval", referência ao colégio extinto em 2005.

A situação em Roca Sales (a 140 km de Porto Alegre) é o retrato de um problema que ocorre por todo o Rio Grande do Sul: a deterioração de escolas desativadas devido ao êxodo rural e ao esvaziamento de vilarejos do interior.

Nos últimos dez anos, mais de 400 escolas estaduais foram fechadas no Estado devido à falta de alunos. Por dificuldades burocráticas no reaproveitamento desses prédios, grande parte está abandonada e se deteriorando.

Em Roca Sales, outra antiga escola pública também está invadida na zona rural.

Na antiga Marquês do Herval, a faxineira Zuleide diz ainda temer o despejo.

"Antes só tinha mato, cabritos e vacas aqui. Fizemos a limpeza. Não posso nem pintar porque não é nosso."

Na cidade vizinha, Encantado, uma escola rural extinta em 2005 se transformou em depósito de ração. Os vidros estão todos quebrados.

Vizinho do local, o professor aposentado Valmor Agostinho, 73, diz que as salas serviram de alojamento para pedreiros que trabalharam na localidade neste ano.

Além do êxodo rural, a natalidade também é citada por moradores do interior como causa da baixa demanda: décadas atrás, famílias numerosas e casais com mais de cinco filhos eram comuns.

Hoje, a mudança da situação criou um dilema para gestores públicos: manter ativas escolas com pouquíssimos estudantes ou fechá-las e arriscar estimular a desintegração da comunidade.

Na zona rural de Estrela (a 107 km de Porto Alegre), a merendeira aposentada Vera Skrsypcsak afirma que o fechamento da escola estadual vizinha a sua casa "enfraqueceu" o vilarejo de São João do Bom Retiro.

"Antes, tinha novena de Natal, Semana da Pátria, festa das mães. Agora não tem mais nada", afirma Vera.

No pátio do colégio, o mato tem meio metro de altura.

DE ÔNIBUS

Um outro efeito do fechamento de escolas do interior é o aumento da demanda por transporte escolar, que obriga crianças a fazer longos deslocamentos em ônibus.

Em Roca Sales, a Marquês do Herval fica a meia hora de carro da sede do município.

Para o professor estadual Marco Sozo, integrante do Conselho de Educação gaúcho, o abandono desses prédios é um fenômeno nacional e não costuma ocorrer em centros urbanos.

"A morte da escola anuncia que morreu a vida econômica e social ao redor", diz.

O governo Dilma Rousseff (PT) encaminhou projeto ao Congresso proibindo o fechamento de escolas em região rural sem que haja uma "análise do impacto" e também, a manifestação dos moradores locais.

Uma das justificativas é o aumento da demanda por transporte. O texto fala em 13 mil escolas fechadas no campo em todo o país em um período de cinco anos.

Procurada, a Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul afirmou que o atual governo reviu a política de fechamento de escolas e que procura fortalecer os colégios existentes no campo.

A diretora-adjunta do Departamento de Pedagogia, Rosa Mosna, diz que é preciso discutir com as comunidades o reaproveitamento desses prédios.

Há casos de antigas escolas usadas como centros comunitários."Há uma tendência de redução do número de alunos. No ano passado, diminuiu em 50 mil no ensino fundamental", diz Rosa.


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