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Análise

Ariano inaugura uma nova maneira de olhar e narrar o sertão brasileiro

Obra retoma a tradição mítica e épica sertaneja via romances ibéricos de transmissão oral

RONALDO CORREIA DE BRITO ESPECIAL PARA A FOLHA

Ariano Suassuna inaugura uma nova maneira de olhar o sertão. Não falo do sertão a que se referiam os ingleses --"backlands", terras de trás--, conceito que abarcava tudo o que não é litoral, incluindo até mesmo os interiores de São Paulo.

Refiro-me ao sertão do Nordeste brasileiro, já visitado pelo romantismo de José de Alencar em "O Sertanejo" e por Euclydes da Cunha na sua epopeia de Canudos. Há uma sucessão de recriadores desse lugar ou não lugar.

Com o Romance de 30 e o Movimento Regionalista, surge a visão moderna e social de Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Raquel de Queiroz. No "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa, sobrepondo-se à épica e ao social, o mundo sertanejo é representado através da poesia e da metafísica.

Em "O Romance da Pedra do Reino", Ariano retoma a tradição mítica e a épica sertaneja, através dos romances ibéricos de transmissão oral, da literatura de cordel, do teatro, dos contos e brincadeiras populares, e de sua história familiar, tão rica de acontecimentos trágicos e burlescos.

"O Romance da Pedra do Reino" tornou-se um novo marco inaugural, um sertão com matriz nas cidades de Taperoá, Princesa e São José do Egito, e nos Estados da Paraíba, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte e de Alagoas.

Ele nunca negou seu nacionalismo. Os russos Tolstói, Dostoiévski e Gogol foram importantes na sua formação por serem nacionalistas. Compositores russos, romenos, húngaros e tchecos serviram de inspiração para o Movimento Armorial, pois criavam a partir de matrizes populares.

O xilogravador Gilvan Samico, um dos primeiros membros do Armorial nas artes plásticas, elabora suas gravuras inspirado nas histórias dos folhetos de cordel. Da mesma forma, Antonio Madureira compõe sua música armorial ouvindo os violeiros, aboiadores, rabequeiros e brincantes.

No Nordeste, a arte popular é um bem comum a todas as pessoas, não há um abismo entre ela e a tradição erudita.

Câmara Cascudo e Mario de Andrade diziam que ainda não tínhamos resolvido a questão da nossa oralidade. Ariano, de formação erudita, trabalhava com os recursos da tradição oral e uma grande bagagem erudita, para construir o teatro e o romance que o notabilizaram e para elaborar um discurso político em defesa da cultura brasileira, a maior razão de sua existência.


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