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Casas se mantêm em meio ao caos das avenidas

Brasil, Pacaembu e Rebouças preservam imóveis residenciais

Urbanista defende uso misto de residência e comércio em algumas vias movimentadas da capital paulista

OLÍVIA FLORÊNCIA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dona Cacilia Möhrle tem 82 anos, é aposentada e às quartas rega as plantas e vai à feira. Três passos após sair de casa, Cacilia entra em contato com outro mundo: o da movimentada e caótica avenida Santo Amaro, na zona sul de São Paulo.

Brasileira naturalizada, nascida na Alemanha, Cacilia é uma das últimas moradoras que ainda conseguem viver em casas nos chamados corredores urbanos -vias com grande fluxo de veículos, como as avenidas Brasil, Pacaembu, Rebouças e, é claro, a própria Santo Amaro.

A Brasil é conhecida pela arborização e por suas enormes mansões de 800 m² protegidas pelo tombamento -mas, praticamente, sem moradores. A esmagadora maioria das casas agora pertence a escritórios, laboratórios e clínicas médicas.

Com cerca de 2 km de extensão, a Pacaembu também é arborizada e tem um canteiro verde que a divide ao meio dos dois sentidos. Nos anos 1930 e 1940, abrigou importantes casarões paulistanos.

Rodrigo Asse tem casa na Pacaembu. Diz que ela só continua de pé por ser uma república e não uma casa convencional.

"Somos uma casa passageira de gente do mundo inteiro. Quase um imóvel comercial", diz Asse.

O vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, Roberto Ordine, concorda que o comércio domina e avança sobre essas avenidas. "Toda vez que uma rua vira corredor de passagem, ela perde as características de moradia", diz.

Para ele, o fenômeno é comum. "Existe uma cidade ideal e uma real. A ideal é a do plano diretor", diz Ordine. E o plano diretor não prevê que as regiões se transformem.

O diretor de vendas da imobiliária Coelho da Fonseca, Fernando Sita, também considera o processo inevitável.

"Corredores de carros desses tamanhos tendem mesmo a ter uma vocação mais comercial", afirma.

USO DIVERSIFICADO

O professor de história do urbanismo da USP Renato Cymbalista explica que cada região oferece uma possibilidade diferente de ocupação.

Nas avenidas Brasil e Pacaembu, por exemplo, ele entende que, apesar do tombamento, o uso que é feito das casas pode ser diversificado.

"Você não pode demolir uma casa e fazer quatro, mas pode subdividir, com entradas independentes. É uma operação de retrofit [renovação]. Devemos pensar em unidades menores usando os mesmos edifícios", explica.

Cymbalista diz ainda que essas mansões não têm mais compradores interessados em morar. "Você nunca vai encontrar uma pessoa que tenha muito dinheiro e vá querer morar numa casa gigantesca na Brasil", diz ele.

"Se você tem R$ 5 milhões para comprar um imóvel na cidade, não vai comprar numa avenida movimentada."

Para a Santo Amaro, Cymbalista acha que a resposta seria a construção de prédios mistos, com comércio e residência, e sem garagem, como alguns que já existem na avenida da zona sul paulistana.


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