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Análise

Conjunto é uma ilha utópica cercada pela realidade

FERNANDO SERAPIÃO ESPECIAL PARA A FOLHA

Faz tempo que a proteção oficial via tombamento deixou de mirar apenas em edifícios de aspectos arquitetônicos exemplares para também defender construções com qualidades ambientais, espaciais e até afetivas.

Esse é o contexto do início do processo de tombamento do conjunto da rua Normandia. Isoladamente, as unidades não têm nada relevante: sobrados geminados com estilos arquitetônico sem valor para a disciplina. A cidade tem outros conjuntos de desenho mais relevante, de arquitetos como Vilanova Artigas, Carlos Millan ou Joaquim Guedes, e poucos são protegidos.

Contudo, olhando o conjunto, ele tem lá sua graça, potencializada pela arborização e pela via de pedras. De certa forma, tudo já era conservado pelo zoneamento, que não induz a verticalização.

Mas o que salvou-o de ir ao chão foi o inusitado: ser diferente no sentido bucólico, diante de uma massa construída relativamente densa e sem graça, fez com que os imóveis se valorizassem comercialmente, impedindo demolição ou alteração. Sem gradil, as lojas transformaram-se em atração -ainda mais no Natal, até com neve artificial.

Ao que parece, o que encanta o paulistano é justamente o bucólico que se contrapõe à realidade mundana: quem não tem o sonho hedonista e passadista de vender o apartamento e criar os filhos em uma casinha de bonecas em rua de paralelepípedo?

Como uma ilha utópica rodeada de torres assustadoras, as casas europeias de Moema parecem nos lembrar que nem tudo está perdido. Ainda mais quando recordamos que elas são fruto de uma operação imobiliária. Antes dos prédios de apartamentos, era comum que investidores construíssem renques de casas para aluguel, ou "renda", como se dizia.

Diante da gentileza quase banal do conjunto de Moema, da cidade que não construímos, basta olhar ao redor e fazer uma pergunta sem resposta: qual serão os prédios construídos agora pelo mercado imobiliário que as próximas gerações vão querer preservar?


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