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Jairo Marques

Óleo para deputado

Creio que Feliciano, que diz curar cadeirantes com óleo, verá que falta a ele um óleo salvador

Quis saber mais sobre a vida do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), que agora vai me representar na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, e encontrei nas internets, como diria Cony, uma das dezenas de cenas do cidadão em sua função primeira, a de pastor se dirigindo ao rebanho.

Nas imagens, o político conta como salvou um rapaz da desgraceira da deficiência que o trancafiava em uma cadeira de rodas: besuntou o desgraçado com um óleo extraído sabe-se lá de onde, entoou aquelas palavras firmes que mais parecem bronca de açougueiro em cachorro pidão e botou a mão em riste, provavelmente, intermediando alguma luz divina ou para tapar a cara e não envergonhar o divino.

A história termina, evidentemente, com o cidadão, que era mais quebrado que arroz de terceira, curando-se milagrosamente e arrotando para o mundo que falta aos outros indivíduos mal-acabados ter mais fé em ao se lambuzar no óleo.

O efeito que ações assim provocam na vida das pessoas com deficiência e suas famílias pode ser devastador. Tanto é preciso ter paciência de Jó para aguentar abordagens de estranhos na rua dizendo que, "se você for à igreja xyz, o pastor vai te curar" como se ganha a pecha de incrédulo, de indivíduo de pouca fé no coração.

Na infância, eu seria capaz de desafiar um pastel de feira para ver quem foi mais exposto a sebos de todas as origens, qualidades e densidades. Eram sempre ilusões vãs para almas angustiadas em busca de uma solução para o irremediável.

Quando o pastor Marco Feliciano se compromete a curar um cadeirante lambuzando-o com óleo, passo a questionar se ele vai respeitar sua condição de ser vivente, se vai entender suas demandas sociais e se vai mesmo tentar garantir seus direitos.

Somo minha indignação à dos gays, que se veem desrespeitados com uma representação que, abertamente, é contrária à evolução de suas conquistas, e à dos negros, que tiveram tratamento, para o dizer o mínimo, esdrúxulo por parte do deputado.

A representação que Feliciano fará de diversos grupos no Congresso tinha de ser legítima do começo ao fim, tinha de ser incontestável e ungida com vigor por aqueles que dele vão depender em uma das esferas democráticas mais importantes.

As leis que abrigam as minorias demoraram séculos para serem aceitas, entendidas e abraçadas. Não é possível que um sujeito tão longe dessa história e tão perto de tudo o que significa o retrógrado seja mais forte.

Creio que o deputado ainda falará mais de perto com sua tão inabalável fé e verá que a ele está faltando um óleo salvador, um óleo que alise sua vaidade de querer atuar em palco onde é enxovalhado, que melhore seu atual aspecto de petulância diante gritos que parecem não ressoar em madeira.

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Fui assistir ao vibrante filme "Colegas", de Marcelo Galvão, que lotou uma kombi de pessoas com síndrome de Down e mostrou ao planeta que há muita felicidade, beleza e graça na diversidade.

A obra dá uma rasteira no "coitadismo", no assistencialismo ridículo e encanta o público mostrando possibilidades infinitas quando se é diferente. Vá e leve as crianças!

jairo.marques@grupofolha.com.br


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