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Análise

Volume de chuva é apenas parte da receita da tragédia

REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Os primeiros dados que chegam sobre a magnitude da chuva que desabou sobre a região de Petrópolis sugerem que o temporal, de fato, pode ter sido um evento extremo em termos climáticos.

A questão é saber se um volume de chuva desse tipo produz, como consequência inevitável, um saldo de quase 30 mortos até ontem à noite.

Para começar, como sabe qualquer um que tenha dirigido um carro na tempestade, a intensidade da chuva pode variar muito entre pontos relativamente próximos.

Assim, enquanto o Inea (Instituto Estadual do Ambiente) apontou precipitação de 453,8 milímetros de água em 24 horas, de domingo a segunda, o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), fazendo medidas em outros pontos do município, observou 147,5 mm de precipitação.

Se os dados do Inea forem mais representativos do que aconteceu na região toda, os céus fizeram despencar sobre a área cerca de um quinto da média anual de chuva (algo como 2.500 mm) em um dia.

Com o clima global em mutação, esse tipo de evento extremo tende a ficar, na média, mais frequente e destrutivo.

Cabe um pouco de perspectiva, porém. Em 2009, Reino Unido e Irlanda enfrentaram o novembro mais úmido desde 1914, o ano de início da Primeira Guerra Mundial.

Em algumas regiões do oeste da Inglaterra, foram mais de 300 mm de precipitação em 24 horas de chuva, ordem de grandeza comparável ao que se viu em Petrópolis. Foram as piores enchentes e os piores ventos em 60 anos. Mortos ao longo de todo esse mês chuvoso: quatro.

Não é exemplo isolado -o Reino Unido tem sofrido chuvas pesadas e enchentes com frequência desde a década passada, com um custo humano sempre bem mais baixo do que o visto por aqui em ocasiões semelhantes.

Em vez de culpar são Pedro, parece mais lógico considerar que a sinergia entre fatores de risco é que torna uma situação dessas letal.

Outro dado provavelmente relevante: Petrópolis tem hoje menos de 30% da sua cobertura florestal original, ligada ao bioma da mata atlântica. Era essa cobertura original a responsável, em grande parte, por "segurar" a estrutura do solo e evitar o assoreamento de rios -portanto, prevenindo enchentes.

E, claro, por mais heroicos que sejam os esforços de resgate neste momento, há pouco de britânico na estrutura de prevenção desse tipo de desastre, no Rio e no Brasil.


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