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Marcas de expressão

Pessoas com mais de 50 anos aderem à tatuagem e fazem do corpo um livro aberto de experiências, memórias e homenagens a familiares

DENISE MOTA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A tatuagem amadureceu. Cada vez mais, ela deixa de ser vista como marginal, como um símbolo de contestação ou uma escolha exclusivamente juvenil.

Na nova fase -que vem se consolidando, segundo observam tatuadores que trabalham há décadas no ramo-, os desenhos na pele ganharam um crescente número de adeptos entre as pessoas com mais de 50 anos. O que antes era símbolo de rebeldia se tornou expressão de liberdade.

"Eu me acho bonito, saudável", diz Luiz Fernando Bravin, 60, administrador de empresas que tem quatro elaboradas tatuagens (nas costas, no peito e nos dois braços) e já calculou em detalhes o que irá registrar nos próximos três desenhos.

"Tenho um tucunaré [peixe brasileiro], preso na bandeira do Brasil, pendurado em um anzol", descreve a marca de 40 cm, nas costas, que foi a estreia no universo da tatuagem há quatro anos.

Um ano depois, com o nascimento da neta, decidiu registrar o pezinho da bebê "em cima do coração", ao lado dos nomes dos outros netos. Na sequência, veio a inspiração para uma faixa no braço esquerdo, com símbolos, animais e os nomes dos filhos. Para completar, o braço direito recebeu um dragão que irá expelir fogo (o detalhe incandescente é um dos desenhos programados).

Saber exatamente o que quer tatuar é uma característica comum entre os mais velhos, segundo Gustavo Silvano, da Pin Up Tattoo. Ele, que trabalha há 12 anos em Icaraí, bairro de Niterói "com uma alta concentração de pessoas mais velhas", nota que a clientela acima dos 50 anos vem crescendo.

Com 30 anos de experiência em tatuagens, Sergio Maciel, da Led's Tattoo, em São Paulo, confirma a percepção do colega: "Acredito que a popularização da tatuagem, a quebra de velhos conceitos e o reconhecimento da tatuagem como arte são os responsáveis por isso", diz.

LIBERTAÇÃO

Para Mirian Goldenberg, antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e colunista da Folha, a tatuagem como algo não desviante é um conceito recente e que encontra nas pessoas mais velhas uma correspondência com o "discurso da libertação" que surge com a idade.

"É como se fosse uma segunda vida. Vejo que decidem se tatuar nesse momento, primeiro, porque é algo mais 'normal', segundo, porque se sentem livres para fazer o que bem entenderem."

Goldenberg está escrevendo um livro -"A Bela Velhice", com lançamento previsto para abril- sobre essa sensação de liberdade que vem detectando entre pessoas de 50 a 90 anos.

Na opinião da escritora e jornalista Leusa Araújo, que pesquisou por mais de dois anos o mundo das "tattoos", apesar da maior aceitação, tatuar-se continua a ser uma decisão exposta a preconceitos.

"O que há hoje é uma maneira diferente de lidar com o próprio corpo. A liberdade de escolha parece ter ganho maior importância, como se houvesse uma afirmação de que ao menos o corpo ainda é um lugar próprio. Então faço dele um depoimento do que sou", diz ela, autora do livro "Tatuagem, Piercing e outras Mensagens do Corpo".


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