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Disputa põe eleitor em pé de guerra na "Disneylândia dos velhinhos"

Em The Villages, meca de aposentados na Flórida, democratas acusam republicanos de 'bullying'

Grupo é disputado por candidatos por ter um alto comparecimento às urnas; idosos preferem Romney, diz pesquisa

PATRÍCIA CAMPOS MELLO ENVIADA ESPECIAL A THE VILLAGES, FLÓRIDA

A "Disneylândia dos velhinhos", como a cidade de The Villages é conhecida pelos moradores, está em pé de guerra. Na maior comunidade de aposentados do mundo, republicanos e democratas estão em conflito aberto.

"Os republicanos tentam nos intimidar. São como adolescentes fazendo bullying, só que têm 75 anos", diz a democrata Patricia Adams, 65.

Democratas que colam adesivos da chapa Obama-Biden têm seus carrinhos de golfe riscados e são xingados na rua. Quando há feirinha na praça, pessoas se aproximam da barraca dos democratas e começam a gritar impropérios e dizer que Obama é muçulmano, socialista e nasceu no Quênia.

"Minha mulher já foi chamada de 'vaca' comunista", conta AJ Adams, 64, marido de Patricia.

Em The Villages vivem 65 mil pessoas, todas com mais de 55 anos. Os republicanos dominam: são dois para cada democrata. E quem é democrata tem medo de "sair do armário", porque se arrisca a ser hostilizado.

Outro dia, o piloto aposentado Adams foi a uma unidade da livraria Barnes & Noble comprar um livro do economista de esquerda e Prêmio Nobel Paul Krugman, "A Consciência de um Liberal".

"O vendedor teve a desfaçatez de dizer: não sabia que os liberais tinham consciência", conta. "Nunca mais fui lá. Agora só compro meus livros pela Amazon."

No Brasil, liberal é quem acredita na iniciativa privada e repele a ação do governo. Nos EUA é o contrário: os liberais são de esquerda e acham que o Estado deve fazer assistência social.

GOLFE E BOCHA

A maioria dos moradores da cidade são aposentados da Costa Leste e do Meio-Oeste, que compram casas de US$ 200 mil a US$ 1 milhão.

Com uma taxa de US$ 139 por mês, podem jogar golfe em um dos 39 campos, praticar tênis, bocha, usar as piscinas, participar dos cursos de cerâmica, baralho, dança, e dos eventos para solteiros -The Villages é ímã de viúvas em busca de casamento.

Em 2008, o republicano John McCain teve 65,6% dos votos dos idosos da cidade, ante 33,5% para Obama.

Trata-se de um eleitorado cobiçado: os idosos votam muito mais. A taxa de comparecimento é de 88%, muito maior do que a média nacional entre idosos, de 72%, e quase o dobro da taxa de comparecimento entre jovens de 18 a 24 anos, de 49%.

Na mais recente pesquisa do Pew Research com eleitores com mais de 65 anos, 57% afirmam pretender votar em Romney, e 38%, em Obama.

The Villages é parada obrigatória para as celebridades conservadoras dos EUA. O candidato republicano Mitt Romney esteve lá quatro vezes nesta campanha, e seu vice Paul Ryan, uma. Ídolos da direita como Sarah Palin, Dick Cheney e o ex-presidente George W. Bush estiveram na Barnes & Noble da cidade para autografar seus livros.

"A estrada para a Casa Branca passa pela Flórida, e a estrada para a Flórida passa por The Villages", diz Rich Cole, presidente de um dos clubes republicanos e do partido no Condado de Sumter, parte de The Villages.

NÃO FUI CONVIDADO

"É um lugar ótimo para morar, desde que você seja conservador", diz a aposentada brasileira Heloisa Scholl, 70, casada há 37 anos com o americano Phil, 68, que é veterinário aposentado.

"Nós paramos de frequentar amigos republicanos após algumas experiências péssimas de bate-boca durante o jantar; os ânimos estão muito exaltados nesta eleição."

Karl Lattig, 72, estava sentado na frente do local de votação (muitos votavam anteciadamente). "Estamos em guerra aqui em The Villages."

"Conheço alguns liberais, mas nunca conseguiria ser amigo de alguém de esquerda. É impossível. Obama está adotando políticas socialistas, metade de seu gabinete é de comunistas de carteirinha", seguiu Lattig.

"Romney claramente vai vencer na Flórida; não podemos continuar nos transformando na Grécia, com essa enorme dívida e o desemprego que temos", diz o republicano Cole. "Os democratas aqui estão amargos e ressentidos, mas não podemos fazer nada. Isto é terra de republicanos, somos a maioria."


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