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Crítica história

Sobrevivente relembra um lado pouco conhecido de Auschwitz

MÁRCIO SELIGMANN-SILVA ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao se perguntar qual seria, na paisagem de sua infância, a experiência mais bonita, Otto Dov Kulka não tem dúvidas: aviões cruzando um céu "azul e lindo, e lá longe, lá longe naquele dia claro de verão, montes azuis distantes como se não fossem deste mundo." E arremata: "Esse era a Auschwitz daquele menino de 11 anos".

Kulka conheceu uma Auschwitz que poucas vezes foi representada. Ele fez parte do grupo de famílias que foram mantidas em um raro bloco onde as crianças podiam desenhar, fazer teatro e até cantar. Isso a apenas poucos metros da câmara de gás.

Esse bloco deveria servir de disfarce em caso de uma visita da Cruz Vermelha. Mas todas essas famílias também foram executadas, em 1944. Por estar doente, na enfermaria, Kulka sobreviveu.

Ele manteve essas recordações como algo privado. Apenas em seus diários ele tratava dessa criança que habitara a "metrópole da morte".

A jornada de elaboração desse passado traumático atravessou toda a sua vida. Kulka emigrou para Israel, tornou-se um renomado historiador, especializado no nazismo e na Segunda Guerra, mas nunca misturou, de modo consciente ao menos, seu segredo e sua profissão.

Foram outras visitas a Auschwitz, sobretudo uma em 1978, que desencadearam um processo, longo e tortuoso, que o levou à escrita deste contundente "Paisagens da Metrópole da Morte".

O subtítulo desse livro descreve-o com precisão: "Reflexões sobre a Memória e a Imaginação". Ele concentra, em um estilo único, quase seco, sete décadas daquela (não-)experiência. É uma das obras mais bem elaboradas sobre os campos de extermínio.

O livro é constituído por dez capítulos que são transcrições de gravações de memórias. Outros três trazem partes de seus diários que, como os Kafka, são "noitários", relatos de sonhos, nos quais sempre "retorna" àquela metrópole da qual o Otto de 11 anos nunca conseguiu sair.


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