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Crítica

Documentário perde relevância por falta de tom crítico à obra

FABIO CYPRIANO CRÍTICO DA FOLHA

O pernambucano Francisco Brennand conseguiu realizar o sonho de grande parte dos criadores: ter independência financeira para dedicar-se à sua obra e construí-la do jeito que bem entendesse.

É assim que pode ser visto o impressionante conjunto de esculturas e obras em cerâmica que ocupam uma antiga olaria de sua família, que ele passou a restaurar em 1971.

Lá, com obras organizadas numa estrutura algo próxima às formas orgânicas do espanhol Antoni Gaudí (1852-1926), cuja obra conheceu nos anos 1950, Brennand ergueu um dos maiores "site specifics" (obras criadas para lugares específicos) no país.

As esculturas delirantes chegaram a levá-lo a representar o Brasil na Bienal de Veneza, em 1990, e os anos em torno dessa data representam seu período de maior reconhecimento no circuito artístico. Hoje, porém, quase não é visto em mostras importantes.

Talvez, a ausência de limites, graças justamente à sua independência, acabe sendo o motivo de seu confinamento na velha olaria, que abriga até um espaço expositivo, a "Accademia", aberta em 2003.

Sem precisar vender, sem sequer precisar expor fora de seu território, Brennand não dialoga com a cena artística, e sua obra parece confinada à leitura que ele mesmo impõe, entre o artesanal e o exótico.

O documentário "Francisco Brennand", dirigido por Mariana Brennand Fortes, reforça a ideia. Construído por meio de fragmentos do diário do artista, narrado, contudo, pela voz da atriz Hermila Guedes, o filme não busca uma abordagem crítica da obra, mas segue na construção mítica que ele mesmo vem dando ao seu trabalho, como uma artista moderno fora de sua época.

Mas o mais grave é que o filme abre demasiado espaço às pinturas de Brennand, a parte menos importante de sua obra, já que muito menos consistente que seu trabalho em cerâmica, esse sim original.

Nesse sentido, o documentário poderia ter um pouco de distanciamento, deixando de colar-se de forma tão inquestionável ao discurso do artista. O monumental e enigmático conjunto de cerâmicas parece melhor sem "Francisco Brennand", um documentário piegas.


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