Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mundo

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Análise

Oriente Médio vive possível nascimento de 'Jihadistão'

Dá a impressão de que o Eiil quer reproduzir a ocupação do Afeganistão pelo Taleban

CLÓVIS ROSSI COLUNISTA DA FOLHA

Já há especialistas que chamam de "Jihadistão" a província iraquiana de Al Anbar, epicentro de uma "guerra santa" conduzida pelo EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), uma das franquias da Al Qaeda.

O neologismo se deve principalmente ao fato de que não se trata, agora, da tática convencional dos "jihadistas" que é praticar atentados e fugir em seguida para santuários fora do alcance do governo. O que estão fazendo é ocupar territórios --e não um território convencional: Mossul é uma cidade antiga, de grande valor simbólico.

Mais, como escreve Bruce Riedel, diretor do Projeto Inteligência do instituto Brookings: "O EIIL está, na prática, criando um baluarte através do deserto sírio, no coração do mundo árabe, borrando as fronteiras estabelecidas faz um século por britânicos e franceses, depois da queda do Império Otomano".

É uma alusão ao fato de que os "jihadistas" ocuparam não apenas uma parcela importante da província iraquiana de Anbar mas também da província síria de Raqqa. Dá a impressão de que o EIIL quer reproduzir a ocupação do Afeganistão pelo Taleban, mas em uma área muito mais central no mundo árabe-muçulmano.

Esse suposto ou real objetivo torna menos relevante a divisão sectária no Iraque. O governo do primeiro-ministro Nuri al Malik (xiita) marginalizou a minoria sunita, que governava com Saddam Hussein até a sua deposição pelos Estados Unidos.

Como o EIIL é sunita, a primeira impressão era (ou ainda é) a de que a ofensiva do grupo era uma revanche contra os xiitas.

Se essa impressão corresponder aos fatos, a crise poderia ser resolvida ou, ao menos, atenuada com uma política de inclusão dos sunitas nas estruturas governamentais iraquianas.

"Maliki deve decidir se oferece participação real no poder à desencantada minoria sunita ou se continua com a política de marginalização e repressão", diz a "El País" Ihsan al Shamari, da Universidade de Bagdá.

O problema fica muito mais complexo, no entanto, se Abu Bakr al-Baghdadi, líder do EIIL, pretender de fato dar concretude ao nome de seu grupo e criar um Estado nas áreas que ocupou.

Nesse caso, "só boa, sustentada e eficiente governança pode eliminar o grupo --e boa governança é algo que o Iraque pós-Saddam não pôde produzir, com ou sem os Estados Unidos", diz Riedel.

Se é assim, "Jihadistão" pode ser uma expressão que veio para ficar.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página