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New York Times

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Produção de uísque escocês é dominada por estrangeiros

Por STEPHEN CASTLE

BALLINDALLOCH, Escócia - O uísque de malte vendido por George S. Grant é feito à sombra da montanha Ben Rinnes. A produção acontece no mesmo lugar há cinco gerações. Em 1865, a família de Grant comprou uma destilaria no local por 511 libras (cerca de 40 mil libras esterlinas hoje).

Atualmente, o malte dessa família é produzido em uma fábrica automatizada e exportado para os EUA, Taiwan e outros países. Mas o lucro do negócio volta para o vale do rio Spey, no coração do território do uísque escocês. Esse dinheiro repatriado é o que torna a destilaria Glenfarclas uma raridade.

"Em um raio de 30 quilômetros de onde estamos agora, há 35 destilarias", disse Grant, diretor de vendas da Glenfarclas. Mas somente um punhado das operações nesse raio de 30 quilômetros continua em mãos escocesas. As demais são propriedade de grandes multinacionais -principalmente a Diageo, baseada em Londres, e a companhia francesa Pernod Ricard-, que embolsam os lucros e contratam muitos de seus funcionários em outros lugares.

Apesar de Grant, 36, dizer que sua relação com os grandes atores não escoceses é boa -eles compram parte da produção da Glenfarclas para seus uísques misturados, afinal- ele comenta que o que diferencia a empresa de sua família é seu lugar na comunidade e o fato de que "estamos aqui desde sempre".

Para ser vendido como uísque escocês, a bebida deve ser produzida na Escócia. O resto do negócio pode estar em outro lugar, o que muitas vezes acontece. Empresas não escocesas controlam cerca de quatro quintos do mercado global de uísque, de 4,2 bilhões de libras, ou US$ 6,5 bilhões, que está sendo impelido pelo crescimento dos mercados emergentes. Os EUA ainda são o maior mercado de exportação por valor, com 600 milhões de libras no ano passado.

Mas as exportações de uísque para o Brasil cresceram 48% no ano passado, para Taiwan 45% e para a Venezuela 33%, segundo a Associação do Uísque Escocês.

John Kay, economista e ex-assessor do governo escocês, diz que pouco do dinheiro dessas exportações acaba na economia escocesa. Ele propôs uma "taxa de garrafa" de 1 libra de toda a produção escocesa, a ser paga pelas destilarias. O valor desse imposto é difícil de prever, mas a associação diz que cerca de 1,3 bilhão de garrafas foram exportadas em 2012, representando aproximadamente 95% da produção total.

Grande parte do lucro da produção de uísque vai para governos que impõem tarifas onde ele é vendido. "Muito dinheiro está sendo ganho com esse produto por governos estrangeiros e companhias estrangeiras", disse Kay.

Com um plebiscito marcado para o próximo ano sobre a independência da Escócia, essa questão provocou um novo debate sobre os ativos econômicos do país.

O uísque sustenta cerca de 10 mil empregos na Escócia e 36 mil em toda a economia britânica. Mas as destilarias não são grandes empregadoras. As mais modernas tendem a contratar apenas uma dúzia de pessoas.

Patrick Harvie, membro do Parlamento escocês, disse: "É bom ver os outros começarem a questionar os benefícios para a Escócia de permitir que nossos ativos nacionais sejam controlados por corporações globais".

Harvie traçou um paralelo com o debate sobre a responsabilidade fiscal de empresas, que usam sua posição de multinacionais para reduzir as contas fiscais. A Diageo diz que paga cerca de 18% de impostos sobre seus lucros, em média, mas não diz onde esses impostos são pagos.

Grandes companhias, como Diageo e Chivas Brothers, ficam felizes em exibir seus investimentos em Speyside e afirmam que as consequências econômicas são sentidas além das folhas de pagamento das destilarias.

A Diageo aponta amplos benefícios econômicos: para os agricultores que fornecem a cevada, para empresas locais que ajudam a equipar e a manter a fábrica e para pequenas empresas que se beneficiam das dezenas de milhares de turistas que visitam destilarias da região todos os anos.

Para a Glenfarclas, que produz cerca de 3,5 milhões de litros da bebida por ano, Grant disse que as grandes multinacionais são, ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição. Elas usam seu tamanho para fazer acordos com fornecedores e vendedores, reduzindo custos e dominando as prateleiras dos supermercados britânicos.

Porém, elas também ajudaram a abrir novos mercados de exportação, promovendo o uísque para uma geração mais jovem de apreciadores na Ásia e na América Latina e permitindo que destilarias menores capitalizem um êxito que jamais poderiam ter gerado por conta própria.

Até agora, nadar agilmente com os peixes grandes permitiu que a Glenfarclas permanecesse uma empresa familiar. Apesar das ofertas tentadoras de multinacionais, segundo Grant, a destilaria não está à venda.


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