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Opinião

Aaron Swartz se foi, mas suas causas permanecem vivas

Quem conheceu o ativista se sente responsável por preservar seu legado

Conheci aaron quando ele tinha 15 anos, em harvard. já Falava com fluência sobre política, direitos autorais e programação

RONALDO LEMOS COLUNISTA DA FOLHA

Conheci Aaron Swartz em uma reunião acadêmica na Universidade Harvard, quando ele tinha 15 anos. Achei que fosse o filho de algum palestrante. Logo vi que ele estava ali por suas ideias.

Falava com fluência sobre política, programação e direitos autorais. Temas que permearam sua vida, encerrada tragicamente no último dia 11, aos 26 anos, quando ele se enforcou em seu apartamento em Nova York.

Em 2009 Aaron veio ao Brasil. Foi a Belém e, no Rio, ficou hospedado na minha casa. Como muitos da sua geração, ficava conectado o tempo todo.

Aos 14 anos, ele atuou no desenvolvimento do padrão RSS, que gera "feeds" em redes sociais e sites de notícia. Pouco depois ganhou dinheiro com a rede. Criou uma empresa comprada pelo Reddit, influente site colaborativo, hoje do grupo Condé Nast.

Como outros gênios precoces, perambulava pelo circuito acadêmico dos EUA, mas não fazia parte dele formalmente. Não fez universidade. Quando esteve no Brasil, ele me concedeu uma entrevista. Perguntei como uma criança podia ter feito tanta coisa, e se ele se via diferente de outros garotos.

Ele respondeu: "Não acho que eu seja mais inteligente do que qualquer outro garoto. Com certeza não trabalho mais duro do que ninguém. Só trabalho em coisas que acho divertidas".

"O que eu sempre tive foi curiosidade. Toda criança tem uma curiosidade enorme. A questão é que a escola absorve essa curiosidade, em vez de deixar as crianças explorarem por conta própria. Quem tenta fazer algo diferente acaba tendo problemas. A curiosidade de poucas pessoas sobrevive a isso."

O blog de Aaron (aaronsw.com) é testemunha dessa curiosidade. Há artigos sobre política, história do pensamento, resenhas de livros, textos sobre tecnologia, cinema e humor. Aaron foi ativista em três causas importantes. Uma é a reforma do sistema político americano -via a tecnologia como chance de gerar mais transparência e diminuir a corrupção. Trabalhou com o professor Lawrence Lessig no Centro de Ética em Harvard sobre isso.

O SUPOSTO "CRIME"

Defendia também ampliar o acesso a informações governamentais e científicas. Por isso, foi um dia até o MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, e lá deixou seu computador baixando mais de 4 milhões de documentos do sistema de arquivamento de jornais acadêmicos JSTOR.

Esse foi seu suposto "crime". Aaron nunca colocou os jornais acadêmicos baixados na internet. O próprio JSTOR não o processou, dizendo que ninguém sofreu qualquer prejuízo. No entanto, a procuradora dos EUA Carmen Ortiz decidiu processar Aaron até as últimas consequências.

Pediu que ele fosse condenado a mais de 30 anos de prisão. Rejeitou todas as defesas. Jogou o peso persecutório do governo dos EUA em cima de um garoto que se locomovia de bicicleta.

Isso exauriu seus recursos financeiros e suas forças. Como patriota que era, ser processado pelo mesmo sistema que ele buscava aperfeiçoar compõe a tragédia.

A procuradora Ortiz está agora sob pressão para responder por tamanha desproporcionalidade. Ela tinha interesse em se candidatar ao governo do Estado de Massachusetts, e os holofotes do caso a ajudariam.

Um senador dos EUA propôs a "Lei Aaron Swartz", que muda os crimes digitais dos EUA, dificultando que uma tragédia similar se repita.

As causas de Aaron Swartz permanecem vivas. Sua namorada e família trabalham para preservar sua memória.

Quem o conheceu sente-se responsável por preservar seu legado. Que sua história seja lembrada por muitos jovens do futuro.


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