Excesso de felicidade deixa filme 'Me Chame pelo Seu Nome' monótono

Crédito: Divulgação Cena do filme 'Me Chame pelo Seu Nome
Cena do filme 'Me Chame pelo Seu Nome'

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

ME CHAME PELO SEU NOME * *
(CALL ME BY YOUR NAME)
DIREÇÃO: Luca Guadagnino
PRODUÇÃO: Itália/ França/ Brasil/ EUA, 2017
ELENCO: Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg
QUANDO: estreia nesta quinta (18)
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
Veja salas e horários de exibição.

Primeiro as boas notícias: talvez a melhor é que de novo podemos ver a luz da Itália no cinema, coisa rara hoje em dia. Mas não é de segunda ordem esse fenômeno recente que é o fato de relações afetivas entre pessoas do mesmo sexo terem começado a ser bem filmadas.

Em "Me Chame pelo Seu Nome", o centro da trama é a ligação entre o jovem Elio e o americano Oliver. São os afetos que o filme mobiliza, antes de mobilizar a sexualidade. De maneira que, quando o faz, não é uma coisa de degenerados, mas de duas pessoas que se encontram. E isso é feito sem grandes pudores, o que não deixa de ser um mérito.

Agora as más notícias: não é por acaso que os contos de fada acabam com um "foram felizes para sempre", assim que o príncipe encontra a princesa. A felicidade é uma coisa chata, vale para o "boy meets girl" assim como para o "boy meets boy". Ou então se faz como Von Stroheim: é depois do casamento que as coisas importam de verdade (quando os rolos acontecem, o caráter se revela etc.).

O filme dirigido por Luca Guadagnino sofre de monotonia por excesso de felicidade, de não se aprofundar nas personagens, mas nunca da excessiva languidez que certos filmes românticos costumam se permitir.

Por fim, as notícias médias: trata-se de um roteiro de James Ivory, aparentemente o real mentor do filme, portanto pode-se esperar um jogo de atração e repulsão bastante prolongado e não desprovido de sensibilidade.
Um pouco da história: numa vila italiana, um professor (o pai de Elio) recebe o americano Oliver para um período de estudos, durante as férias de verão de 1983.

O americano é o que há: alto, bonitão, culto, inteligente, bom dançarino, simpático. Elio o observa de esguelha por vários motivos. Aos poucos, os dois se aproximam. Elio deixa para trás inclusive uma jovem francesa nada desinteressante. Há um tanto de descoberta aí.

Por fim, esse longa tem o dom de nos remeter (acredito que aconteça com outras pessoas) a outros filmes. Os longos passeios de bicicleta dos dois rapazes, por exemplo, fazem lembrar bastante o belíssimo "And Soon the Darkness", de Robert Fuest (1970), nas cenas em que as duas garotas inglesas pedalam pelo interior da França. Há a paisagem, o estranhamento, o fascínio da luz, a sensação de perigo iminente.

Já o pai de Elio lembra, é quase obrigatório, o Robin Williams de alguns filmes, sempre fazendo aquela cara de quem entendeu e compreende tudo, antes mesmo que as coisas tenham acontecido ou sido ditas.
Entre altos e baixos, uma produção cujas virtudes, inegáveis, deixam-se envolver pelas fragilidades, não menos evidentes.

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