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Editora muda capa de livro de Judith Butler após grupo religioso exigir recolhimento

OUTRO LADO: Casa Publicadora Brasileira afirma que ação foi movida apenas por questões de direito autoral e marca registrada

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São Paulo

A edição brasileira do livro "Quem Tem Medo do Gênero?", da filósofa americana Judith Butler, precisou modificar sua capa fazer outra impressão, do zero, para poder voltar às livrarias. A imagem de um protesto, no Brasil, contra a pensadora foi substituída por um fundo totalmente preto.

A Justiça pediu o recolhimento imediato de todos os exemplares do estoque da editora Boitempo e das livrarias há cerca de dois meses, após disputa judicial movida pela editora Casa Publicadora Brasileira, vinculado à Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Procurada pela Folha, a entidade reiterou o posicionamento que enviou à reportagem na semana passada por meio de sua assessoria de imprensa, em que afirma que a ação foi movida unicamente por questões relacionadas a direito autoral e uso de marca registrada.

Capa de edição brasileira de 'Quem Tem Medo do Gênero', de Judith Butler, antes e depois de ação movida por editora ligada a Igreja Adventista

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Após decisão judicial, editora Boitempo optou por capa com fundo totalmente preto - Divulgação

"O processo está sendo conduzido em segredo de justiça, conforme determinação judicial. Qualquer informação além disso poderá comprometer o sigilo das informações", disse a Casa Publicadora Brasileira por meio de nota. "A editora solicita a compreensão de todos os envolvidos e da mídia para que se respeite essa condição legal durante o andamento do caso."

Originalmente, a capa interna da versão brasileira de "Quem Tem Medo do Gênero?" trazia uma foto, com cores removidas, do cartaz em uma manifestação contrária a Butler, feita em uma de suas vindas ao Brasil e devidamente creditada, com direitos de uso livres.

A Boitempo recorreu da decisão, mas até a publicação desta reportagem não havia conseguido a reversão da decisão que exigiu o recolhimento.

No cartaz, aparecem duas ilustrações de crianças. Uma delas é Quico, personagem relativamente desconhecido e que é propriedade da Casa Publicadora Brasileira. Ele aparece em livros e outros produtos atualmente à venda no site do selo.

"A editora [Casa Publicadora Brasileira], de fato detentora da marca, poderia ter entrado em contato conosco pedindo a retirada do personagem da capa (pois era absolutamente desnecessário, cabe dizer), o que teríamos atendido de pronto. Preferiu, no entanto, uma ação judicial", escreveu a Boitempo em seu blog oficial. "Não é a primeira vez que tentam calar Butler em nosso país. Seu livro foi escrito justamente após os violentos ataques que a filósofa recebeu naquela sua última visita ao Brasil, em 2017."

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