Aos 80 anos, Renato Borghi e Miriam Mehler vivem Romeu e Julieta

Crédito: Lenise Pinheiro/Folhapress Lélia Abramo, Cacilda Becker, Walmor Chagas, Jô Soares, Benjamin Cattan e Nilda Maria na peça "Oscar", de Claude Magnier, direção de Cacilda Becker, em 1961
Miriam Mehler e Renato Borghi durante ensaio da peça "Romeu e Julieta 80"

MARIA LUÍSA BARSANELLI
DE SÃO PAULO

Já havia uma admiração, desde os anos 1950. "Eu era fã dela", lembra o ator Renato Borghi sobre a colega Miriam Mehler. Os dois começaram no teatro quase juntos. Ele, em 1957. Ela cerca de um ano antes, ainda em produções não profissionais.

No palco, a admiração e amizade de seis décadas se transformaram em paixão. São os atores que protagonizam "Romeu e Julieta 80", que estreia nesta quinta-feira (18) em São Paulo. Borghi, 80, e Mehler, 82, vivem os enamorados ainda jovens.

A versão da tragédia shakespeariana, adaptada e dirigida por Marcelo Lazzaratto, também nasceu antes, há aproximadamente dez anos –quando a peça se chamaria "Romeu e Julieta 70".

A ideia era juntar os veteranos, amigos de longa data, para celebrar a história dos atores e do teatro. E também, de certo modo, analisar o que significa o amor e a paixão em diferentes idades.

"Um casal de 80 anos fazendo Romeu e Julieta, que têm apenas 14 e 15, leva uma força para a convenção simbólica", afirma Lazzaratto.

"Acho que em tempos tão literais, como esses em que a gente está vivendo, em que muitas pessoas têm dificuldade de estabelecer relação com o simbólico, essa convenção é muito necessária."

RIVAIS

Apesar da inversão simbólica, a história –escrita por William Shakespeare no final do século 16, baseado na obra do poeta inglês Arthur Brooke– está quase toda ali: filhos de famílias rivais da cidade de Verona, os jovens Romeu Montecchio e Julieta Capuleto se encontram num baile de mascarados e acabam se apaixonando.

Por seu amor proibido, casam-se em segredo, mas a rixa entre os Montecchio e os Capuleto coloca mais obstáculos na relação dos dois.

Borghi e Mehler dividem a cena com Carol Fabri e Elcio Nogueira Seixas, que se revezam nos demais papéis da trama. Com um figurino neutro, cinza e composto de algumas camadas de pano, transformam-se nesse ou naquele personagem, mudando o tom de voz e os gestos.

'ENSAIO'

O cenário remete em parte a uma sala de ensaio, com uma grande mesa sobre o palco –como as mesas de leitura feitas no início de ensaios de peças. Ao fundo, uma tapeçaria de fios grossos entramados, quase inacabada. Uma alusão tanto à época shakespeariana quanto à emaranhada trama do espetáculo.

Crédito: Lenise Pinheiro/Folhapress Lélia Abramo, Cacilda Becker, Walmor Chagas, Jô Soares, Benjamin Cattan e Nilda Maria na peça "Oscar", de Claude Magnier, direção de Cacilda Becker, em 1961
Renato Borghi, Elcio Nogueira Seixas, Miriam Mehler e Carol Fabri em "Romeu e Julieta 80"

Aqui, Romeu e Julieta surgem com a feição mais velha, mas com o espírito juvenil. Os personagens se apoiam na cumplicidade dos dois atores, que dividem a cena em espetáculos desde os anos 1960. "Uma confiança", como define Borghi, ou "uma coisa íntima", segundo Mehler.

"Nos interessava esse casal de 80 anos e 60 de história do teatro", explica Lazzaratto. "E que foi um par romântico lá em 'Andorra', em 1964 [em montagem do Teatro Oficina para o texto de Max Frisch]. Acho que tudo isso consagra a questão da teatralidade."

ROMEU E JULIETA 80
QUANDO estreia qui. (18), às 21h; temporada: sex. e sáb., às 21h, dom. e feriados, às 18h; até 18/2
ONDE Sesc Ipiranga - teatro, r. Bom Pastor, 822, tel. (11) 3340-2000
QUANTO R$ 9 a R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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