"Taurina é o feminino do signo de touro. Para quem odeia astrologia, ótimo! Não é sobre isso. Para quem ama, maravilha. É sobre isso também", explica a cantora e compositora paulistana Anelis Assumpção, 37, sobre o nome de seu terceiro álbum, "Taurina", que é lançado nas plataformas digitais nesta sexta-feira (16).
Para além da noção astrológica, como o conhecido signo dos teimosos e gulosos, o nome do álbum também induz à reflexão sobre as comparações entre a mulher e a vaca. "Taurina é uma vaca. Uma mulher que rumina em quatro estômagos os anseios todos da vida. Os prazeres e belezas, as sensações, os cheiros, as lembranças e os desejos. E depois, regurgita para o mundo", explica.
Se fosse um filme, "Taurina" seria ambientado em uma cozinha. Do preparo do alimento até a hora de comer, o disco vai salpicando ingredientes em suas letras, como sal, pimenta e azeite, além de referências como a feira, espaço retratado na canção "Segunda a Sexta".
Mas, ressalta, a temática do álbum ultrapassa a comida e explora também as sensações provocadas por ela.
Sucessor de "Sou Suspeita Estou Sujeita Não Sou Santa" (2011) e "Amigos Imaginários" (2014), o novo trabalho é um dos projetos selecionados do Natura Musical de 2017 e foi gravado no Red Bull Studios, no centro de São Paulo.
Com vestido de renda branco, botas marrom e brinco amarelo na orelha esquerda, Anelis recebeu a reportagem da Folha em um dia nublado de setembro para acompanhar o processo de gravação no estúdio.
"Nem musicalmente nem liricamente [o disco] é um rompante com o que eu vinha fazendo", afirma a cantora, que vive um momento mais maduro em sua carreira. "Me sinto mais segura para firmar a minha presença dentro da música brasileira."
"Taurina", no entanto, não deixa de lado as influências de dub, reggae e afrobeat já conhecidas nos trabalhos anteriores de Anelis.
Com produção de Beto Villares, coprodução de Zé Nigro e direção-geral da própria cantora, o álbum reúne parcerias com amigos da artista, como Ava Rocha ("Mortal à Toa"), Rodrigo Campos ("Água") e a dupla Russo Passapusso e Saulo Duarte, em "Amor de Vidro".
Também aparecem no disco Liniker Barros, Tulipa Ruiz, Thalma de Freitas e Céu, ora emprestando os vocais, ora a partir de áudios de conversas de WhatsApp trocadas com a intérprete. "São poemas da rotina para leve e curiosa interpretação. Uma lente de aumento levemente passada entre o público e o privado."
Sem citar uma "referência proposital", ela diz que acaba sendo influenciada por artistas que são contemporâneos de seu momento, uma vez que "compactuam os mesmos assuntos e formas".
O trabalho carrega ainda um tempero familiar. Com canções de seu pai, Itamar Assumpção (1949-2003), e de sua irmã, Serena Assumpção (1977-2016), para quem o álbum é dedicado.
Cantora e produtora musical, Serena morreu aos 39 anos, vítima de câncer. Na canção "Gosto Serena" —um dos pontos altos do disco—, Anelis lembra "que susto foi te perder" e conta da "saudade que desgasta a palavra".
Itamar faz sua participação com "Receita Rápida", single que serviu como aperitivo de "Taurina" —foi lançado em outubro de 2017. Nunca gravada pelo músico, a comp osição ficou conhecida na voz de Alzira Espíndola.
Ela admite que no começo da carreira sentia uma pressão por ser filha de Itamar. "Isso mudou a partir do momento em que eu também me senti capaz e entendi que sou outra pessoa. Eu nunca vou ser ele, nunca vou cantar como ele ou escrever como ele. Essa não é a minha proposta", afirma.
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