Descrição de chapéu humor

Era do humor ácido revive no filme 'Fútil e Inútil'

Longa narra trajetória de Doug Kenney, fundador da revista de humor 'National Lampoon'

André Barcinski
São Paulo
A partir da esq., Matt Lucas (de terno), Neil Casey, Thomas Lennon, Domhnall Gleeson, Elvy Yost, Will Forte, Natasha Lyonne (os dois de costas não estão identificados) em cena de "Fútil e Inútil" (2018), da Netflix
Cena de ‘Fútil e Inútil’, filme que conta a trajetória de Doug Kenney (Will Forte, na foto de camiseta listrada e cabelo longo) - Divulgação

Doug  Kenney (1946-1980) teve uma carreira breve. Sorte que foi nos anos 1970, quando a correção política ainda era um pesadelo distante, e espíritos anárquicos como o dele tinham espaço para criar.

Em 1970, Kenney e dois colegas da Universidade Harvard fundaram a revista "National Lampoon", que revolucionou o humor americano com textos ácidos, humor negro e um desrespeito absoluto pelo "establishment".

Uma de suas capas mais famosas trouxe um cachorro fofinho sob a mira de um revólver, e o título: "Se você não comprar essa revista, mataremos esse cão!".

A "National Lampoon" surgiu em meio à Guerra do Vietnã, a conflitos sociais intensos e a uma crescente desconfiança em governos e políticos, que atingiu o ápice com o escândalo de Watergate.

A revista captou o espírito de rebeldia e escracho que se espalhava por universidades e escolas americanas, tornando-se um imenso sucesso com o público mais jovem.

(A "Lampoon" não estava sozinha: a revista "Mad", outra bíblia da sátira social e política, teve seus melhores resultados de venda em meados dos anos 1970).

Diferentemente da "Mad", a "National Lampoon" não teve uma versão em português, o que tornou a revista pouco conhecida por aqui.

Mas o público brasileiro conheceu o trabalho de Kenney na comédia "Clube dos Cafajestes", que ele escreveu em 1978, com Harold Ramis e Chris Miller.

Uma boa chance de saber mais sobre a vida e obra de Doug Kenney é o filme "Fútil e Inútil", que estreou recentemente na Netflix, em que Kenney é interpretado pelo ator cômico Will Forte (ex-integrante do programa de TV "Saturday Night Live").

Se o filme peca em aspectos de estrutura narrativa (a vida de Kenney é contada aos pulos e, por vezes, de maneira um tanto desleixada), a história é tão boa e cheia de personagens interessantes, que o resultado final é divertido, especialmente para quem se interessa pela história da comédia americana dos últimos 50 anos.

"Fútil e Inútil" mostra como Kenney reuniu, em torno da "National Lampoon", jovens atores e roteiristas que mais tarde se tornariam famosos em TV e cinema.

Por exemplo, para um programa de rádio produzido pela equipe da revista, contratou atores novatos como John Belushi, Chevy Chase, Bill Murray e Gilda Radner, que fariam parte dos primeiros elencos do "Saturday Night Live", em 1975.

Mas foi com "Clube dos Cafajestes" que Kenney realmente deixou sua marca.

Inspirada por memórias de seus dias de bebedeiras e farras universitárias, a comédia (dirigida por John Landis, então com 27 anos, que depois faria vários filmes com Eddie Murphy e o clipe de "Thriller", de Michael Jackson), foi a comédia mais rentável da história de Hollywood até 1984, quando foi batida por "Os Caça-Fantasmas".

Pena que Doug Kenney não segurou a onda do sucesso.

Ficou rico, cheirou todas, e morreu aos 33 anos, ao cair (ou se atirar, ninguém sabe) de um mirante no Havaí.

O ator Harold Ramis perdeu o amigo, mas não perdeu a piada: "Doug provavelmente caiu enquanto procurava um lugar de onde pular".


NA INTERNET

Fútil e Inútil

QUANDO disponível na Netflix.

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